|
O Desenvolvimento do Ensino de Administração e Liderança de Organizações Não Lucrativas: Mudanças Curriculares e Relações InstitucionaisApresentado no Seminário Internacional Itaú/Fundação Getúlio VargasSão Paulo 30 de setembro de 1999 por John Palmer Smith, Ph.D. Professor de Administração de Organizações Não Lucrativas e Diretor Executivo do Mandel Center for Nonprofit Organizations da Universidade Case Western Reserve Introdução Obrigado pela oportunidade de conversar hoje com vocês. É muito bom estar de volta à América Latina. Há trinta e cinco anos atrás, vim pela primeira vez à América Latina como estudante universitário, para estudar na Universidade dos Andes, em Bogotá, Colômbia. Mais tarde, trabalhei como voluntário no Corpo de Paz dos Estados Unidos na República Dominicana; fiz muitas viagens de trabalho ao Peru e Chile e diversas aos países da América Central. Mas esta é minha primeira visita ao Brasil, e estou muito agradecido pela oportunidade de estar aqui e conhecer mais a história e cultura de vocês. Estou também muito contente com a oportunidade de aprender sobre o papel das organizações não lucrativas no Brasil. Minha tarefa hoje é falar sobre o "Ensino de Administração de Organizações Não Lucrativas nos Estados Unidos". É uma tarefa assustadora, ainda que bem vinda para mim. Mas, antes de começar, creio ser importante definir o escopo de meus comentários e alguns dos termos que estarei usando. Notem que quase todas minhas referências serão sobre o ensino de administração de organizações não lucrativas nos Estados Unidos. Farei apenas referências de passagem a tais programas no Canadá e outros lugares fora dos Estados Unidos. Notem também que usarei os termos "setor não lucrativo", "organizações não lucrativas" e "ensino de administração de organizações não lucrativas" ao invés de termos como "organizações não governamentais" ou "sociedade civil". Estou ciente que o termo "não lucrativo" é usado muito mais freqüentemente dentro do que fora dos Estados Unidos, mas o usarei aqui hoje como um sinônimo aproximado de "não governamental". Notem também que ao discutir o ensino de administração de organizações não lucrativas, restringirei meus comentários aos programas de educação "formal" no nível de pós-graduação. O que quero dizer com isto é que são os programas universitários formais de titulação ou cursos com créditos acadêmicos que podem contar para tais titulações. Estou ciente que existem muitos outros programas de alta qualidade em "educação para executivos" e outros tipos de programas de treinamento para líderes e administradores de organizações não lucrativas, tanto nos Estados Unidos como em qualquer outro lugar, mas estes estão além do escopo de meus comentários hoje. Acredito que seja importante enfatizar, logo de início, o quanto é jovem o campo de ensino de administração de organizações não lucrativas nos Estados Unidos. Talvez o primeiro programa formal de ensino de administração de organizações não lucrativas tenha sido criado em 1981 — somente há 18 anos — na Universidade de Missouri, cidade de Kansas. Outros programas rapidamente apareceram na Universidade de São Francisco em 1983, na Universidade George Washington em Washington, Distrito Federal, em 1984, na New School for Social Research em Nova York e na State University of New York em Stony Brook, em 1986, e na Case Western Reserve University, Cleveland, em 1988. Durante os últimos 15 anos, tenho tido o privilégio de dirigir dois desses programas de pós-graduação pioneiros: o Programa de Mestrado em Administração de Organizações Não Lucrativas na New School for Social Research e, desde 1996, o Mandel Center for Nonprofit Organizations na Universidade Case Western Reserve. Permitam-se expor três questões como um arcabouço geral para meus comentários hoje. São as seguintes:
I. O que aprendemos? Então, o que temos aprendido da breve história do ensino de administração de organizações não lucrativas nos Estados Unidos? A maioria desses programas tem sido fundamentados em pressupostos chaves de trabalho sobre liderança e administração de organizações não lucrativas e de que forma melhor organizar o ensino de pós-graduação para os líderes e administradores de tais organizações. Esses pressupostos chaves foram debatidos pelos educadores e lideranças de organizações não lucrativas que participaram do primeiro encontro em ensino de administração de organizações não lucrativas em São Francisco, Califórnia, em 1986 (Michael O’Neill e Dennis R. Yong, Educando Administradores para Organizações Não Lucrativas, Praeger, 1988). Eu gostaria primeiro de descrever e em seguida comentar cinco desses pressupostos chaves.
