HISTÓRIA DA GEOLOGIA


Segunda Parte

Renascença: Grandes e Novas Idéias

O que se pode notar é que a despeito da oposição da Igreja os mais curiosos continuavam a procurar as suas respostas. Mesmo sem embasamento da tecnologia, mesmo intuitivamente, tentava-se uma explicação das coisas ao redor. Pitágoras além dos magníficos ensaios matemáticos sugere as reencarnações e os espíritos. Na Grécia há deuses para tudo e todos, dos quais dependem as coisas deste mundo.
O geocentrismo, vindo desde Aristóteles 400 anos AC firmou-se com o Almagest de Claudius Ptolomeu e assim, com o total apoio eclesiástico, prosseguiria até Copérnico em 1543, quando a Terra não é mais o centro, seguido de Kepler em 1609 que mostra que movimento da Terra ao redor do Sol não é um círculo, mas uma elípse com o Sol em um dos focos.
Terminada a idéia do geocentrismo, que ficaria pelo caminho descartado por melhores observações astronômicas, havia uma segunda idéia que, daquela época até hoje, não foi e não está compreendida, e se mantém encastoada nos problemas científicos de maneira prejudicial, como se fosse uma obra das divindades. Trata-se da existência do homem, de onde ele veio e para onde irá quando morrer.
O desconhecimento da origem das espécies e da vida, faz do homem, até hoje, a imagem e semelhança de Deus, com o sopro divino nas narinas e com a autoridade de dominar, tanto o âmbito da família como sobre toda a Terra e as coisas nela existentes5. É sobre este pano de fundo que acontece o chamado Renascimento, caracterizado por um salto em todos os ramos da ciência, uma revolução sobre as idéias vigentes: a substituição do sistema geocêntrico pelo heliocêntrico na astronomia; a invenção da imprensa, do papel, da bússola e da pólvora, as grandes navegações e o descobrimento de novas terras além de novos estilos das artes e das letras, marcam a reviravolta na mentalidade humana. Surgia o Humanismo como uma revolta no pensamento dos homens seculares contra a enclausurante ortodoxia religiosa, por um novo estilo de vida e nova concepção da natureza. Essa revolta atinge a estrutura da própria Igreja que sofre o efeito da quebra da sua hegemonia sobre o pensamento das pessoas. É Martinho Lutero o grande herói no início do século XVI. Vejamos a repercussão dessas novas idéias nas ciências geológicas.

A Reforma

A Reforma protestante no início do Século XVI, foi chefiada por Martinho Lutero (1483-1546) é considerada como o primeiro grande salto do pensamento medieval para o Renascimento. A Reforma de Lutero quebraria o poder hegemônico e cruel da Igreja. Esta, percebeu, naquele tempo, aquilo que ainda hoje continua a ser o motivo principal da cobiça humana: a riqueza é uma coisa muito boa para quem tem o dinheiro. Nada mudou de lá pra cá. As igrejas, mesmo as reformadas e todo o seu gigantesco leque de variedades continua a praticar a mesma filosofia. Naquele tempo, na busca incessante de dinheiro e riqueza, foi produzido pelo bispo de Mainz e Brandenburg, um documento chamado "Instructio Summarium" com instruções completas para todos os padres dos territórios dominados de como vender melhor as indulgências. Lutero teve acesso ao documento e daí preparou um contra-ataque com suas 95 teses, com as quais preparou a seu "Sermão da Indulgência" em uma linguagem popular, estopim que estouraria o poder, dividindo a igreja católica, surgindo oficialmente em 1529 o Protestantismo. A grande vantagem desse cisma, foi o salto qualitativo de uma nova espécie de liberdade, que, mesmo limitadamente, levaria no futuro a Copérnico, Bruno, Kepler, Galileu e Newton.

Astronomia

Entre a segunda metade do século XVI e a primeira do XVII, viveram quatro homens geniais: Giordano Bruno, Johannes Kepler e Galileu Galilei que foram precedidos por Nicolau Copérnico e sua revolução sobre a posição do planeta no sistema, iniciada com a publicação do De Revolutionibus Orbium Coelestium em 1543. Esta obra de Copérnico, embora ainda com erros, inaugura o heliocentrismo.

