Poesias
de Brecht
(contribuição do companheiro Roberto Guedes) |
BERTOLT BRECHT - (1898-1956) nascido em
Augsburgo na Alemanha, dramaturgo e poeta, legou-nos, entre outras, as
extraordinárias peças teatrais: Ópera dos Três
Vinténs, Mãe Coragem, A Vida de Galileu, Os Fuzis da Senhora
Carrar e o Círculo de Giz Caucasiano. Todas sob uma estrita óptica marxista enfocam os valores burgueses e os decorrentes conflitos sociais.
Tornou-se inevitável seu exílio com a ascensão de
Hitler ao poder, não só face sua obra, também pela
inafastável postura progressista. Durante o exílio, percorre
vários países europeus e por fim estabelece-se nos Estados
Unidos. Findo a Segunda Guerra, a perseguição marcatista
determina sua volta para a então República Democrática
Alemã ( Berlim Oriental), onde faleceu. Da “Antologia Poética
de Bertolt Brecht”( tradução do Prof. EdmundoMoniz - editada
por: Elo Editora e Distribuidora Ltda - Rio de Janeiro - RJ), seleccionamos 5 poesias.
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NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR
- Desconfiai do mais trivial , na
- aparência singelo.
- E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
- Suplicamos expressamente:
- não aceiteis o que é de hábito
- como coisa natural,
- pois em tempo de desordem sangrenta,
- de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
- de humanidade desumanizada,
- nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
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A EXCEÇÃO E A REGRA
- Estranhem o que não for estranho.
- Tomem por inexplicável o habitual.
- Sintam-se perplexos ante o quotidiano.
- Tratem de achar um remédio para o abuso
- Mas não se esqueçam
- de que o abuso é sempre a regra.
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ELOGIO DA DIALÉTICA
- A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
- Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
- Só a força os garante.
- Tudo ficará como está.
- Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
- No mercado da exploração se diz em voz alta:
- Agora acaba de começar:
- E entre os oprimidos muitos dizem:
- Não se realizará jamais o que queremos!
- 0 que ainda vive não diga: jamais!
- O seguro não é seguro. Como está não ficará.
- Quando os dominadores falarem
- falarão também os dominados.
- Quem se atreve a dizer: jamais?
- De quem depende a continuação desse domínio?
- De quem depende a sua destruição?
- Igualmente de nós.
- Os caídos que se levantem!
- Os que estão perdidos que lutem!
- Quem reconhece a situação como pode calar-se?
- Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
- E o "hoje" nascerá do "jamais".
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ELOGIO DO REVOLUCIONÁRIO
- Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
- Mas a coragem dele aumenta.
- Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
- e pela conquista do poder.
- Interroga a propriedade:
- De onde vens?
- Pergunta a cada ideia:
- Serves a quem?
- Ali onde todos calam, ele fala
- E onde reina a opressão e se acusa o destino,
- ele cita os nomes.
- À mesa onde ele se senta
- se senta a insatisfação.
- A comida sabe mal e a sala se torna estreita.
- Aonde o vai a revolta
- e de onde o expulsam
- persiste a agitação.
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ENTENDIMENTO
- Por que brigamos amor,
- se sempre na cama
- estamos de acordo?
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