II. Onde estamos agora? Então, onde estamos agora? Qual é o estado atual do ensino em administração de organizações não lucrativas nos Estados Unidos? Como os cinco pressupostos chaves de trabalho se desempenharam no teste de tempo e experiência? 1. Primeiro, eu acredito que sabemos muito melhor agora do que sabíamos no início da década de 80, que administração e liderança de organizações não lucrativas é diferente de administração e liderança em organizações "lucrativas" ou governamentais em muitos aspectos importantes — se bem que não em todos. Sei que esta conclusão é ainda controversa após todos estes anos. Existem ainda aqueles que acreditam que "administração é administração" — independentemente dos objetivos, dos papéis e contextos das instituições sendo administradas. Decorre deste ponto de vista que, um modelo básico de ensino da administração (normalmente o desenho curricular básico prevalente nas escolas de administração) é suficiente para preparar lideranças e administradores para qualquer um dos três setores. Uma outra versão deste ponto de vista é de que mesmo que muitas organizações não lucrativas possam ter se diferenciado das empresariais e governamentais no passado, existe agora, nos Estados Unidos, um "obscurecimento das fronteiras" entre estes três setores. Este ponto de vista sugere que as similaridades entre as entidades não lucrativas, lucrativas e governamentais estão se tornando mais importantes do que qualquer diferença que possa remanescer e que é, portanto, desnecessário atentar muito para essas diferenças na elaboração de programas educacionais para lideranças e administradores do setor não lucrativo. Existem também aqueles que dizem que as organizações não lucrativas (e as governamentais) deveriam funcionar "como um negócio". Este ponto de vista parece aceitar, sem nenhuma crítica, a noção de que as organizações não lucrativas (e as governamentais) são essencialmente instituições imperfeitas, inferiores às empresas lucrativas, nos aspectos mais importantes de direcionamento para o mercado. Esta visão ignora a proposição que as organizações não lucrativas emergem, pelo menos em parte, porque os mercados — e os governos — falham às vezes em suprir os tipos e quantidades de bens e serviços desejados em sociedade. Ao invés disso, esta visão afirma que as organizações não lucrativas deveriam adotar práticas "como as dos negócios", que as habilitassem a fazer uso mais eficiente de seus escassos recursos e que engrandecessem suas eficácias. Eu não compartilho dessas visões. Na melhor das hipóteses, acredito que são demasiadamente simplistas. Na pior, acredito que elas podem ser totalmente perigosas, se adotadas como a base para educar lideranças e administradores do setor não lucrativo. Chamando a atenção de vocês para os perigos de tais pontos de vista, não estou dizendo que não tenham nenhum mérito. Existem similaridades importantes entre as organizações não lucrativas, as lucrativas e as governamentais. Existe, nos Estados Unidos, um "obscurecimento das fronteiras" entre os três setores — embora isto não seja um fenômeno novo. As organizações não lucrativas adotam às vezes estratégias de gerar receitas próprias que são muito similares àquelas das empresas que visam o lucro. Os governos, às vezes, retornam às entidades não lucrativas, receitas de impostos e funções de prestação de serviços que anteriormente haviam reservado para si próprios. E, para alguns propósitos, as organizações não lucrativas deveriam ser de fato "tocadas como um negócio", se com isso quiséssemos dizer que elas deveriam obedecer às leis, balancear seus orçamentos e usar suas receitas eficientemente. Mas se isto é tudo o que queremos dizer com essa frase, poderíamos tão simplesmente e acuradamente dizer que uma empresa lucrativa deveria ser "tocada como uma organização não lucrativa". Por que? Porque não há evidência empírica para sugerir que qualquer amostra aproximadamente comparável de organizações não lucrativas façam, não tão bem, qualquer uma daquelas coisas como as das empresas lucrativas. Além do mais, nós enfaticamente não queremos que as organizações não lucrativas nos Estados Unidos adotem a prática "como nos negócios" de distribuir qualquer receita excedente que elas possam gerar, como "lucros" ou "dividendos de acionistas" a seus técnicos e diretores. Por que? Porque fazer isso seria contrário aos objetivos fundamentais de benefício público para as quais elas foram