O Sistema Heliocêntrico

Nicolau Copérnico99 (original polonês, Mikolaj Kopernik, 1473-1543), natural de Torun, Polônia, torna pública a sua idéia do heliocentrismo, primeiro em forma de um sumário manuscrito - Commentariolus- depois em forma mais completa no ano da sua morte, em 1543.
Tenha-se em conta que, nos quatorze séculos entre a proposição geocêntrica ptolomáica e o renascimento da idéia heliocêntrica de Aristarco através de Copérnico, a explicação dos movimentos dos corpos celestes foi se complicando cada vez mais, só porque as observações eram feitas da Terra, como se ela fosse o centro dos movimentos. Além disso havia um número cada vez maior de observadores e conseqüente maior número de planetas e estrelas sendo descobertas no céu, dificultando a explicação do conjunto de movimentos. Outra característica interessante para o pesquisador, diz respeito ao progresso da ciência, que era, contraditoriamente, impulsionada pelos elementos da própria igreja, desde que era dentro dela que havia os melhores estudantes, bibliotecas e tempo disponível para aqueles estudos. Copérnico estudou na universidade em Cracóvia transferindo-se mais tarde para Pádua na Itália voltando à Polônia em 1503 passando a residir em Frauenburg, onde, em 1497, fora eleito cônego da catedral daquela cidade, posição esta que lhe garantiria a sobrevivência daí por diante. As observações de Copérnico tinham começado exatamente em 1497, e quanto mais estudava mais inconformado ficava com as dificuldades apresentadas pelo sistema ptolomáico.
Para Copérnico, o centro do sistema era o Sol, e os planetas giravam ao seu redor em círculos (este era o erro!), característica esta, que, também não satisfazia os movimentos observados.
Essa dificuldade ele tentou explicar criando o equant, (um ponto no espaço de onde os movimentos circulares poderiam ser observados perfeitamente), mas mesmo assim, continuavam as dificuldades. Alguma coisa tinha melhorado na elegância da apresentação e resolução de algumas questões importantes, mas outras continuavam complicadas na compreensão geral. A perfeição do círculo como obra de Deus, mesmo colocando o Sol ao centro do sistema, atrapalhava muito.

No século XVI surge outro grande cientista, especialmente dotado de paciência na observação, ainda mais, munido de instrumentos muito mais potentes e sofisticados que os usados até então. Tycho Brahe104 (1546-1601), astrônomo dinamarquês que fez milhares de observações e acabou por descartar os dois principais sistemas explicativos até aquele tempo, criando um terceiro que ficou conhecido como Sistema Tychônico. Tal sistema conservava a Terra no centro, uma herança da cultura grega condensada no Almagest de Ptolomeu, mas os outros planetas giravam ao redor do Sol, relembrando Copérnico e sua revolução. Era uma espécie de meio termo, e por isso mesmo, também insatisfatório.

Lentamente iam surgindo as idéias geniais. Giordano Bruno (em baixo a esquerda) ou Filippo Bruno, Il Nolano105 (1548-1600), filósofo, astrônomo e matemático italiano nascido em Nola nas vizinhanças de Nápoles, cujo nome foi tomado quando se tornou clérigo no convento napolitano de São Domingos, viveu a vida do convento durante dez anos e lá estudou até doutorar-se em Teologia.

Mas também estudou com afinco a cultura e a filosofia grega. Criticou a filosofia aristotélica e seus seguidores, mostrando que os movimentos não poderiam ser comandados por algo que fosse estático. Nada é imóvel, inclusive a Terra, dizia ele, ao contrário do que proclamava a religião. O Universo não é finito e limitado, mas infinito e ilimitado. A Terra não é o centro do Universo8 e existiriam outros mundos habitados como o nosso. A mente humana seria idêntica a mente divina e o homem poderia penetrar e entender toda a natureza, sendo essa uma obrigação, não somente de ordem moral, mas também cognitiva. Era um homem fora do seu tempo.
A meditação sobre esses assuntos, provocou admoestações de seus superiores e afastou-o pouco a pouco da ortodoxia católica, sendo afinal processado por heresia. Começa então uma vida de fugas. Inicialmente foi para Roma, em seguida para Suíça e depois para a França. Em Berna, professou o calvinismo uma variedade do protestantismo, onde verificou que qualquer religião é tão despótica e castrante como qualquer outra e abandonou também a seita protestante. Escreveu muitos livros que fizeram escola, e morreu na fogueira da Santa Inquisição em 1600 e até agora não foi reabilitado.

