Introdução
Sem que se conheça objetivamente, no campo, o que é uma formação geológica, é impossível fazer-se um mapa, um código de nomenclatura ou tomar qualquer outra atitude relacionada à Geologia. Esta é a razão porque, até hoje, não existem nem mapas geológicos, nem um código estratigráfico correto, aqui e alhures.
Todos os estudiosos e cientistas da Terra, ao longo do tempo, sentiram o problema. Estamos há quase 130 anos da primeira tentativa de fazer-se um código, sem o conseguir. O Primeiro Congresso Internacional de Geologia foi convocado para realizar-se em Paris em 1878 ..."to study uniformity in geologic reports with respect to nomenclature and map symbols. ("Principles of Stratigraphy". Dumbar. Carl O; Rodgers. J. Hohn Wiley & Sons Incorp. London. 1958.pg 290).
Realmente, nunca houve acordo sobre o que mapear para que houvesse de fato um mapa geológico.
A textura foi a primeira características da rocha a chamar atenção dos geólogos no campo, para tentar caracterizar uma formação. Se a rocha era composta de matacões, areias, siltes ou argilas, ou se tinha uma cor bem distinta (vermelha, preta etc) era o bastante para ser chamada de formação. Posteriormente verificou-se que, tanto uma como outra característica eram comuns para muitas formações e isso gerava confusão.
Com a invenção do microscópio1 e a crença de que o instrumento era mais poderoso para estudo das rochas, apareceram os petrógrafos e uma nova especialização, a petrografia. Por trabalhar com instrumento mais sofisticado os petrógrafos passaram a ter mais autoridade, e por isso eram também mais consultados para estudar e nomear rochas e até especular sobre sua origem quando apareceram teorias mirabolantes e desse ponto em diante as rochas passaram a ser contadas aos milhares159.
Os paleontólogos deram contribuição significativa para aumentar a confusão fazendo uma conexão imprópria entre fósseis achados nos pacotes sedimentares e os próprios sedimentos. Nunca mais os geólogos mapeadores foram capazes de fazer um mapa sem consultar as descrições petrográficas dos petrógrafos e esperar resultados de análises paleontológicas dos laboratórios de paleontologia. Existem mapas levados a sério dentro da Estatal brasileira de petróleo,34 que foram feitos apenas com esses recursos, não tendo por isso qualquer valor científico mas explicando o fracasso da pesquisa de petróleo naquela bacia. As variações naturais das porcentagens de minerais formadores da amostra determinadas pelos laboratórios de petrografia, subjetivas que eram, davam origem a uma nova rocha e as coisas ficaram cada vez mais complicadas.
Entretanto, as tentativas de conseguir um meio que levasse ao esclarecimento sobre a origem das formações, não pararam por aí. Geomorfólogos, sedimentólogos, geocronólogos, geofísicos, geoquímicos, químicos, botânicos, zoólogos e mais quem tivesse uma idéia a partir de uma especialização, poderia sugerir uma nova ciência para esclarecer o que mapear. De fato, havia um fator de origem técnica que impedia chegar à formação geológica, que não podia ser superado naquele tempo. Era o problema da escala do estudo.
Todas estas ciências anteriormente nomeadas são praticadas em escalas muito grandes (escalas humanas), algumas ampliadas e com elas fica impossível conhecer o que é ou o que venha a ser uma formação geológica. O estudo deste objeto da natureza, só pode ser feito com o auxílio de uma escala dez, cem e mil vezes menor (escala reduzida) do que as escalas usadas pelos técnicos dos estudos acima mencionados.
A confusão sobre o que mapear se tornou tal que (só nos Estados Unidos, em 1938, haviam 13.000 formações e possivelmente mais de 100.000 se fossem contadas as dos outros continentes. In Dumbar & Rodgers., Principles of Stratigraphy. New York. John Wiley & Sons Inc. 1957. pg 289). Os americanos decidiram convocar o primeiro congresso de geólogos para tentar um consenso, alguma disciplina, uma ordem, sobre o que deveria ser apresentado em um mapa com a finalidade de facilitar o entendimento do que se chamava geologia naquele tempo (1878). O Primeiro Congresso Mundial de Geologia foi realizado em Paris e tinha como finalidade exclusiva a padronização dos mapeamentos e dos relatórios geológicos (...uniformity in geological reports with respect to nomenclature and map simbols).