criadas e contrário às leis que regulam organizações não lucrativas nos Estados Unidos. E que tal a afirmação que "administração é administração", o que implica dizer que "um tamanho único" de ensino de administração se ajusta a tudo? Minha resposta teórica para isto é "Por que deveríamos estabelecer um programa ‘sub ótimo’ para lideranças e administradores do setor não lucrativo? Nós já desenvolvemos programas educacionais muito melhores porque começamos com uma questão diferente na elaboração de programas. Ao invés de focar na preparação de lideranças e administradores para negócios lucrativos ou entidades governamentais, fizemos a seguinte pergunta: O que os líderes e administradores do setor não lucrativo precisam saber e estar habilitados a fazer para serem efetivos? As respostas para essa pergunta são o conteúdo de nosso programa. Naqueles casos onde as lideranças e administradores do setor não lucrativo precisam conhecer as mesmas coisas que os líderes e administradores de empresas e do governo, emprestamos do melhor dos currículos das escolas de administração, administração de negócios, administração pública e políticas públicas. Mas não hesitamos em modificar aqueles programas quando necessário, adicionando-lhes o corpo de conhecimento e habilidades que são importantes unicamente às lideranças e administradores do setor não lucrativo. Nossa experiência através dos últimos 18 anos sugere fortemente que é tanto desejável como viável construir um programa academicamente rigoroso em liderança e administração de organizações não lucrativas que incorpore o melhor desses dois mundos. Devem ser simulares, em alguns aspectos, aos programas educacionais elaborados para lideranças e administradores de empresas e muito diferente em outros. O melhor desses programas educacionais dão agora uma atenção séria ao conhecimento e conjuntos de habilidades que são de importância especial para líderes e administradores do setor não lucrativo em todos ou na maioria das seguintes áreas:
2. Segundo, acredito que o pressuposto que um enfoque "genérico" em administração e liderança de organizações não lucrativas era preferível nestes novos programas acadêmicos, está agora sendo validado. Uma medida desta validação é o crescimento rápido e contínuo de tais programas nos Estados Unidos, uma tendência sobre a qual discorrerei, mais tarde, detalhadamente. Uma outra medida é a crescente aceitação, no mercado de administradores e lideranças do setor não lucrativo, dos pós-graduados por estes programas. Eles estão sendo cada vez mais reconhecidos pelos empregadores do setor não lucrativo, como tendo adquirido a amplitude e profundidade de conhecimento e as habilidades que os fazem candidatos altamente desejáveis para as posições administrativas e de liderança, em um vasto leque de subsetores de organizações não lucrativas. No entanto, esta opinião que um enfoque "genérico" no setor não lucrativo é preferível, não é compartilhado por todos os observadores do ensino de administração de organizações não lucrativas. Existem aqueles que ainda argumentam que as diferenças entre os subsetores não lucrativos são tão grandes, que os programas acadêmicos devem ser desenhados para cada um desses subsetores. Somente então, é dito, a eficiência da administração e liderança nestes respectivos subsetores serão asseguradas. Pessoalmente, eu prefiro o "genérico", a abordagem de um amplo setor não lucrativo, mas estas duas abordagens diferentes para desenhar programas de pós-graduação não são mutuamente excludentes. Ambos os modelos estão disponíveis agora no mercado acadêmico, freqüentemente na mesma instituição acadêmica. Os estudantes que estão seguros de que pretendem dedicar grande parte, senão toda sua carreira profissional, em um único subsetor de organizações não lucrativas como serviços de saúde ou educacionais ou serviço social, pode escolher um programa de pós-graduação focalizado naquele subsetor. Em contraste, os estudantes que desejam flexibilidade adicional e mobilidade através dos subsetores das organizações não lucrativas, que pode ser provida pela titulação "genérica", podem escolher um daqueles programas de titulação. 