Finalmente no fim do século XVI, surge Johannes Kepler70 (1571-1630), (à esquerda), astrônomo alemão que após ter publicado um trabalho sobre observações celestes quando era professor de matemática e retórica em Graz, Áustria, foi convidado por Tycho Brahe para ser seu assistente no observatório de Praga.
Com a morte de Ticho em 1601, Kepler foi o seu substituto natural e assim, apoiado nos pacientes e precisos trabalhos do dinamarquês, Kepler chegou às, hoje famosas, Leis de Kepler, dando precisão matemática e colocando ordem na posição e no funcionamento dos corpos celestes pela solução dada aos movimentos do planeta Marte, mistério que preocupou todos os astrônomos antes dele. O movimento do planeta era estranho, pois se fazia em uma direção, era interrompido, isto é, o planeta "parava", "retrocedia", "parava" de novo e retomava seu curso "normal". Kepler mostrou que isto era o resultado de observar-se o movimento do planeta como se a Terra fosse o centro do sistema. Esta nova visão modificou toda a concepção do sistema solar. As órbitas não eram mais circulares como pensava Copérnico, mas elípticas e o Sol está em um dos focos; a velocidade do movimento dos planetas não é constante; constante é a área varrida pelo raio que une o planeta ao Sol (áreas iguais em tempos iguais); o quadrado do tempo que um planeta gasta para dar uma volta ao redor do Sol é proporcional ao cubo do raio médio da sua órbita.
As duas primeiras leis apareceram em 1609 e a terceira quase dez anos depois em 1618. Elas nunca foram numeradas por Kepler, mas faziam parte de uma coleção de muitas outras descobertas feitas pelo grande pesquisador.
Ele formulou tabelas (A figura ao lado é a capa das Rudolphine Tables)111 para predizer a posição dos corpos celestes; tabelas de refração e de logaritmos; fez um mapa com 1.005 estrelas com a ajuda das observações de Ticho Brahe e inventou o telescópio kepleriano, a semente do moderno telescópio refrativo.

Contemporâneo de Bruno e Kepler, Galileu Galilei9(1564-1642), (abaixo à esquerda) modificaria toda a concepção aristotélica dos movimentos, e usando o telescópio de uma maneira prática, demonstrou o movimento dos planetas e satélites.

Nascido em Pisa139, fez seus primeiros estudos no Monastério de Vallombrosa, entrando para a Universidade de Pisa para estudar medicina. Na Catedral daquela cidade, diz a história, observando os movimentos de uma lâmpada notou que tais movimentos gastavam o mesmo intervalo de tempo para realizar uma oscilação completa a despeito do tamanho da oscilação.
Ao regressar à sua casa, passou a verificar o fenômeno experimentalmente e concluiu que aqueles movimentos podiam ser adaptados para regular os relógios. Daí em diante passou a estudar matemática, geometria e ciência. Em 1586 publica um trabalho sobre a balança hidrostática que o torna famoso em toda a Itália. Três anos depois sai o tratado sobre o centro de gravidade dos sólidos e ganha com isto o cargo de professor de matemática ainda na Universidade de Pisa onde começa suas pesquisas sobre o movimento dos corpos. Descarta como princípio que a queda dos corpos dependeria do seu peso e do material de que era formado, como ditava a sabedoria aristotélica desde antes da era cristã.
Dificuldades financeiras levaram-no a Pádua onde desenvolveu grande parte de suas pesquisas sobre o movimento dos corpos de onde concluiu a lei sobre o movimento acelerado. Em 1609 é que inicia a aplicação prática do uso do telescópio mostrando que era possível ver objetos a grandes distâncias como os navios mar a fora. Deu prosseguimento às experiências com maiores e melhores lentes por ele mesmo construídas, voltando-as para o céu.
Desse ponto em diante completa-se a revolução iniciada pela imaginação de Copérnico. Galileo descobre, para desespero do clero, que a Lua não era perfeita, como se tinha impressão quando observada da Terra, mas tinha uma superfície irregular cheia de montanhas; descobre que a Via Láctea é formada por milhões de estrelas; descobre os satélites de Júpiter; observa as manchas na superfície do Sol, os anéis de Saturno e as fases de Vênus. Tudo o que observou levava a um ponto comum: o conhecimento platônico/aristotélico deveria ser descartado pois atrasava o conhecimento científico da Terra, dos movimentos, da Astronomia etc. Em outras palavras, todo o conhecimento adquirido até aquele momento deveria ser zerado para começar tudo de novo.
O sistema de Copérnico era melhor e deveria ser usado como a estrutura funcional do Universo. Galileo escrevia em italiano e por isso seus trabalhos tornaram-se muito populares. Isso provocou um grande movimento de opiniões favoráveis e desfavoráveis a Galileo. A Igreja a princípio comportou-se com tolerância, mas entre os cientistas da época, houve muita má vontade, ciúmes e despeito pois eles não admitiam que seus conhecimentos e cultura estivessem errados como demonstrava Galileo. Os contrários às novas idéias então arquitetaram um plano para vingança, uma vingança vil. Demonstraram aos homens do clero que as teorias de Galileo contrariavam os evangelhos e levantaram suspeitas contra ele. Os padres descarregaram seus sermões dos púlpitos contra o cientista e acabaram por denunciá-lo à Inquisição pelas suas blasfêmias. A teoria não deveria ser rejeitada por estar errada, mas porque contrariava os evangelhos! Essa disputa provocou, em 1616, um decreto por parte da igreja onde se pretendia combater e erradicar o copernicalismo como ficariam conhecidas as idéias do heliocentrismo:

"Proposições a serem proibidas: que o Sol é imóvel ao centro do Universo; que a Terra não esteja no centro dos céus e não seja imóvel, mas se mova com dois tipos de movimento."
Isto é, a Igreja, por meio de um decreto, parava a Terra ao centro do Universo e fazia o Sol girar ao redor dela.
Galileo foi considerado pela Igreja Católica, mais pernicioso do que Lutero e Calvino que já tinham feito as reformas protestantes (1529) cometendo um erro de avaliação. O principal golpe na autoridade totalitária da igreja daquele tempo foi, sem dúvida, a revolução do Protestantismo saída da atuação de Lutero.
Foi especificamente proibido de falar sobre o copernicalismo sob qualquer pretexto e de qualquer forma, sob pena de enfrentar as sanções do Santo Ofício, o que finalmente veio acontecer quando foi acusado de heresia, julgado e condenado a prisão domiciliar perpétua.
Galileo, para não fugir à regra, não levou as leis de Kepler, seu contemporâneo, na devida conta, o que o impediu de formular a lei da inércia. Ele, como Copérnico, só aceitava o movimento circular como o movimento correto para corpos ao redor da Terra como do Sol, o que de fato o impediu de formular a lei da gravitação universal antes de Newton.
Realmente foi Galileo que formulou a força como um agente mecânico e fez a ligação entre a física e a matemática, antes dele duas ciências independentes, deixando para Newton a precisão de cálculos e fórmulas.
Uniu as ciências celestiais com as terrestres e enfatizou que
O livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos9,139
princípio hoje contestado por evidências geológicas e estratigráficas37.
A queda dos corpos, o equilíbrio e movimentos dos corpos em um plano inclinado e o movimento de projéteis são frutos de suas observações e experimentações.
Ele usou todos os argumentos possíveis para convencer os do seu tempo, que era mais lógico conceber novos princípios sobre o sistema solar, modificando os velhos e obteve grande sucesso por isso, menos por parte de seus colegas e da Igreja que, por essa altura apertava o cerco e as cravelhas dos que ousavam enfrentar seus dogmas.
Galileo foi traído por um falso amigo e teve de enfrentar a Inquisição, e, se escapou da fogueira, não conseguiu escapar da prisão domiciliar a que foi condenado, tendo assinado antes7:
"Eu, Galileo Galilei... ...tendo diante dos meus olhos e tocando com as minhas mãos os Santos Evangelhos - juro ter sempre acreditado, acreditando agora, e com a ajuda de Deus irei acreditar no futuro, em tudo o que é admitido, pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Entretanto, uma vez que uma injunção foi judicialmente sentenciada à minha pessoa por este Santo Ofício, no sentido de que eu deva, de uma vez por todas, abandonar a opinião falsa de que o Sol seja o centro do mundo e imóvel, e de que a Terra não seja o centro do mundo e se mova, e de não poder sustentar, defender ou ensinar, sob qualquer forma que seja, verbalmente ou por escrito, a dita doutrina e, ainda, que eu, mesmo após ter sido notificado de ser a dita doutrina contrária às Santas Escrituras - tenha escrito e feito publicar um livro no qual essa doutrina, de antemão condenada, é, não só discutida, como, também, fortalecida com argumentos de grande coerência em favor da mesma, sem, no entanto, apresentar nenhuma solução para os mesmos; e assim, por esta causa eu tenha sido pronunciado pelo Santo Ofício como altamente suspeito de heresia, isto é, ter sustentado e acreditado ser o Sol o centro do mundo e imóvel, e a Terra não ser o centro e se mover. Portanto... desejoso de remover das mentes de Vossas Eminências... ... esta forte suspeita contra mim... com inquebrantável fé eu abjuro, rejeito e detesto os erros e heresias acima mencionados... ... e além disso, se vier a tomar conhecimento de algum herege, ou pessoa suspeita de heresia, eu a denunciarei ao Santo Ofício... ...E, na eventualidade de eu vir a desobedecer (que Deus não mo permita!) a qualquer uma dessas promessas, protestos e juramentos, submeto-me a todas as dores e penalidades impostas e promulgadas nos cânones sagrados... ...contra tais delinqüentes."
A reabilitação de Galileo em novembro de 1992, 359 anos depois de ser condenado à prisão perpétua para não ser queimado vivo, constitui apenas um segundo erro cometido pela Igreja, que não reabilitou todos os que sofreram a perseguição dos Torquemadas e outros representantes da fúria papal daquele tempo. Hoje continua a cometer os mesmos erros, tentando solucionar problemas científicos, publicando bulas e encíclicas (problemas de aborto, combate à AIDS, uso de preservativos, miséria, homossexualismo etc).
O processo contra Galileo, a fogueira em que foi transformado Bruno, as torturas infligidas a Campanella e outros atos de barbaridade cometidos contra a população de modo geral, amedrontaram os pesquisadores das bordas do Mediterrâneo e as pesquisas científicas se deslocaram para o norte da Europa.

