História de Recife

O Início: Quando Duarte Coelho aqui chegou, em 1535, cometeu dois enganos: primeiro, batizou sua capitania de Nova Lusitânia, em homenagem Povoado dos Arrecifesà terra patrícia - o nome não pegou, talvez como um sinal de aquela viria a ser a capitania mais rebelde ao domínio português, e ficou Pernambuco, mesmo, que quer dizer "Mar Furado". Segundo, Duarte Coelho não deu muita importância àquela terra enlameada, cheia de manguezais, foz de não sei quantos rios e riachos. Preferiu, lógico, fincar sua corte na alta e ladeirosa Olinda, de onde se podia apreciar melhor o litoral (e os invasores). Bom, pelo menos aquela barreira de arrecifes proporcionava um bom porto natural, e foi assim que surgiu a povoação dos Arrecifes, em 1548.

Que Venham Os Holandeses: a cultura açucareira na capitania se desenvolvia depressa; riqueza e fausto se instalavam em Maurício de NassauOlinda. Tanta fartura, óbvio, chamou a atenção dos Holandeses, que nos séculos XVI e XVII se dedicavam a práticas variadas tais como comércio, pirataria e invasões em geral. Foi assim que, em 1630, 70 navios, 7000 homens e 200 canhões desembarcaram na costa pernambucana, na praia de Pau Amarelo, ao norte de Olinda. Como primeira providência para enfraquecer os portugueses, incendiaram Olinda, em 1631. E agora, com a capital destruída, onde se estabelecer? Para os holandeses, certamente nada lembrava mais a terra natal que o povoadozinho do porto, já rebatizado de Recife. Naturalmente, para acomodar a nova corte, mais espaço teria de ser ganho às aguas. E assim drenaram-se rios, aterraram-se mangues, construíram-se pontes. O principal artífice desta transformação chegaria ao Brasil em 1637: o Príncipe Johann Mauritius van Nassau-Siegen (em bom português, Maurício de Nassau), comandante das tropas holandesas e governador-geral da província. Tomado de amores pelo lugar, lá decidiu construir seu sonho pessoal de cidade: a Cidade Maurícia, projetada pelo arquiteto Pieter Post, irmão do pintor Frans Post. A primeira ponte foi construída em 1643, chamada de (coincidência!?) Ponte Nassau. A ela seguiram-se outras pontes (hoje há 39, só no centro) dois palácios, igrejas e ruas. Só que a idéia da Companhia das Índias Ocidentais não era bem transformar Recife em uma metrópole, e sim conseguir lucros com as plantações de cana-de-açúcar. Daí uma certa irritação com Maurício de Nassau, o que resultou no seu chamado de volta à Holanda, em 1644. Sem Maurício de Nassau, cessaram as festas, os saraus e os empréstimos, e começaram as cobranças de dívidas. Os portugueses acharam, então, que hora de expulsar os invasores.

Viva o Exército Brasileiro!: a resistência dos portugueses à invasão holandesa foi tênue. Do litoral, apenas o porto era protegido por dois fortes (de São Jorge e de São Francisco) e ofereceu certa resistência. Daí os membros da resistência se refugiarem no interior, construindo o Arraial do Bom Jesus. Nesse local, onde hoje fica o sítio da Trindade, no bairro de Casa Amarela, os portugueses resistiram por cinco anos, até o dia 8 de junho de 1635. A partir daí, e durante a presença de Maurício de Nassau, a resistência portuguesa foi pouca ou nula. Com o retorno de Maurício de Nassau à Holanda e a cobrança de dívidas dos senhores de engenho por parte da Companhia das Índias Ocidentais, a elite pernambucana decidiu pegar em armas para expulsar os invasores, em um movimento chamado Insurreição Pernambucana. É interessante o fato de que este movimento não teve apoio formal da Coroa protuguesa, cujos diplomatas na época encontravam-se ocupados tentando vender o Nordeste brasileiro à Holanda! Tendo como líder o senhor de engenho João Fernandes Vieira, o movimento conseguiu importantes vitórias frente aos Holandeses em 1645, no Monte das Tabocas (na cidade de Vitória de Santo Antão, a 45Km de Recife) e no Engenho de Casa Forte (no bairro de mesmo nome). Mas a vitória definitiva viria após as duas batalhas do Morro dos Guararapes (na vizinha cidade de Jaboatão), em 1648 e 1649. Este local é hoje considerado o berço do exército brasileiro. A retirada completa das tropas holandesas ainda seria demorada: somente a 27 de janeiro de 1654 os portugueses retomariam o controle de Recife. Em 6 de agosto de 1661, em troca de uma indenização de oito milhões de florins, os holandeses assinariam acordo em Portugal renunciando a qualquer pretensão sobre terras brasileiras.

Briga Entre Irmãs: a semente de desenvolvimento plantada pelos holandeses germinou em Recife. Pouco a pouco a cidade, lar de comerciantes e pequenos burgueses, chamados mascates, suplantaria a capital Olinda, lar dos tradicionais senhores de engenho. O ciúme entre as cidades irmãs culminou com a guerra dos mascates, em 1710.

Rebeldia no Sangue: o espírito revolucionário contaminou o sangue dos Recifenses. A capital pernambucana seria palco de várias revoltas, como a Revolução de 1817 e a Confederação do Equador, de 1824. Nelas se destacaria a figura de Frei Caneca, religioso fuzilado por seus ideais libertários. Mais recentemente, os mesmos ideais norteariam o trabalho de D. Hélder Câmara à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife: sua voz calma e mansa foi o instrumento mais poderoso de combate às atrocidades cometidas pela ditadura militar no Brasil nos anos sessenta e setenta.

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