3. Terceiro, em retrospectiva, eu acredito que o pressuposto de que havia um corpo suficiente de pesquisa e publicações na primeira metade da década de 80 para assegurar alta qualidade nos programas de titulação era altamente suspeito. As vezes, apenas balanço minha cabeça ao lembrar de nossa audácia em lançar programas educacionais no nível de titulação com a pesquisa e publicações então disponíveis. No entanto, houve um rápido crescimento em boa pesquisa acadêmica no decorrer destes anos. Existem agora duas associações multidisciplinares de acadêmicos em rápido crescimento: a Associação para Pesquisa em Organizações Não Lucrativas e Ação Voluntária (ARNOVA) com mais de 900 membros, e a Sociedade Internacional Para Pesquisa no Terceiro Setor (ISTR) com mais de 500 membros. Existem agora três jornais acadêmicos importantes no campo. Diversos editores acadêmicos e comerciais importantes lançaram, com sucesso, séries de livros sobre administração e liderança de organizações não lucrativas. Muitos estudos de caso e outros materiais didáticos em administração e liderança de organizações não lucrativas estão disponíveis para uso na sala de aula. Em resumo, mesmo que você nunca possa ter boa pesquisa básica e aplicada e material didático suficientes em qualquer campo profissional dinâmico, agora é possível garantir programas de titulação em administração e liderança de organizações não lucrativas de alta qualidade. E, felizmente, boa pesquisa e outros materiais didáticos continuam a ser produzidos no que parece ser um ritmo em aceleração. 4, Quarto, eu acredito que o pressuposto que haveria um "mercado" para o ensino de administração de organizações não lucrativas também foi validado. No "lado da oferta" deste mercado, existem agora 85 escolas e universidades nos Estados Unidos que oferecem três ou mais cursos de titulação em administração e liderança de organizações não lucrativas "genéricas" e estudos da filantropia ou assuntos proximamente relacionados e o número desses programas continuam a crescer. Estes dados estão entre os resultados do levantamento contínuo do campo sendo realizado pelo Dr. Naomi Wish, Diretor do Center for Public Service na Universidade Seton Hall, e por sua colega, Dra. Roseanne Mirabella. Este crescimento continua a confundir as visões dos cépticos que por diversos anos vem predizendo uma "saturação" e consolidação no lado da oferta de mercado em ensino de administração de organizações não lucrativas. Naturalmente, é possível que mudanças nas condições fundamentais no "lado da demanda" deste mercado possam ainda provar que estes cépticos estão corretos. Por exemplo, o rápido crescimento no emprego no setor de organizações não lucrativas que ocorreu nos Estados Unidos ao longo dos últimos 50 anos poderia diminuir seu ritmo ou ser revertido se os contratos e subvenções do governo federal e governos locais fossem significativamente reduzidos. Isso, por sua vez, poderia desacelerar ou parar o rápido crescimento no número de programas educacionais em administração de organizações não lucrativas. Por outro lado, é muito difícil prever com um alto grau de confiança, que efeitos em cadeia poderiam ter a diminuição de receitas de origem governamental nas receitas totais das organizações não lucrativas e no nível de emprego. Se tal diminuição ocorresse nos Estados Unidos, muitas organizações não lucrativas poderiam, quase que certamente, tentar anular estas perdas pelo aumento de geração de recursos próprios e levantamento de fundos filantrópicos. Não seria a primeira vez que fariam isso. No início da década de 80, durante os primeiros anos da administração Reagan, boa parte do setor não lucrativo foi impactado negativamente pelas reduções do financiamento do governo federal. No entanto, no final da década de 80, o nível das receitas deflacionadas totais e o nível do emprego nas organizações não lucrativas nos Estados Unidos eram mais altos do que tinham sido no início da década, devido, em grande parte, a aumentos significativos na geração de recursos próprios, subvenções e doações filantrópicas. Além do mais, não é inteiramente claro que qualquer reversão de tendências de crescimento a longo prazo nas receitas e emprego nas organizações não lucrativas poderia automaticamente ser traduzida em um declínio nas prospectivas do ensino de administração e liderança de organizações não lucrativas. Como sabemos de experiências passadas, a demanda por educação freqüentemente cresce tanto quando as condições econômicas melhoram — como quando pioram. Usando o mesmo argumento, a demanda por administradores e lideranças de organizações não lucrativas bem treinadas não acabará sob condições adversas dessas organizações — e pode mesmo ser aumentada. Para aqueles dentre nós que constantemente vasculham o ambiente atrás de indicadores de tendência do ensino de administração e liderança de organizações não lucrativas, dois indicadores recentes parecem ser especialmente significativos, embora minha evidência seja anedótica ao invés de sistemática. Primeiro, eu acredito que muito do crescimento recente no lado da oferta de mercado do ensino de administração para o terceiro setor é, na realidade, uma demanda dirigida. Quero citar três exemplos.
