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O desenvolvimento da estética"A ciência do belo"INTRODUÇÃOA Estética – a ciência do belo – a arte na vida ou quem sabe, da vida, desdenha o definível, o efêmero. Este trabalho, através dos itens I, II e III, ensaia uma conceituação de estética, analisa arte dor e prazer e arte conteúdo e tempo, respectivamente. A análise é primária e sucinta, considerando a profundidade e abstração do tema. 1–CONCEITUAÇÃOO termo Estética é usualmente empregado com o sentido específico de doutrina do belo e da arte, em todas as suas implicações. O fundador dessa disciplina filosófica, o alemão Alexander Baumgarten (C1714-1762), deu-lhe esse nome lembrando a palavra grega Aisthesis, que significa "estesia", isto é, sensibilidade ou percepção sensível, acepção que ainda si conserva no vocabulário médico (por exemplo, na palavra anestesia, que significa literalmente "ausência de sensibilidade"). A estética busca sentidos e significados para a dimensão da vida na qual o homem experiência a beleza. Dessa forma, a estética é a ciência da beleza. Vivenciando a beleza, experenciamos a estética, ou seja, a experiência do belo que se dá quando admiramos um quadro ou uma música e suspiramos diante de tanta beleza. Assim, a beleza se associa a arte, pela qual a estética efetiva a representação do belo. É a língua da pintura, escultura, música, etc. Portanto, a experiência da beleza vai mais além. Ao adquirirmos um objeto utilitário (uma roupa, sapato ou automóvel), levamos em conta não apenas a utilidade, mas nos preocupamos também com seu estilo, enfatizando ainda mais a beleza. Embora a estética não se limita às formas e medidas que definem o padrão de beleza humano é importante ressaltar que ela é fundamental em nosso cotidiano. "Meu trabalho diz respeito às emoções e ao subliminar. E à comunicação. Isso é universal". Essa declaração de artista do mundo visual Lourise Bourgeois, enfatiza ser aquilo que aos homens agirem na expansão do sentimento. 2–ARTE – Dor e prazer"Tudo tem a ver com a lógica da dor e do prazer". 1 É tenue o fio que separa a felicidade da infelicidade, a ordem do caos, a paz do conflito, a eterna luta entre a razão e a paixão, entre o pensamento e o sentimento, o conflito entre a liberdade e o destino. "É fato indiscutível que o sofrimento e a morte são dados consubstanciais à existência humana, ou seja, ignorá-los é simplesmente falar de alguma coisa que não é vida". 2 A dor, além de ser um sintoma é uma exigência do corpo e da vida — para tomarmos consciência do problema e procurarmos resolvê-los. Se uma dor de cabeça pode ser eliminada com analgésico, para a dor da existência muitas vezes não existem remédios. É diante da dor sem remédios, do problema sem solução, que surge a necessidade do poema e da sinfonia: a arte é, de certo modo uma solução para os problemas sem soluções. Não apenas a dor, mas qualquer outro fator que nos tire do equilíbrio em que nos mantemos na beira do abismo existencial, pode funcionar com impulso a redescoberta da realidade, a sua verdade. Esta redescoberta é que gera a arte. Segundo Platão o conhecimento nasce do espanto. A arte também. "Querer é essencialmente sofrer e, como o viver é querer toda a existência e essencialmente dor". 3 Ao homem, quando na tranqüilidade da rotina pessoal, a experiência simbólica ou fictícia do sofrimento é uma necessidade do ser humano, enquanto vive experimenta a emoção dos dramas humanos sem pagar o preço que se paga na vida real. Registre-se o sucesso de produções teatrais e cinematográficas, como "O fantasma da Ópera" e "Titanic", respectivamente. "No acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza e quem aumenta a ciência, aumenta a dor". 4 A arte nasce quando viver não é suficiente para exprimir a vida. "A vocação do homem, no entanto, é para a felicidade. E a arte é, contraditoriamente, uma afirmação dessa irrenunciável necessidade".5 Já dizia o poeta paraibano Augusto dos Anjos que "a mais alta expressão da dor estética/ consiste essencialmente na alegria". De fato, o próprio Schopenhauer reconhece, quando fala da música, que através dela o compositor consegue superar a vontade (o querer) que implica sempre em sofrimento. A relação entre a dor e a expressão artística deve ser examinada na sua complexidade. Uma obra de arte, mesmo a que mais cruamente expresse o sofrimento humano, não é igual a um grito de dor. Um grito de dor não é arte. Noutras palavras, a dor pode ser matéria prima da arte, em muitos casos — mas a obra mesma resulta da elaboração complexa da emoção e da linguagem