Os atuais participantes de congressos de geologia continuam a se preocupar com o assunto, sem que até agora tenham encontrado uma solução para o problema.
O Código Brasileiro de Nomenclatura Estratigráfica,36 uma espécie de tradução do código americano acrescido de mais e maiores complicações, não tem qualquer chance de funcionar, pois, certamente, é difícil nomear algo desconhecido, sem que a coisa nomeada se torne empirica, fluida e subjetiva. Uma de duas hipótese existe: ou a natureza é confusa e jamais poderemos conhecer o seu funcionamento e origem das coisas, hipótese descartada, ou ela é de fato algo claro e simples, apenas que ainda não foi desvendada a maneira correta de estudá-la.
Só é possível estudar a natureza através de um mapa correto, e este só poderá ser construído, se tivermos uma unidade definida para mapeamentos, independente de qualquer princípio matemático.
A formação é um corpo rochoso e existe, de fato, no campo. Apenas tende a passar despercebida devido ao seu tamanho. Ela é objeto de estudo em escalas diminutas, e não foi possível descobrir o que deveria ser mapeado ao tempo dos pioneiros, apenas porque não havia instrumentação e escala própria para que o estudo tivesse sucesso. Em outras palavras, não foi possível descobrir a existência da formação geológica antes, porque não havia sido descoberta uma maneira técnica de poder observá-la, predominando o resultado da observação pessoal feita pelos pioneiros, em escala inadequada, o que a tornava subjetiva nas descrições.
Dissemos acima, para poder observar o que é uma formação geológica há necessidade de escalas diminutas. Esta possibilidade só apareceu no Brasil em 1971, quando foram obtidas imagens de radar do território brasileiro em escala de 1/400.000 e ampliadas para 1/250.000. Essas imagens foram recortadas em quadrículas de um grau por um grau e meio que abrangem 18.481,5 km2, e, mesmo assim, uma quadrícula dessas, compreende parte mínima de uma formação. São necessárias várias delas para distinguir uma parte de qualquer formação. Para fazer-se ídéia do tamanho de uma formação, Zeta (basaltos marinhos que surgiram com a separação continental) cobre cerca de 70% da área do globo terrestre, enquanto a Formação Alpha aparece em estimativamente 10%.
A concepção da existência física de UMA e somente uma formação geológica dentro da Bacia do Recôncavo, decorreu da verificação de que todas as dificuldades técnicas existentes nela são facilmente corrigidas, se, no lugar de tantas formações houvesse uma só. A evidência de que esta é a atitude correta viria do estudo da paleontologia.(Ver o título "Evidências do Erro Paleontológico").
Naquela bacia, inexplicavelmente, ocorrem fósseis antigos misturados com fósseis jovens (fósseis anacrônicos nos mesmos sedimentos) sem que haja explicação para o fenômeno. Para não serem admitidos sob este ângulo de visão são invocadas falsas soluções (desabamento das paredes dos poços, contaminação do fluido de perfuração, má lavagem dos equipamentos usados em outros poços, diápiros etc) a título de explicação para justificar-se o fenômeno. De fato, incorre-se em um erro grave: mapear-se refosilizações.
Os fósseis que ocorrem na Bacia do Recôncavo são todos redepositados ou refossilizados é o que se conclue do estudo detalhado dos poços construídos naquela bacia em busca de petróleo (Ver os arquivos "Evidências do Erro Paleontológico pg?).
A inexplicada mistura de fósseis do período Cretáceo da era Mesozóica, com fósseis do período Devoniano da era Paleozóica e mesmo os fósseis mais abundantes do Cretáceo, que se misturam entre si (fósseis da formação Ilhas encontrados na formação Aliança, na formação Sergi etc), causam confusão e prejudicam a correta exploração do petróleo da Bacia e distorcem a História Geológica.
Ora, se a natureza trabalha ordenadamente, é evidente que deve haver uma causa para o aparente absurdo (corrupção da Segunda Lei da Sedimentação). A pesquisa esclareceu o assunto, que se resume em redefinir a coluna estratigráfica da bacia determinando com isso a razão da mistura.
A estratigrafia como chave da ciência geológica, necessita uma revisão e conseqüentemente um novo código. O assunto se torna mais importante porque o problema não se verifica só no Brasil. Realmente o panorama da ciência geológica no Brasil é apenas um reflexo da ciência praticada no resto do mundo.