Estes exemplos também ilustram a segunda das tendências recentes que eu acredito serem as importantes no ensino de administração de organizações não lucrativas, ou seja, a de que diversas, das mais "prestigiadas" universidades norte americanas, estão começando a entrar no campo do ensino de administração de organizações não lucrativas de uma forma séria. Fico muito satisfeito de ver essas universidades de prestígio entrarem no campo. Elas trazem uma credibilidade acadêmica importante, recursos intelectuais notáveis e outros recursos financeiros e institucionais para o campo inteiro. Existem agora autênticos programas acadêmicos no setor não lucrativo nos Estados Unidos em Harvard, Columbia, Georgetown, Northwestern, Johns Hopkins, Universidade da Califórnia em Berkeley e na Universidade de Michigan. O mesmo é verdadeiro no Canadá, onde tais programas existem agora nas universidades de York e McGill. O fato de que estas e outras universidades como elas tenham entrado no campo, torna muito mais fácil para todos nós, persuadir nossos próprios colegas na universidade da importância do ensino de administração de organizações não lucrativas. No entanto, devemos também lembrar que este ainda é um campo de estudos novo e que seu crescimento e vitalidade a longo prazo não está assegurado. Muitos dos 85 programas acadêmicos de organizações não lucrativas nos Estados Unidos ainda tem um suporte frágil no mundo da educação superior. Como programas ainda relativamente novos e interdisciplinares, eles continuam a lutar por reconhecimento e credibilidade nos ambientes universitários, onde as escolas profissionalizantes tradicionais e as disciplinas acadêmicas guardam zelosamente seus domínios e prerrogativas. Muitos destes programas lutam também dentro das estruturas administrativas de suas instituições pela criação de cátedras, escritório, atendimento e outros serviços administrativos de suporte, e por ajuda financeira aos estudantes. Mesmo quando fontes externas de fundos financiaram generosamente a criação e crescimento de tais centros e programas, suas instituições acadêmicas de origem tem sido, em alguns casos, relutantes em adicionar recursos financeiros e de outros tipos em quantidade suficiente para assegurar a sustentabilidade destas empreitadas a longo prazo. 5. Quinto, eu acredito no pressuposto que "modelos multidisciplinares" e "arranjos multi institucionais" seriam necessários e mesmo desejáveis para que estes programas educacionais no setor não lucrativo fossem validados. Primeiro, examinemos a questão dos "modelos multidisciplinares". Existe ainda uma grande diversidade entre os programas educacionais de administração e liderança de organizações não lucrativas e novos modelos curriculares ainda estão aparecendo. No entanto, dois amplos tipos emergiram. Primeiro, existe um número relativamente pequeno de programas de mestrado, totalmente dedicados, independentes, que focalizam em administração e liderança de organizações não lucrativas ou estudos filantrópicos. Os que mais se destacam entre esses programas de mestrado são os da Universidade de São Francisco, Universidade de Indiana, New School for Social Research, e da Universidade Case Western Reserve. Um programa de mestrado um pouco diferente foi criado no Institute for Public Policy da Universidade Johns Hopkins, para preparar líderes e administradores a se concentrarem na resolução dos principais problemas públicos e poder moverem facilmente entre entidades não lucrativas e governamentais. Segundo, existe um número muito maior de programas com "concentrações" ou "especializações" em administração de organizações não lucrativas que estão embebidos em algum outro tipo de programa de titulação. Tais programas são freqüentemente encontrados dentro do mestrado em administração pública, políticas públicas ou administração de empresas. Tais programas podem ser encontrados agora em algumas das escolas líderes dos Estados Unidos. Estas