INFORMAÇÕES SOBRE O CURSO DE ASTRONOMIA
Reinaldo Pinto da Silva
Colaboração: Walkiria Schulz
Ano: 1995
O Astrônomo estuda e trabalha com os fenômenos celestes, relativos às estrelas, planetas, galáxias, satélites, asteróides, sistema solar, etc. Cabe aqui um esclarecimento: não se deve confundir a Astronomia com a Astrologia, que se preocupa com a influência dos astros sobre a vida humana (ela não é reconhecida pela ciência), nem com a Meteorologia, que é o estudo dos fenômenos atmosféricos (se vai chover, fazer sol, etc.). A Astronomia estuda o que está além das nuvens.
Nao há caracteristicas especiais num astrônomo que o diferenciem dos outros profissionais. Criaram o estereótipo (rótulo) de que o astrônomo era um sujeito anti-social, o que não corresponde à realidade. Como todo cientista, ele deve ter boa capacidade de estudo, concentração e pesquisa. Normalmente o melhor é que continue sempre estudando, e aconselha-se que, ao terminar o curso de graduação (o curso normal da faculdade), prossiga fazendo pós-graduação, mestrado e doutorado. Cabe dizer que, à medida que o astrônomo progride nos estudos, mais ele irá se especializando, e mesmo a graduação já oferece alguma especialização.
- Onde se pode fazer esse curso? Qual o melhor?
O curso de graduação em astronomia é ministrado somente na UFRJ. 70% do curso é dado no Instituto de Física da UFRJ (ilha do Fundão) e os outros 30% no Observatório do Valongo (Bairro da Saúde, próximo à Central do Brasil). Há especialização em 5 áreas: mecânica celeste, astrometria, astrofísica, instrumentação e cosmologia. Só há especialização nestas áreas, mas astrofísica, por exemplo é muito abrangente. Astrofísica é uma colcha de retalhos. Estrutura galática, formação estelar, binárias, aglomerados globulares, variáveis cataclísmicas, etc. Tudo é chamado de Astrofísica, mas faz-se especialização no tópico.
A maior qualidade do curso são os professores. Quase todos os professores estão fazendo ou já terminaram a pós-graduação. Existe um grande incentivo para que os alunos já entrem na iniciação científica logo no primeiro ano e isto tem garantido além do intercâmbio com outros centros de pesquisa (Observatório Nacional, INPE, IAG/USP e até EMBRATEL) uma produção científica da melhor qualidade.
- É possivel visitar a faculdade?
Pode-se visitar o Observatório do Valongo em qualquer dia e hora, mas o mais indicado é ligar para lá e combinar uma visita com algum professor. O endereço completo é:
Ladeira do Pedro Antônio, 43
Saúde - Rio
Tel: 263-0685
As matérias do curso são as seguintes:
1º período : astronomia I, introdução à astronomia moderna, física I, cálculo I, física experimental I
2º período : astronomia II, técnicas de instrumentação astronomica I, física II, cálculo II, física experimental II, computação I, álgebra linear II
3º período : astronomia III, tin II, física III, cálculo III, física experimental III, cálculo numérico
4º período : astronomia IV, tin III, física IV, cálculo IV, física experimental IV, astrofísica I
outros períodos : prática instrumental astronômica, astrofísica II e III, tópicos em astrofísica ou em astronomia dinâmica e de posição, física moderna I e II, mecânica clássica I, II e III, eletromagnetismo I e II, radiastronomia I e II, perspectiva astronômica
específicas : mecânica celeste I e II, ou estrutura galática I e II, atmosferas e interiores estelares I e II, cosmologia I e II, etc.
Nos primeiros anos há uma grande quantidade de matérias de Física e Matemática, a maior parte delas comum a outros cursos (Engenharia, Física, Matemática, Geologia, Meteorologia, Química, etc.). Essas matérias são cursadas na ilha do Fundão, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. Há também matérias cursadas no Observatório do Valongo e essas matérias são específicas do curso de Astronomia. Nos períodos finais, serão cursadas matérias que dependerão da especialização escolhida.
