1.Introdução: do
primeiro jogo à formação da Associação
de Rugby de Lisboa (1903 a 1927);
2.Consolidação:
da criação das Associações até à
constituição da Federação Portuguesa de Rugby
(1927 a
1957);
3.Desenvolvimento: qualitativo
e quantitativo (a partir de 1957).
1. Introdução do Rugby em Portugal
Apesar das suspeitas de que este poderá
ter sido praticado em Portugal ainda no final do séc. XIX, as
pesquisas que alguns autores, como o
falecido Eng. Vasco Pinto de Magalhães, conduziram sobre a história
do
rugby em Portugal apontam para o dia
11 de Dezembro de 1903 como o primeiro momento de que existe
prova documental da realização
de um jogo entre oficiais duma esquadra inglesa e o Lisbon Football Club,
num campo deste clube na Cruz Quebrada.
Tais encontros continuam a repetir-se na zona de Lisboa e mesmo
na região do Porto mas apenas
entre equipas exclusivamente constituídas por britânicos.
Há notícia, através
de Alberto de Freitas, de que o rugby foi efemeramente introduzido em 1919
por Cândido
de Oliveira aos alunos da Casa Pia,
que lhe chamaram Jogo da Azeitona. Esta prática dura apenas até
ao ano
de 1921 e teve um carácter ocasional.
No entanto só em 1922 se verifica
um facto que contribuirá decisivamente para a introdução
do rugby entre os
portugueses, quando o Royal Football
Club decidiu lançar um novo desporto - o rugby - sob proposta de
alguns membros franceses. Entre estes
é importante referir, pelo seu conhecimento e papel desempenhado,
o
nome de Maurice Baillehache (antigo
capitão do Havre Athletic Club e da Selecção da Normandia)
e também
do português Francisco Xavier
de Araújo (que tinha tomado contacto com o jogo durante os seus
estudos em
Inglaterra e Escócia). Foram
eles que impulsionaram a realização do primeiro encontro
com participantes
portugueses, em 22 de Março de
1922, num jogo entre o Royal Football Club e os britânicos do Exiles.
Ainda
em Novembro de 1922 disputa-se o primeiro
encontro entre duas equipas portuguesas - o Sporting Clube de
Portugal e o Royal F.C.
A partir dessa data, sob a égide
do Sporting C.P., que sucedeu ao Royal F.C. (extinto em 1923) como pioneiro
do rugby em Portugal, é formada
em 24 de Janeiro de 1927 a Associação de Rugby de Lisboa.
Foram seus
fundadores o Sporting e outros clubes
que formaram equipas a partir de antigos praticantes do Sporting -
Sport Lisboa e Benfica, Ginásio
Clube Português e Carcavelinhos Football Club. Nessa mesma época
realiza-se o primeiro campeonato de
Lisboa, ganho pelo Sporting C.P.
2. Consolidação do Rugby em Portugal
A partir da criação da
A.R.L. verifica-se que também no Porto é criada a Associação
e disputado o primeiro
campeonato em 1929/30, infelizmente
só se mantendo até 1934/35.
Em Lisboa a actividade mantém-se
e realiza-se mesmo em 1934/35 o primeiro Campeonato Escolar, de que
temos notícia através
do já mencionado Eng. Pinto de Magalhães que, conjuntamente
com Francisco Xavier de
Araújo, desempenha um papel determinante
na fase de consolidação do rugby em Portugal.
Em 13 de Abril de 1935 disputa-se em
Lisboa o primeiro jogo internacional, Portugal-Espanha, ganho pelos
espanhóis por 6-5. Este contacto
é repetido em Madrid em 1936, ainda com vitória espanhola,
à qual se
seguem 18 anos sem jogos internacionais,
até 1954.
Merece ainda destaque a progressiva
divulgação das Leis do Jogo de Rugby (ao tempo chamadas Regras)
que
foi iniciada em 1926 e 1927 de forma
ainda reduzida, sendo retomada pela A.R.L. na primeira edição
oficial
em 1942/43, e continuada em versões
de actualização.
Nesta fase é fundamental a difusão
do rugby entre os universitários que se acentua na década
de 1950 com a
criação do CDUL e a expansão
a Coimbra (A.A.C.) e recomeço da prática no Porto.
Em 23 de Setembro de 1957 é criada
a Federação Portuguesa de Rugby, cujo sócio fundador
foi a Associação
de Rugby de Lisboa. A A.R.L. termina
a sua actividade com a tomada de posse dos Corpos Sociais da F.P.R.
em Julho de 1958.
3. Desenvolvimento do Rugby em Portugal
Após a entrada em funções
dos primeiros Corpos Sociais, a F.P.R. organiza o primeiro Campeonato de
Portugal (1958/59), actualmente designado
Campeonato Nacional, de que saiu vencedor o Clube de Futebol
"Os Belenenses".