incluem: a Kellogg School of Management da Universidade Northwestern, o Terry Sanford Institute for Public Policy da Universidade Duke, o Public Policy Institute da Universidade Georgetown, Hass School of Business da Universidade de Berkeley, Califórnia, e a Graduate Scholl of Business da Universidade Columbia. Qual desses modelos de programas existentes é o melhor, programas completos de titulação ou concentrações em trilhas? A resposta para esta questão ainda não está clara e é, de qualquer forma, ainda controversa. O meu ponto de vista é que para aquelas pessoas que tem a intenção de investir toda ou a maior parte de suas carreiras no setor não lucrativo, quanto mais os cursos reflitam as necessidades dos administradores e lideranças das organizações não lucrativas, melhor será. Por esta razão, sou um defensor fervoroso do programa totalmente dedicado. Dada a chance entre um programa completo e independente de titulação em administração de organizações não lucrativas com mais de 20 cursos, ou uma pequena concentração em trilha de 3-5 cursos, eu sempre preferiria o programa de titulação totalmente dedicado. No entanto, naquelas instituições acadêmicas nas quais, por qualquer que sejam as razões, ainda não é possível oferecer programas completos de titulação, alguns cursos no ensino de administração de organizações não lucrativas é certamente melhor do que nenhum. Em seguida, examinemos a questão dos "arranjos multi institucionais". A maioria dos programas de administração de organizações não lucrativas existe dentro de uma única escola ou instituto em suas universidades: uma escola de administração pública, uma escola de administração de empresas, uma escola de serviço social, um instituto de ciências humanas ou estudos profissionalizantes. No entanto, existe um número pequeno, mas aparentemente em crescimento, de programas de pós-graduação que foram intencionalmente organizados dentro de suas universidades como joint ventures entre escolas ou institutos. Alguns desses programas multidisciplinares, multi institucionais, oferecem programas de mestrado totalmente dedicados e independentes. Outros oferecem concentrações em trilhas ou especializações em administração e liderança de organizações não lucrativas. O primeiro destes centros de "múltiplas escolas ou que envolvem a universidade como um todo" foi o Mandel Center for Nonprofit Organizations, que foi fundado na Universidade Case Western Reserve em 1984 com um suporte generoso do Sr. Morton Mandel e de sua família. Hoje, o Mandel Center é uma parceria formal de quatro escolas e institutos, a Weatherhead School of Management , Mandel School of Applied Social Sciences, a School of Law e o College of Arts and Sciences. O Indiana University Center on Philanthropy é uma joint venture entre o instituto de ciências humanas, escola de assuntos públicos e ambientais e escola de administração de empresas. O Hauser Center for Nonprofit Organizations está vinculado à Kennedy School of Government da Universidade de Harvard, mas envolve formalmente diversas outras escolas de Harvard e outras divisões acadêmicas incluindo suas escolas de administração de empresas, educação e teologia. E o Programa em Administração de Organizações Não Lucrativas e Pública da Universidade de Michigan é uma parceria das escolas de administração de empresas, políticas públicas e trabalho social da universidade. Não há dúvida de que estas estruturas de múltiplas escolas são mais complexas que o arranjo em uma única escola, que ainda predomina. No entanto, complexo não significa inferior. Na realidade, freqüentemente existem razões muito boas para os programas de administração de organizações não lucrativas entrarem em alianças estratégicas complexas dentro dos arranjos universitários. Estas incluem a habilidade de atrair seletivamente entre os amplos recursos intelectuais e de outros tipos da universidade e focaliza-los nos objetivos do programa acadêmico sobre o setor não lucrativo. A "prova do pudim é feita ao comê-lo", não na simplicidade de sua receita. Como vocês podem imaginar, existe no campo um debate vigoroso sobre qual, entre os muitos modelos de programas e qual, entre os arranjos institucionais, tem provado ser o "melhor" durante os últimos 20 anos. Em seu artigo recente no Journal of Public Affairs Education, meu colega, o Professor Dennis Young descreve quatro cenários para o futuro da educação em administração de organizações não lucrativas.