A pouca quantidade de matérias experimentais (só tem Técnica Instrumental I, II, III e Prática em Instr. Astron.) tira um pouco do charme do curso, mas existe uma tentativa de resolver este problema levando o pessoal para fazer trabalhos em outros observatórios, como o Capricórnio em Campinas, o LNA em Brasópolis e o Rádio-Observatório em Atibaia.
- Qual o tempo do curso?
No momento o curso tem uma duração média de 5 anos. Existe uma sugestão da coordenadoria para se fazer o curso em 4 anos e meio, e é possível fazê-lo em 4, mas o normal é se terminar em 5 ou até 6 anos.
É preciso completar um certo número de créditos, escrever uma monografia (um projeto de pesquisa) e apresentá-la para uma banca examinadora.
- Qual o campo de trabalho aqui no Brasil?
Com exceção da Embratel, praticamente todos os astrônomos do Brasil trabalham em institutos de pesquisa ou universidades. São pesquisadores/professores. Estes institutos são dependentes do governo e só se é admitido por concurso. Só com a graduação em astronomia não existe nenhuma possibilidade de se ser contratado; é necessario no mínimo ter o mestrado (a Embratel é uma exceção neste caso). Pode haver um concurso enquanto se está fazendo a pós-graduação e aí vai depender das regras da instituição se é possível fazê-lo ou não. Existem as bolsas de estudo para mestrado e doutorado, que são uma remuneração e um incentivo para que a pessoa continue estudando e se aperfeiçoando. Todos os alunos de pós-graduação recebem bolsas de estudo; existem diversos órgãos que dão este tipo de apoio (CNPq, Capes, Fapesp, ...) e não é dificil conseguir; na verdade difícil é conseguir ser aceito em uma instituição para fazer pós-graduação, depois que se é aceito eles mesmos fornecem a bolsa. A tendência de quem termina o mestrado é entrar correndo no doutorado.
Na Embratel foram admitidos astrônomos, quase todos somente com o curso de graduação e com especialização em Mecânica Celeste, e trabalham no controle orbital dos satélites BRASILSAT. Ao tempo dessas admissões, bastava apresentar o currículo e o certificado de conclusão do curso de graduação em Astronomia. As pessoas do órgão interessado analisavam o currículo e aceitavam ou não. Atualmente também se exige o concurso público.
- A remuneração é boa?
Não tenho muitas informações disponíveis. A bolsa de mestrado pelo CNPq está em R$ 738,00, a de doutorado está em R$ 1071,00. O salário de quem está começando agora no INPE não é muito melhor do que isto, deve ser algo em torno de R$ 1200,00. Na Embratel o salário inicial pode estar em torno de R$ 1000,00.
- Como é encarada a mulher na profissão?
Não há mais diferenciação de sexo no curso, pois nos últimos anos, dos 30 alunos que entram por ano quase a metade é do sexo feminino. Não há uma estatística sobre o sexo dos que completam o curso. Mas há astrônomas trabalhando inclusive no Observatório do Valongo, onde também ministram aulas do curso de Astronomia.
- Tem possibilidade de trabalhar fora do pais?
Eis as informações que tenho sobre o estudo no exterior: se a área que se quiser estudar não existir no Brasil, o CNPq dá uma bolsa para onde for. O problema é que a maioria das áreas existem no país e em alguns casos estão muito bem desenvolvidas (por incrível que pareça). Com isto fica praticamente impossível fazer mestrado no exterior. O que se pode fazer com uma certa facilidade é o que o pessoal chama de "doutorado sandui'che": a pessoa começa a fazer doutorado em uma instituição no Brasil, vai para fora, passa 2 anos, e volta para defender aqui. É vantagem para o CNPq, pois sai muito mais barato.
Sobre trabalho no exterior não disponho de maiores informações. Apenas tenho a relatar a trajetória de uma colega de trabalho (eis aí um exemplo de mulher astrônoma): ela entrou na Embratel por volta de 1982 e já possuia o mestrado; quando eu fui admitido ela era a coordenadora do Grupo de Mecânica Celeste, mais tarde Seção de Mecânica Celeste, da qual passou à condição de chefia. Em 1990 ela transferiu-se para os Estados Unidos (Los Angeles), trabalhando na Hughes Aircraft Company, a responsável pela colocação em órbita dos dois primeiros satélites da Embratel e fabricante dos dois novos satélites recentemente lançados, permanecendo la' até o final de 1994, quando se mudou para a França. Não sei exatamente o que ela faz lá, mas há pouco tempo prestava serviço a uma companhia européia de telecomunicações.