No mesmo ano que morreu Galileo, nasceu Isaac Newton153 (1642-1727) físico e matemático inglês, cujos trabalhos se espalham por quase todos os campos da ciência, todos ligados por observações e aplicações de fórmulas matemáticas extraordinárias.

Astronomia, Biologia, Mecânica Celeste, Ótica, Filosofia e Teologia são alguns dos ramos onde Newton desenvolveu estudos de grande influência para a posteridade. Para o conhecimento da Terra e do sistema solar, produziu alguns trabalhos definitivos.
Baseado nas leis de Kepler e Galileo, Newton compreendeu e transformou em fórmula matemática a lei básica da natureza: a gravitação ou força gravitacional. De fato até aquela época, já conhecida a forma dos astros e a estrutura do sistema, faltava conhecer como eles giravam isolados no espaço ao redor de si mesmos e os planetas ao redor do Sol. Que os mantinha unidos? Por quê não se deslocariam em linha reta espaço a fora segundo a lei da inércia? Tudo o que se aprendera desde Aristarco de Samos, passando por Copérnico, Ticho, Kepler e Galileo foi condensado por Newton em 1687 de maneira simples e extraordinária em Philosophiae Naturalis Principia Mathematica: a força gravitacional, que mantém a mecânica e o equilíbrio dos corpos, sejam ou não celestes, depende da razão do produto da massa dos mesmos pelo inverso do quadrado da distância que os separa.

A explicação mecânica do movimento dos corpos fora resolvida. As três leis que governam os movimentos ficaram estabelecidas e foi possível compreender com clareza o comportamento da Terra e seu satélite, ao redor do Sol, bem como de todo o sistema. Já na Civilização do Petróleo, no Século XX, foguetes, estações espaciais e satélites de comunicação giram, flutuam ou estacionam ao redor do planeta como resultado dos estudos desse extraordinário cientista
Um planeta obedece as leis dos movimentos, mas são atraídos constantemente por uma força que ele chamou de gravitas, uma palavra do latim antigo que quer dizer peso. (Ver a ilustração reproduzida da Encyclopaedia Britannica.)
Houve resistência por parte dos cientistas mais antigos da época em aceitar o princípio da ação de uma força invisível que se exerceria a distância, e na época, ele, Newton, chegou a ser ridicularizado pela idéia da gravitação7. Os cientista mais jovens entretanto fizeram de Newton seu modelo e dentro de uma geração, quando os cargos de professores nas principais universidades inglesas foram ocupados por esses jovens, as idéias da gravitação foram aceitas e permanecem até hoje. Newton escreveu outros trabalhos sempre procurando encontrar explicações para a natureza do Universo: Física (Ótica, 1704), Matemática (Aritmética Universalis, 1707), Filosofia e Teologia e morreu em 1727.