Nessa época existiam 9 clubes
filiados na F.P.R. e apenas na categoria de Sénior, sendo 4 de raiz
universitária e apenas a A.A.
de Coimbra não pertencia à zona de Lisboa.
Durante as décadas de 60 e 70
assiste-se ao crescimento dos clubes universitários, à iniciação
cada vez mais
precoce no rugby, e à extinção
da secção de rugby no Sporting C.P., clube de grande importância
na fase de
consolidação do rugby
em Portugal. Por outro lado verifica-se a implantação do
rugby na zona Norte e a sua
expansão para a região
Sul. Constata-se também o domínio do CDUL na conquista de
títulos e a importância
dos estádios universitários
de Lisboa, Porto e Coimbra como verdadeiros centros de apoio ao treino
e
competição. A par destes
factores reveste-se de grande importância para a divulgação
e fomento da
modalidade em Portugal o início
da cobertura televisiva de alguns jogos do Torneio das V Nações,
com
cobertura regular a partir de 1969.
A partir de 1974, à semelhança
do sucedido noutras modalidades desportivas e fruto da conjuntura política
resultante do 25 de Abril de 1974, verifica-se
um acentuado aumento do número de praticantes e clubes, em
particular nos escalões mais
jovens que já tinham sido criados.
A título informativo adiantam-se
os momentos de sucessivo alargamento da idade da prática do rugby
em
Portugal: Juniores - dos 17 aos 19 anos,
a partir de 1963/64; Juvenis - dos 15 aos 16 anos, a partir de
1964/65; Iniciados - dos 13 aos 14 anos,
a partir de 1969/70; Infantis - dos 11 aos 12 anos, a partir de
1973/74; Benjamins - dos 8 aos 10 anos,
a partir de 1988/89.
No entanto este crescimento coincide
com um momento de abandono dos contactos internacionais no escalão
senior, de 1974 até 1979, com
inevitáveis prejuízos na melhoria qualitativa dos praticantes
desse escalão.
O crescimento do número de praticantes
mais jovens, aliado ao proporcionar de contactos regulares das
selecções nacionais de
jovens com países mais evoluídos, permitiu o aparecimento
de gerações de jovens
jogadores que, durante as décadas
de 80 e 90, contribuiram para a melhoria qualitativa do rugby português,
bem expressa nos resultados e prestígio
internacional das nossas selecções. Tal melhoria veio a ser
comprovada após o regresso às
competições internacionais no escalão senior, com
os resultados averbados
pela mesma selecção.
A meio da década de 1990 é
importante que se tenha consciência que o impulso originado em 1970,
sob o
apoio do Estado, e prolongado em 1980
pelo dinamismo associativo, está em fase de refluxo. Esta opinião
pode constatar-se através de
alguns indicadores negativos, pese embora a existência de outros
factores
positivos.
Por um lado o rugby transformou-se completamente
nos últimos anos e o recente reconhecimento oficial da
possibilidade do profissionalismo dos
praticantes, já pressionado pela mundialização e mediatização
do
rugby, veio contribuir para uma aceleração
do seu desenvolvimento nos países mais desenvolvidos, tendendo
a alargar o fosso que nos separa desses
países. Por outro lado, apesar da existência de seis escalões
etários e
do início da prática feminina
do rugby, o rugby português estava em 1995 com apenas 2008 praticantes
filiados na F.P.R., e com um terço
desses praticantes no escalão senior e uma percentagem tanto menor
quanto
mais jovem é o escalão
em causa, configurando uma perfeita pirâmide invertida semelhante
à situação anterior
a 1974. Finalmente, verifica-se que
a maioria dos clubes que praticam o rugby tem vida efémera e/ou
muito
problemática, embora haja casos
de rara longevidade como o S.L. Benfica e o C.F. "Os Belenenses", que se
mantêm em actividade desde 1927
e 1929 respectivamente.
No que respeita aos factores positivos,
é inegável que o rugby português dispõe actualmente
de clubes com
instalações mais adequadas
para o treino e jogo, não estando totalmente dependentes dos Estádios
Universitários, em particular
o de Lisboa que ao longo de vários anos assegurava larga fatia da
actividade
nacional. Além disso surgiram,
em especial a partir de 1974, alguns clubes fora das grandes cidades que
têm
conseguido instalações
próprias, atingir níveis de prática apreciáveis
e se mantêm em actividade há períodos
já significativos, como por exemplo
o R.C. da Lousã, o C.R. de Arcos de Valdevez e o R.C. de Loulé.
Os próximos anos serão
determinantes para o futuro do rugby, no Mundo e em Portugal, já
que as novas
condições em que a modalidade
vai viver implicarão transformações que, a não
serem devidamente
ponderadas, poderão conduzir
ao seu declínio.
Extracto do artigo elaborado pelo Prof. José Cordovil para o Curso
de Treinadores de
4° grau, 1995, gentilmente cedido pela F.P.R.