- Qual a importância da língua estrangeira?
A maior parte das publicações (livros, revistas, periódicos) sobre Astronomia é escrita em ingles, de forma que é imprescindível ter algum conhecimento desta língua. Há publicações em outras línguas, mas em número bem menor.
- Quais as dificuldades enfrentadas no curso, na profissão e no campo de trabalho?
O curso de Astronomia é um curso para quem gosta muito de cálculo e física. O curso exige bastante dos alunos (o horário é integral, com aulas de manhã no Fundão e de tarde/noite no Valongo) e por isto a evasão chega a 90% (Integral não significa aulas durante o dia todo, mas que as aulas podem ser em qualquer horário do dia ou da noite).
Na profissão a dificuldade é o reconhecimento, ou melhor a falta de conhecimento da maioria, que não sabe nem o que é astronomia. No campo de trabalho, temos os concursos públicos, que não são muito frequentes. Porém não há muitos astrônomos no mercado, e uma coisa quase compensa a outra.
- Fale sobre a sua experiência profissional.
Eu me formei em astronomia com especialização em Mecânica Celeste em maio de 1984, sendo admitido na Embratel em agosto. Trabalho portanto há mais de 10 anos na Seção de Mecânica Celeste, que é responsavel pelo controle da órbita (posição) e da atitude (orientação) dos satélites da Embratel.
A Seção de Mecânica Celeste (DTS-33), na qual estou lotado, é atualmente composta de 5 pessoas. 3 são astrônomos formados com especialização em Mecânica Celeste, e um deles já fez mestrado e está fazendo doutorado (ambos iniciados após a admissão na Embratel); um é astrônomo com especialização e mestrado na área de Astrofísica, e o outro é engenheiro cartográfico (esta carreira tem uma formação semelhante). Até 1990 éramos chefiados por uma astrônoma da qual já falei anteriormente, e nos primórdios tivemos até um engenheiro mecânico. Tivemos também a Walkiria Schulz, que estagiou conosco de novembro de 1993 a novembro de 1994, visando a preparação do seu projeto final do curso, e que atualmente está cursando o mestrado no INPE, a qual, devido à sua recente graduação, colaborou com boa parte das informações mais atuais aqui expostas.
A seção está subordinada à Divisão do Segmento Espacial (DTS-3), que está subordinado ao Departamento de Transmissão via Satélite e este está sob a Diretoria de Desenvolvimento da Embratel. Embora localizados numa diretoria de desenvolvimento, exercemos tarefas de operação direta sobre o satélite. Essas tarefas envolvem o planejamento e a avaliação da execução de manobras (disparos de jatos) no satélite, visando o controle da sua posição no espaço, e já as realizamos com sucesso por 10 anos. A Embratel atualmente possui 4 satélites. O primeiro satélite (Brasilsat A1) começou a operar em 1985, o segundo (Brasilsat A2) em 1986, o terceiro (Brasilsat B1) em 1994 e o quarto (Brasilsat B2) em 1995. Os dois primeiros estão em final de vida, mas continuarão prestando serviços diferentes do que vinham prestando por mais alguns anos. Os dois mais novos substituiram estes nas comunicações já estabelecidas. Para o desempenho destas tarefas com êxito tivemos treinamento e, especialmente para os dois satélites mais novos, participamos de algumas atividades na fábrica em Los Angeles (Estados Unidos).
- Você trabalha com algum especialista em outra area?
A DTS-3 possui 3 seções: Seção de Engenharia de Satélite, Seção de Sistemas de Controle e Seção de Mecânica Celeste. Esta última se relaciona com as outras duas, onde trabalham engenheiros (eletrônico, aeronáutico e de telecomunicações) e analistas de sistemas. Há também uma forte interação com a COP-54, seção responsável pelo controle direto dos satélites, composta de técnicos em eletrônica e telecomunicações com treinamento específico.