O Telescópio

Antigamente, à vista desarmada, a observação dos astros e estrelas, satélites e galáxias era feita com a mesma sensação que qualquer um de nós tem ainda hoje. Havia de fato uma barreira para que melhores observações fossem feitas: a distância. Os curiosos daquele tempo necessitavam de um instrumento que auxiliasse os olhos para prosseguir pesquisas e distinguir detalhes onde poderiam estar as resposta para muitas perguntas. O resultado dessa falta de técnica e instrumentos era a especulação imaginativa sobre problemas desconhecidos, exatamente como faziam os filósofos aristotélicos e como continuam fazendo hoje alguns dos modernos cientistas e, os daquele tempo, naturalmente, não podiam passar disso. O instrumento necessário para cobrir esta lacuna estava em gestação: era o telescópio, o aparelho usado para ver objetos à distância ou, diminuir a distância a determinado objeto, para melhor observá-lo. O nome deriva do grego tele (distância) e skopein (ver).
Por ser um instrumento que usa lentes, sua história se confunde com a do vidro e do microscópio. Os vidros e seu comportamento, eram conhecidos de há muito tempo. As lentes se tornaram necessárias à leitura de livros após o aparecimento da imprensa no século XV e mesmo para melhorar a visão das coisas triviais. Diz a história que foi o holandês Hans Lippershey117 que inventou o telescópio em 1608. Entretanto em 1609 já haviam muitos telescópios a venda tanto em Paris como em Londres tanto na Itália como na Alemanha. A verdadeira origem não é um ponto crucial para a discussão da história da Terra, mas o uso que dele se fez para o referido estudo. Foi Galileo, depois de receber a informação sobre o novo aparelho, que teve a idéia de construir o seu próprio telescópio segundo as leis básicas da ótica, com um poder de aumento de apenas três vezes e voltá-lo para observar os astros no céu. Montou ele em um tubo de cobre, duas lentes, uma côncava e a outra convexa e a partir dessa primeira experiência, melhorou o tamanho e o polimento das suas lentes, chegando a usar lentes de 4,5 centímetros de diâmetro com aumento de 33 vezes. Foi com um aparelho desses que Galileo descobriu que a Lua não era perfeitamente lisa como se pensava, mas tinha montanhas e vales maiores que os da Terra; viu os satélites de Júpiter; mostrou que Vênus tinha fases parecidas com as da Lua e que a Via Láctea era formada de milhões de estrelas. A partir desse ponto é que se tornou um defensor da teoria heliocêntrica de Copérnico e quase morreu queimado como relatado. Foi somente a partir da possibilidade dada pelos telescópios que se pode compreender a verdadeira natureza dos movimentos planetários a partir das observações de Tycho Brahe, Kepler e Newton. Depois do telescópio galileano, surgiram vários melhoramentos como o de Kepler, onde a lente ocular é convexa e colocada atrás do foco.
Em 1640, William Gascoigne98 adapta o micrômetro que servirá para medir os diâmetros dos planetas e localizar com precisão a posição dos planetas, do Sol, da Lua e das estrelas. As aberrações cromáticas foram obstáculo até 1758 quando Peter Dollond (1730-1820), baseado nas idéias de Chester Moor Hall55(1703-1771) de 1733, inventou as lentes acromáticas, a partir de quando a Astronomia toma um grande impulso entre 1850-1900.
Já em 1663, James Gregory46b (1638-1675), um matemático escocês tinha sugerido uma nova espécie de telescópio que foi chamado de refletor (figura ao lado, sup.), uma alternativa aos refratores (figura inferior), pois a luz seria refletida e não refratada evitando o fenômeno da aberração cromática.
Naquele tempo não havia polidores com habilidade bastante para polir espelhos e que pudessem construí-los com perfeição. Esse obstáculo foi ultrapassado em 1672 por Newton que se dedicou a fazer o espelho de metal com uma liga de estanho e cobre que instalou em seu telescópio apresentado a Royal Society naquele ano.
De 1740 em diante os telescópios refletores foram muito usados e ficaram famosos com os trabalhos de Sir William Frederick Herschel 46 (1738-1822) o descobridor do planeta Urano em 1781 e por isso chamado o Pai da Astronomia Estelar. Urano foi descoberto com um refletor de 18cm, mas Herschel, que construía seus espelhos e telescópios, chegou a construir espelhos de 48 e de 122cm em 1789.
