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NÃO ESQUECER TIMOR

NÃO ESQUECER AS FALINTIL

 

     O Fundo de Apoio às Falintil (FAF) foi criado em Setembro, durante os massacres em Timor-Leste e no momento da intervenção da comunidade internacional nesta parte da Ilha, esquecida por (quase) todos durante os 24 anos de ocupação indonésia.

     Nos meses do terror e da barbárie, os Portugueses vibraram de indignação e de solidariedade para com o povo irmão. Foi uma onda que inundou o país e o estrangeiro, e que reuniu o consenso, inédito, de todos os partidos. Os Portugueses, animados de imensa compaixão, humanidade e fraternidade, movimentaram-se num gesto magnífico de amor para com aquela terra longínqua que "chorava e sofria em Português". Quem sabe se também para resgatar a consciência de muito silêncio de 24 anos? Seja como for, mobilizámo-nos, e podemo-nos orgulhar de ter estado, uma vez mais, na linha da frente pela liberdade e contra a opressão.

     No entanto, nem tudo está resolvido... antes pelo contrário. Timor Loro Sae não tem nada. As infra-estruturas levam tempo a criar, e muitos países e organizações prometem enviar dinheiro, técnicos e apoios vários. Fala-se dos timorenses deslocados na parte Ocidental e dos que estão em Timor-Leste, todos eles vivendo momentos de desespero, sem casa e sem emprego, e cujas famílias foram quer chacinadas pela fúria assassina, quer desmanteladas pelo exílio ou pela prisão.

     Porém, pouco ou nada se diz sobre aqueles que, ao longo destes 24 anos, mantiveram sempre acesa a luta por Timor Loro Sae e ergueram bem alto com o seu povo a bandeira da justiça e do patriotismo: os guerrilheiros das Falintil e suas famílias.

     O FAF falou, em Lisboa, com o Comandante Taur Matan Ruak destes homens e mulheres que abdicaram de tudo para resistirem com armas precárias, na montanha, a um dos maiores exércitos do mundo. Talvez Timor-Leste nos tenha também tocado tão fundo pela admiração que causou a persistência do sacrifício! Taur Matan Ruak disse-nos que eram 1.200 nas montanhas... Para quantos soldados indonésios e milícias pró-Indonésia? Com que meios? Com que sofrimento?

     Muitos foram presos, como o Presidente Xanana, como o próprio Comandante Ruak, mas muitos morreram deixando famílias sem qualquer meio de subsistência. Destes, pouco ou nada se sabe.

     O Comandante Ruak e os seus homens estão dispostos a continuar a luta pela dignidade, desta vez dos companheiros mutilados e das viúvas e órfãos dos guerrilheiros mortos em combate.

     Pediu-nos que os ajudassemos a fundar uma ONG para estas famílias, pois, embora recebam algum do pouco dinheiro que vai chegando a Timor-Leste, não há ainda possibilidades de as apoiar no dia a dia, sobretudo os órfãos, que vivem ao abandono. Prometemos fazê-lo, e sabemos que os fundos que lhe entregámos já em mão são uma gota de água no oceano das suas necessidades.

     Lançamos portanto um apelo a todos para que vibrem uma vez mais com um sonho magnífico: o reconhecimento e gratidão para com os homens e mulheres que abnegadamente permitiram tão elevados momentos de esperança num mundo melhor, um mundo de ideais, em que a vida se conquista muitas vezes perdendo a própria vida e a dos seus.

     Sejamos solidários não apenas nos momentos de emoção, quando as imagens e os artigos dos jornais nos mostram o horror e nos recordam o heroísmo. Sejamos solidários sempre e, como disse Xanana Gusmão, sejamos realmente os amigos com que Timor Loro Sae pode sempre contar. Façamos de modo a poder dizer, daqui a 24 anos, que persistimos na luta e que nunca esquecemos.

FAF                                            

Bruxelas, 21 de Fevereiro de 2000