estética, visando criar uma totalidade cujo significado transcende a experiência que a motivou. A própria atitude do poeta ou do dramaturgo, quando se dispõe a transformar uma experiência dolorosa em obra de arte, já indica uma superação da dor mesma, tornada objeto de reflexão. Um necessário distanciamento estabeleceu-se entre o homem que sofreu e o seu sofrimento para que tenha sido capaz de transformá-lo numa peça ou num poema. Certamente a experiência existencial está viva nele, mas já não a mesma, por que a dor real, se nos atinge profundamente, nos incapacita de, enquanto a sofremos, transformá-la em prazer estético. A formulação, na obra, do sofrimento experimentado guarda, conforme o caso, diferentes distâncias com respeito à dor da vida. Mas nunca é a dor mesma que aparece na obra é a superação da dor, a sua transformação alquímica em alegria, em prazer estético. 1– Rubem Alves. Ciência Coisa Boa. Campinas, Papirus, 1988. 2– Arthur Schopenhauer. Dores do Mundo. 3– Idem 4– Salomão. Eclesiastes. 5– Ferreira Gullar. Folha de S. Paulo/17.05.97 3–ARTE – Conteúdo e TempoA arte tem o poder de se sobrepor ao momento histórico e exercer um fascínio permanente. Por isso diz Arnold Hauser que toda arte está condicionada socialmente, mas nem toda arte é definível socialmente, mas nem toda arte é definível socialmente. As finalidades da arte não são, certamente, unívocas, entretanto, apontar pelo menos algumas formulações que merecem ser adotadas como fundamentais:
Após período de intensa vinculação com fatores ideológicos e técnicos, no passado, a arte pôde dedicar-se a sua finalidade principal – a expressão. Hoje, com o advento de uma sociedade funcional, a experiência estética parece, às vezes, desprovida de conteúdo. Sociedade capitalista versus liberdade criativa, interpõe racionalismos que vêm em prejuízo à manifestação da iluminação intuitiva. É no fenômeno artístico que percebemos a verdadeira natureza da realidade. "A arte é a condição de um princípio ontológico do ser, é a chave que nos permite acesso à essência do mundo; é o caminho mais original e autêntico da compreensão da realidade". "Tudo que você tem de seu, a única coisa que pertence a você não são as emoções, porque as emoções são as mesmas no mundo inteiro, mas a maneira pela qual as emoções se expressam, isto é, a maneira pela qual você as demonstra", disse a artista plástica Louise Bourgeois, em entrevista à folha de S. Paulo de 22 de janeiro de 1995 e, enfatizando o tema, citou Blaise Pascal: "O estilo é o homem". A música, na expressão mais popular da arte, alcançou universalidade, na idiossincrasia das variedades culturais. As artes plásticas retratam livre uma incrível época de leitura tão complexa. As artes cênicas e literárias buscam expressar, holisticamente, a questão existencial num "ecossistema" comprometido. Algumas cores estão colocadas no cenário do contemporâneo. Luzes e sons nem sempre são harmonia, mas é o homem o protagonista e, como tal, tal serão épocas e expressões. Deístas, lembram Nietsche que atribui a criação do mundo (cuja existência, segundo ele, só se justifica como fenômeno estético) a um Deus puramente artista, absolutamente destituído de escrúpulos e de moral, para quem a criação e a destruição, o bem e o mal, são manifestações de seu capricho indiferente e de sua onipotência. Gnósticos responsabilizam os anjos e não Deus, pela confecção deste mundo, pois, enciumados com a visão de Adão no Paraíso, estragaram a criação que faziam do mundo. Ateístas deliciam-se na produção farta do mercado gigante da efemeridade. Teístas vivem a esperança da restauração do caráter e do mundo à perfeição inicial. É a humanidade que sofre da nostalgia do mundo perfeito. É a centelha divina a traduzi-la. É a arte. CONCLUSÃOA questão é de vida ou morte: traduzir a parte que pesa e pondera na parte que delira ou, traduzir a parte que é vertigem na parte linguagem, será arte? No bojo da lira ( o poema "Traduzir-se" de Ferreira Gullar), a arte do sincretismo dá guarida às diversas posições sobre a arte. A beleza é o êxtase — inapreensível pelas teorias estéticas. BIBLIOGRAFIA1– ALVES, Rubens. Ciência Coisa Boa. Campinas, Editora Papirus, Campinas 1988. 2– Folha de São Paulo – edições de 07/05/95; 17/05/97; 22/01/95 e 06/08/95. 3– Revista Exame VIP/96. 4– DUARTE Jr, João Francisco. O que é Beleza. 2ª edição, Editora Brasiliense, São Paulo, 1987. 5– Enciclopédia Abril – Volume 4. 6– GALLO, Silvio. Ética e Cidadania, Campinas, São Paulo, Papirus, 1997.
Texto gentilmente cedido por Fabrício Fernandes Pinheiro (fabpage@achei.net) |