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15/1/2000

Segurança rodoviária

Naturalmente, a época de natal e Ano Novo foi aproveitada para reforçar a vigilância nas estradas e tentar garantir números mais confortantes relativamente à sinistralidade rodoviária.

Como de costume, o resultado foi pouco satisfatório. Continuamos a ser os campeões europeus nessa área. Mas não é caso para nos atirarmos já ao governo e à polícia. Basta tentar imaginar quais seriam os números se não tivesse sido feito o esforço de repressão que incomoda tanta gente!

Alguém, sensatamente, esclareceu na televisão (o local onde tudo acontece) que dificilmente se poderiam esperar resultados melhores. A repressão é necessária, mas não chega. A própria repressão ("caça à multa", na linguagem dos condutores incomodados) tem sido ridicularizada pelas sucessivas amnistias.

O estado das estradas melhorou bastante ao longo dos anos, mas é ainda insatisfatório para o volume de tráfego; além disso, essa melhoria tem um efeito perverso: como as estradas são melhores muitos condutores acham que podem circular com maior velocidade sem pôr em risco a segurança — o que é um erro crasso.

Por outro lado, a sinalização muitas vezes também não ajuda: umas vezes é insuficiente; outras, excessiva. E é evidente que, quando os sinais se sucedem, é relativamente fácil começar a ignorá-los.

Mas a razão principal da sinistralidade excessiva parece residir no comportamento dos próprios automobilistas. O excesso de confiança nas próprias capacidades e na segurança do veículo, o sentimento de emulação ("o meu carro é melhor do que o teu" ou, em compensação, "eu tenho mais unhas do que tu"), a impaciência (quem é que está disposto a perder dois ou três minutos numa fila?) e outros vícios semelhantes transformam muitos condutores em potenciais suicidas e homicidas.

A agravar tudo isto, como também se dizia nessa altura, a ausência de repressão social.

Em suma, o problema é sério e não tem solução à vista.

JORGE SANTOS