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homens vivem sem segurança, além de sua própria força"E a vida do homem, solitária, pobre, sórdida, brutal e curta"

Thomas Hobbes

Leviatã (1651), Parte I, capítulo 13

" Tudo, portanto, que advém de um tempo de Guerra, onde cada homem é Inimigo de outro homem, igualmente advém do tempo em que os homens vivem sem outra segurança além do que sua própria força e sua própria astúcia conseguem provê-los. Em tal condição, não há lugar para a Indústria; porque seu fruto é incerto; e, conseqüentemente, nenhuma Cultura da Terra; nenhuma Navegação, nem uso algum das mercadorias que podem ser importadas através do Mar; nenhuma Construção confortável; nada de Instrumentos para mover e remover coisas que requerem muita força; nenhum Conhecimento da face da Terra; nenhuma estimativa de Tempo; nada de Artes; nada de Letras; nenhuma Sociedade; e o que é o pior de tudo, medo contínuo e perigo de morte violenta; e a vida do homem, solitária, pobre, sórdida, brutal e curta."


hobbes.gif (20171 bytes)Freqüentemente esse trecho da principal obra de Thomas Hobbes, é citado corno se ele se referisse à vida de agora ou à vida em geral. Ainda que o Leviatã seja um tanto deprimente, Hobbes não é sinistro desse jeito. Ele está querendo dizer que a vida sem a sociedade civil. seria "solitária, pobre" etc., não que a vida seja realmente assim.

E verdade que a vida no fim da Renascença não era um piquenique, fosse na Inglaterra ou em qualquer lugar. As pessoas se lembram de Shakespeare e Galileu, mas esquecem que os avanços no conhecimento e na navegação também fomentaram o ceticismo e a dúvida. A ciência confortável de Aristóteles transformou-se em ruínas, como também as certezas de uma Igreja Unificada. O Deus que governava o mundo através de reis e rainhas, com seus domínios garantidos por "direito divino", deu lugar a um Deus mais íntimo e pessoal, que falava tanto ao homem comum quanto aos reis.

Os rebeldes ingleses que, nos meados do século dezessete, degolaram o Rei Charles I, não o viam, obviamente, como um mediador de Deus. Embora Hobbes (1588-1679) concordasse que qualquer governo é o resultado de um consenso social, ele também se opunha violentamente a filosofia e às ações antimonarquistas dos rebeldes. Só um governante com poder absoluto, argumentava ele, pode efetivamente refrear os homens das disputas mútuas e da exploração. Por isso o titulo Leviatã, referência a maciça e opressora criatura encontrada na Bíblia. Para estabelecer esta premissa, Hobbes conjura um cenário de vida sem lei.

Hobbes descreve o homem em seu estado natural, como, egoísta, egocêntrico e inseguro. Ele não conhece leis e não tem conceito de justiça; ele somente segue os ditames de suas paixões e desejos temperados com algumas sugestões de sua razão natural

Onde não existe governo ou lei, os homens naturalmente caem em contendas. Desde que os recursos são limitados, ali haverá competição, que leva ao medo, à inveja e a disputa. Os homens também naturalmente buscam a glória, derrubando os outros pelas costas, já que,  de um modo geral, as pessoas são mais ou menos iguais em força e inteligência, nenhuma pessoa ou nenhum grupo pode, com segurança, reter o poder. Assim sendo, o conflito é perpétuo, e "cada homem é inimigo de outro homem".

Nesse estado de guerra nada de bom pode surgir. Enquanto cada um se concentra na autodefesa e na conquista, o trabalho produtivo é impossível. Não existe tranqüilidade para a busca do conhecimento, não existe motivação para construir ou explorar não existe lugar para as artes e letras, não existe espaço para a sociedade só "medo contínuo e perigo de morte violenta". Então a vida do homem nesse estado é, segundo a mais famosa frase de Hobbes, "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta".

Tal visão, que é de conformidade coma desconfiança desespero da época, obviamente dispensa qualquer referência a Deus. Em particular, ela dispensa qualquer referência ao papel de Deus no governo, que Hobbes via como um produto humano. O governo surge quando o homem, impulsionado pela razão, busca urna boa maneira de evitar seu desesperado estado natural de conflito e medo, esperando atingir a paz e a segurança. O homem escolhe reconhecer um poder comum, contanto que seu vizinho faça o mesmo, porque só tal coisa pode manter a ordem. Esse poder, então, tem a obrigação de manter a segurança comum; sua ação é através da lei e sua expressão é força incontestável. Pois à medida que o poder é repartido, o conflito vai surgir.

Por isso Hobbes pensava na monarquia como a melhor forma de governo: só um poder corno o Leviatã, que está acima da lei - e portanto sujeito a nenhuma autoridade maior - pode realmente, e efetivamente, manter uma nação. É claro que os reis vão provocar brigas com outros reis mas, mesmo admitindo isso, Hobbes não advogava um governo mundial centralizado. A seu ver, contanto que as coisas estejam estáveis em casa, é bom que os reis busquem glórias no estrangeiro.

Infelizmente, as idéias de Hobbes virtualmente não fizeram ninguém feliz. Ele era monarquista demais para o pessoal do contrato social e, para os monarquistas, era influenciado demais pelo contrato social; além do mais, seus pontos de vista chocaram muitas pessoas que os consideraram ateístas, embora Hobbes negasse a acusação. O fato é que seu pensamento era complicado e idiossincrático demais para qualquer um engolir facilmente. Contudo, influenciaria a filosofia e a ciência política por gerações. (Spinoza é um dos discípulos notáveis de Hobbes.)

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