O Professor Young argumenta que o cenário (d), a situação atual no ensino da administração de organizações não lucrativas com múltiplos modelos de programas e múltiplos arranjos institucionais, não tem probabilidade de sobrevivência a longo prazo. Sua preferência pessoal é claramente pelo cenário (c), o aparecimento do ensino em administração de organizações não lucrativas como um novo e reconhecido campo de estudo, com suas próprias escolas dentro das universidades e iguais em estatura às escolas de administração de empresas e assuntos públicos. Mas não é tão claro que este cenário seja o mais provável entre os quatro, ou que algum outro cenário não possa por fim emergir. Lester Salamon da Universidade John Hopkins é um propositor entusiasmado do cenário (a) que, com mais de 40 porcento dos 85 programas de administração de organizações não lucrativas nos Estados Unidos já vinculados a escolas de administração pública e políticas públicas, é o modelo com liderança numérica atualmente. Em contraste, menos do que 10 porcento dos 85 programas são atualmente vinculados a escolas de administração de empresas. No entanto, o clamor dos chamados para que as organizações não lucrativas sejam "tocadas como um negócio" é poderosa — perigosa, posso acreditar que seja. Isto pode significar que o mercado de trabalho para administradores e lideres do setor não lucrativo dará preferência, em última instância, à educação formal e treinamento nas habilidades das empresas lucrativas — e o credencial do MBA —ao corpo de conhecimentos e habilidades que eu acredito sejam importantes unicamente para a liderança e administração das organizações não lucrativas. Confesso que não sei qual entre estes e outros possíveis cenários irá prevalecer em última instância. Existem muitas variáveis desconhecidas que podem afetar o produto final. As universidades nos Estados Unidos, tanto as públicas como as privadas não lucrativas, não são diferentes de outras organizações: existem influências poderosas externas e internas moldando o que elas fazem. Estas influências incluem:
O escopo e dimensões do ensino universitário em administração e liderança de organizações não lucrativas no futuro dependerá, em última instância, das tendências nestas e outras variáveis importantes. Enquanto isso, o estado atual do ensino de administração de organizações não lucrativas com seus múltiplos modelos de programas e múltiplos arranjos institucionais já tem produzido ganhos notáveis na preparação de líderes e administradores do setor não lucrativo num período muito curto de tempo. Então, fazendo um balanço, onde estamos agora? Por um lado, um progresso substancial, notável mesmo, foi feito no ensino de administração de organizações não lucrativas em menos de 20 anos. Muitos dos pressupostos originais que permearam a criação destes programas tem sido validados. O crescimento contínuo do número destes programas e o número ainda em rápida ascensão de estudantes de administração de organizações não lucrativas e de suas associações provam o seu atrativo. Por outro lado, o julgamento continua para determinar o quanto estes programas serão, afinal, bem sucedidos em ganhar a aceitação dentro de suas respectivas instituições acadêmicas e naquelas formas institucionais que irão tomar. III. Aonde estamos indo no campo do ensino de administração de organizações não lucrativas? Isto me leva à terceira questão: Aonde estamos indo no campo do ensino de administração de organizações não lucrativas? Eu amo esta pergunta! Como alguns de vocês sabem, o primeiro encontro em ensino de administração de organizações não lucrativas ocorrido em São Francisco em 1986 foi agora seguido por um segundo encontro, muito maior, no mesmo assunto, que aconteceu na baía de São Francisco