A confissão de que a Geologia como atualmente entendida é confusa e desnorteada em todo o mundo é bem caracterizada em um livro publicado após um congresso sobre estratigrafia realizado em Bad Honnef (1982) nas vizinhanças de Bonn na antiga Alemanha Oriental, cujo título Stratigraphy, Quo Vadis?24permite a interpretação de que a desorientação atual da ciência continua. Trinta e oito Doutores, mais dezesseis professores de quatorze países, ao fim do Congresso, continuaram tão inseguros como antes dele, porque nada foi resolvido sobre o problema central da Geologia: qual a unidade de rochas, e como mapeá-las.
A solução do problema foi dada no Brasil em 1986 em trabalho apresentado ao Congresso Brasileiro de Geologia realizado em Goiânia,37, quando foram descartadas as várias formações em que era subdividida a coluna estratigráfica da Bacia do Recôncavo (formação Aliança, Sergi, Ilhas, Candeias etc), substituindo-as por uma só: Formação Eta, no padrão do novo código aqui proposto. (clique nas figuras para vê-las ampliadas)
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um corpo rochoso formado na litosfera como produto final da gravidade atuante no núcleo do planeta.A litosfera é passiva. Move-se impulsionada por movimentos que acontecem no magma do manto, gerando em superfície várias estruturas, inclusive as formações geológicas. Desse critério de estudo surgiram três conclusões importantes para a história da Terra:
O Novo Código
A. Base Filosófica do Código
Art. 1o - Este código tem como princípio o fato da Geologia ser uma ciência histórica e a Estratigrafia ser a chave dessa história.
B. Das Unidades de Rocha
Art. 4o - A unidade básica para mapeamento geológico é a formação geológica.(Ver figura acima).
Art. 5o - Uma formação geológica é identificada pela sua litologia.
Art. 6o - A litologia de uma formação compreende os seguintes parâmetros os quais fazem parte da sua descrição: nome da formação, origem, ocorrência, correlações, posição estratigráfica, texturas, estruturas, composição mineral, propriedades físicas e economia.
Art. 7o - Os limites superior e inferior de uma formação, ou os seus contatos, são necessariamente discordâncias.
Art. 8o - O coletivo de formação é um grupo que é termo de referência, mas não é mapeável.
São dois os grupos existentes no globo: o primeiro grupo formou-se antes da separação continental e o segundo, depois.
Art. 9o - Parte de uma formação é um membro e seu mapeamento é facultativo dependendo da sua importância econômica ou científica.
C. Das Unidades de Tempo Geológico
Art. 10o - A unidade de tempo geológico é o período e necessariamente corresponde à espessura de uma formação, sem conotação com número de anos.
Obs. - São onze os períodos geológicos: cinco gravados na segunda era e seis na terceira era.
Art. 11o - O coletivo de período é uma era.
Obs. - São três as eras geológicas. A primeira não foi gravada litologicamente. A segunda e a terceira são referidas a antes e depois da fragmentação continental.
Art. 12o - Parte de um período é uma época e corresponde a um membro de uma formação.
D. Nomenclatura da Unidade de RochaArt. 13o - A nomenclatura da unidade de rocha é formada de dois verbetes: a palavra formação seguida da letra do alfabeto grego correspondente à unidade como definida (ver a descrição das formações. Quando conveniente, o primeiro verbete pode ser abstraído. Ex. formação Alpha ou apenas Alpha.
Art. 14o - A nomenclatura do grupo é formada por esta palavra, seguida do nome do fenômeno físico ligado ao grupo, com a terminação iânico. Ex.: Grupo Atlantiânico para as formações aparecidas após a separação continental ou Grupo Pangaeiânico para a formações sedimentadas ao tempo do monocontinente.
Art. 15o - A nomenclatura do membro se faz com esta palavra, seguida de um nome geográfico conveniente.
E. Nomenclatura das Unidades de Tempo
Art. 16o - A nomenclatura das eras é feita com a palavra era, seguida do verbete correspondente ao acidente físico que a caracteriza, com a terminação iânica. Ex. Era Atlantiânica.
Art. 17o - A nomenclatura do período se faz com esta palavra seguida do nome da formação correspondente, com a terminação iano. Ex. Período Alphaiano, Betaiano etc. A terminação caracteriza o tempo e dessa maneira, quando conveniente, pode-se abstrair o verbete período.
Art. 18o - A nomenclatura da época é feita com o nome da formação, seguida do designativo superior, médio e inferior. Ex.: Eta inferior, Eta superior; Kappa médio etc.
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