A McLaren enfrenta o abismo
Equipe consagrada como uma das melhores de todos os tempos, vive épocas de incerteza, fracasso e humildade.
A McLaren sempre despontou como uma das mais organizadas e bem sucedidas equipes de Fórmula 1. Em tempos bicudos, a pompa, o prestígio e a confiança de antes se transformam em simplicidade, declínio e desconfiança. É difícil prever o futuro da equipe, grandes esforços foram feitos, mas todos mostraram-se ineficazes, difícil é avaliar por qual motivo.
A equipe teve os motores Peugeot, que prometiam, e cumpriram, a missão de ser um dos mais velozes da Fórmula 1. Mas numa atitude inesperada a McLaren o abandou e arcou, inclusive, com multas pesadas pela recisão do contrato. Ele foi substituído pelo também promissor Mercedes, que a acompanha até hoje. A simples troca não foi a garantia do sucesso, a equipe amargou maus resultados nesse período e vem lutando para encontrar um fio que a conduza, novamente, ao caminho do desenvolvimento sustentado. A cada ano progressos são feitos, mas a capacidade de ordená-los, de tal forma que possa progredir em todos os aspectos, não se mostra eficaz. O conjunto não progride. Até mesmo o Leão, Nigel Mansell, que viria para aguçar os ânimos e suprir a falta de um grande campeão, foi contratado e em seguida dispensado. Parece que urubus sobrevoaram a McLaren.
Desde a saída de Ayrton Senna, em dezembro de 1993, que a equipe não vence uma corrida. Já no início de 1993, Senna alertava que a Williams tinha um bom conjunto e que naquele mesmo ano ele teria muito mais dificuldade para lutar pelo título, uma vez que nos anos anteriores seu maior adversário sempre era o companheiro da própria McLaren. A decadência da McLaren coincide com a saída dos motores Honda e logo em seguida saída de Senna. A Honda, além de oferecer os motores gratuitamente, pagava metade do salário de Senna, sempre um dos maiores da categoria e do mundo dos esportes. Isso dava uma larga vantagem à equipe. A saída dos dois foi muito brusca para que pudessem ser absorvidas.
A McLaren atual que luta para se reestabelecer após os sucessivos desacertos, parece mais madura e serena. Ron Dennis, o manda-chuva do time, está mais reservado e não ousa fazer grandes promessas como em anos anteriores. O novo carro que foi apresentado, em meio a um grande espetáculo, faz o público e a imprensa não se esquecer que, ali, naquele momento, apresentava-se um McLaren, que talvez não venha a ser campeão ou competitivo, mas um McLaren merecedor de respeito e atenção. A tática do silêncio, mostra-se sempre eficiente quando se tem um produto vencedor ou perdedor, a incógnita fica no ar. Talvez Ron Dennis saiba que não tem um grande produto este ano, fruto de uma época incerta, com a saída da Marlboro e dúvidas sobre novos patrocínios, e do último ano em que a Renault promete estar na Fórmula 1. É possível que Ron Dennis, a velha raposa, tenha preparado algo o suficiente para estar presente em 1997, aguardando para que durante esta temporada possa negociar um bom pacote para o ano de 1998, quando a troca de motores vai ser grande, promentendo até a entrada de novas empresas. A temporada de 1998 promete ser totalmente reformulada se realmente acontecer o que se previa em 1996 com o anúncio da saída da Renault.
Uma coisa é fato, além dos problemas técnicos, a McLaren sai perdendo este ano com a saída do antigo patrocinador desde 1974, a Marlboro, com desaparecimento do tradicional vermelho e branco e perde também com a saída do consultor Alain Prost, que, para piorar a situação da McLaren, vem para comandar sua própria equipe, tornando-se mais um rival dela.
Em meio a tanto rebuliço, boatos e dúvidas, ficam as dúvidas e as esperanças por melhores resultados da equipe que, por tanto anos, foi o ícone de identificação brasileira na Fórmula 1. Para nós, brasileiros, é difícil apagar da memória os velozes e competitivos carrinhos vermelho e branco! Vida longa e próspera à McLaren!
Renato Pessanha
ren@centroin.com.br