em 1996. Participaram deste encontro mais de 130 pessoas de instituições acadêmicas de todo os Estados Unidos e de uns 20 outros países. Sei que alguns de vocês também participaram desse encontro. Se, como parece agora, esses encontros em ensino de administração de organizações não lucrativas estão se tornando eventos decenais, o que o campo do ensino de administração parecerá em 2006, quando o Terceiro Encontro Decenal em Ensino de Administração e Liderança de Organizações Não lucrativas for levado em São Francisco — ou quem sabe, aqui em São Paulo? O ano de 2006 está agora suficientemente distante no futuro, que qualquer número de eventos significativos pode influenciar o desenvolvimento deste campo de estudos de formas imprevisíveis. É por isso que amo esta pergunta. O ano de 2006 está tão distante no futuro que será difícil para vocês lembrarem quais das minhas previsões não se tornaram verdadeiras. Então, para onde estamos indo no ensino de administração de organizações não lucrativas?
Conclusão Bem, vocês tiveram uma breve mas notável história do ensino de administração de organizações não lucrativas nos Estados Unidos; seu status atual; e uma previsão de como parecerá em 2006. Pode ter existido, entre os pioneiros e primeiros apoiadores deste campo de estudo — Bob Herman e Dick Heimovics da Universidade de Missouri, em Kansas, Michael O’Neill da Universidade de São Francisco, Dennis Young da Universidade Case Western Reserve, Robert Payton da Universidade de Indiana, John Simon da Universidade de Yale, Virginia Hodgkinson, agora na Universidade de Georgetown, e Brian O’Connell, agora na Universidade Tufts — que acreditaram que o crescimento rápido do ensino de administração de organizações não lucrativas não era somente uma coisa boa, mas inevitável. Confesso que naqueles primeiros dias, eu não tinha uma pista do que nos era reservado. Diversos anos passaram antes que eu finalmente me cansasse de fazer projeções conservadoras de crescimento no número de matrículas dos estudantes, somente para vê-las excedendo ano após ano. Finalmente decidi que poderia muito bem parar de ser conservador e fazer previsões audaciosas sobre o crescimento futuro e ver quantas pessoas eu poderia persuadir a juntarem-se a mim para faze-las se tornarem verdadeiras. No entanto, se demorei a entender seu escopo e dimensões potenciais no futuro, a oportunidade de estar envolvido nos primeiros desenvolvimentos e no rápido crescimento do ensino de administração e liderança de organizações não lucrativas foi ao mesmo tempo inspirador e enormemente satisfatório. Desde sua concepção, o ensino de administração de organizações não lucrativas teve seus cépticos e negativistas, suas lutas e seus reversos. Mas, através de tudo, veio a percepção crescente que existe alguma coisa acontecendo aqui, alguma coisa que vale a pena fazer e vale a pena fazer bem. Na palavras de George Bernard Shaw: "Você vê coisas e você pergunta ‘Por que?’ Mas eu sonho coisas que nunca foram; e eu digo ‘Por que não?’" Ou, se você preferir, as palavras de Henry Miller: "Existem figuras solitárias armadas somente com idéias, às vezes somente com uma idéia, que explodem épocas inteiras nas quais estávamos embrulhados como múmias." É como tem sido com o ensino de administração e liderança de organizações não lucrativas. Não tomem minhas palavras como referência. Perguntem apenas para seus estudantes e associações, para quais organizações não lucrativas eles trabalham, e as pessoas a quem servem nos Estados Unidos e em todo o mundo. Eu olho à frente para ver vocês no ano de 2006 no Terceiro Encontro Decenal em Ensino de Administração e Liderança Não Lucrativa, ou em qualquer lugar onde ela aconteça, mas esperançosamente, aqui em São Paulo. Muito obrigado. |