Posteriormente apareceram os espelhos recobertos de prata até o aparecimento dos telescópios Schmidt em 1930, os quais incorporavam as vantagens tanto dos telescópios refletores, como dos refratores, permitindo fotografias de áreas do céu, muito maiores que as colhidas pelos outros telescópios.(Figura ao lado).
Em 1948 passa a funcionar o refletor de 5 metros de diâmetro no Monte Palomar na Califórnia, EUA que junto com o Observatório de Monte Wilson, formam os Observatórios Hale em homenagem ao astrônomo americano George Ellery Hale 48(1868-1938). O telescópio de Monte Palomar foi o maior refletor do mundo até 1976 quando foi completada a construção do Observatório de Monte Pastukhov nas montanhas caucasianas onde foi montado um refletor de 6m de diâmetro pelos cientistas ainda da antiga URSS.
Atualmente já estão em funcionamento no hemisfério sul, os observatórios de Paranal e La Silla, ambos nos Andes chilenos, patrocinados por uma comunidade de paises europeus (ESO). Em Paranal, foram construidos quatro supertelescópios de 8,2m de diâmetro cada um, os quais funcionarão com um interferômetro, que reunirá a luz provinda de um astro, equivalendo a um espelho de 16m. Isso equivale ao maior telescópio jamais construido e que permitirá colher imagens mais distantes, quando comparadas aos atuais observatórios. Praticamente na última década do século XX, entram em cena os foguetes transportadores de engenhos capazes de fotografar e transmitir de volta, informações mil, quer pousando diretamente na superfície dos planetas, quer passando ao longe.
Entre o telescópio de Galileo que ampliava apenas três diâmetros construído no início do século XVII (c.1609) e os observatórios da ESO (European Southern Observatory) em Cerro Paranal (Andes chilenos) e seu interferômetro e os observatórios volantes enviados a Vênus (US Magellan) para mapeamento da sua superfície com radar; os Voyager 1 e 2, enviados na direção dos planetas exteriores em 1989, o programa Discovery iniciado em 199315 e o lançamento do Hubble Space Telescope (HST) em um shuttle space Discovery em 1991, que tem capacidade de resolução 10 vezes maior que qualquer telescópio montado na Terra, existe uma distância temporal de quase 400 anos, e, fora das especulações dos cientistas atuais, estamos longe de compreender como foi o início do universo e como será o seu fim.
De fato, fora das naturais especulações, nada se sabe ao certo sobre a Terra que habitamos; da Lua nosso satélite natural; dos planetas mais próximos e nem pensar sobre os mais distantes. Precisaremos de maiores e melhores aparelhos... para continuar exatamente no mesmo ponto onde estamos, especialmente por falta de objetividade das pesquisas.
A observação é válida: desde os tempos mais antigos, a espécie humana, depois de determinado estágio de consciência, levantou e manteve a curiosidade sobre a origem do planeta que habitava e sobre a sua própria origem. As primeiras especulações sobre o assunto tinham de ser deístas em virtude do próprio atraso técnico e científico natural daqueles tempos. Os sábios e filósofos da antigüidade, tinham como caminho mais fácil as explicações sobrenaturais e metafísicas. Moisés e Hesíodo são exemplos desse tipo de "cientistas" se assim pudéssemos chamá-los. Entre as especulações desses poetas (1400-1200 AC) e as conclusões dos estudos de Copérnico (1543 DC), vão mais de 2900-2700 anos. Mais setenta anos de observações e estudos desembocam em Kepler e as leis dos movimentos dos astros (1609). Em 1632 é Galileo que publica suas observações e comparações entre os dois sistemas celestiais, descartando um deles e em 1687, ou apenas 50 anos decorreram até que a publicação dos Principia de Newton desse as fórmulas e leis definitivas para que a ciência se desenvolvesse de maneira mais coerente. Notável é o encurtamento das distâncias temporais gastas para que pudéssemos entender a correta estrutura geral do Sistema. A medida que o homem ganhou mais liberdade (Revolução de Martinho Lutero), destruiu idéias velhas, sobre elas construindo outras mais novas e mais simples.
Observemos a continuação da história

Anderson Caio