História do Glorioso

O esporte mais popular do Rio de Janeiro em 1904 era o Remo. Todo Domingo, a Praia das Virtudes – onde hoje está situado o Aeroporto Santos Dumont – ficava apinhada de gente interessada em acompanhar a corrida dos barcos pela Baía de Guanabara. Durante muito tempo, quando o carioca queria dizer que o domingo amanhecera bonito e ensolarado, dizia: "hoje está um domingo de regatas".
Foi nessa época, que Flávio da Silva Ramos e Emmanuel de Almeida Sodré ouviram falar do futebol. Eram meninos de 14 anos que desafiavam a vigilância do professor Julio Noronha. Flávio vivia com o pensamento longe, numa partida de futebol que assistira no campo do Paysandu, entre os brasileiros e os ingleses e, sentado a poucas carteiras de distância da sua, sempre atento à aula, ficava Emmanuel Sodré. Aquela altura, o futebol já era uma fascinação para Flávio, e a idéia de formar um clube com a garotada que morava no Largo do Leões e nas ruas São Clemente e Voluntários da Pátria, ocupava toda a sua mente. Até porque, um grupo de jovens de Laranjeiras e do Flamengo, muitos deles descendentes de ingleses, havia fundado recentemente o Fluminense Football Club, que treinava e jogava num campinho ao lado do Palácio Guanabara, na rua do mesmo nome. Um dia Flávio não resistiu: arrancou uma folha do caderno de álgebra, rabiscou um bilhete e, sem que o professor percebesse, entregou-o o Emanuel. "O Itamar Tavares tem um clube de futebol, que jogava na rua Martins Ferreira. Vamos fundar outro? Podemos falar com o Arthur César, o Vicente e os irmãos Werneck. O que você acha?". Manoel não respondeu na hora, mas a partir daquele momento, a vida dos alunos do Colégio Alfredo Gomes mudaria para sempre. Numa sexta-feira à tarde, precisamente no dia 12 de agosto de 1904, enquanto o Presidente da República, Rodrigues Alves, enfrentava a ira popular por ter decretado a vacinação obrigatória à população do Rio, um grupo de garotos se reunia no casarão do Conselheiro Gonzaga, na esquina da Rua Humaitá com Largo dos Leões. Mas ainda não seria desse encontro que nasceria o Botafogo, e sim o Eletro Club, primeiro nome do time das cores alvinegras. Numa reunião seguinte, no dia 18 de setembro o novo clube seria batizado com o nome definitivo. A avó de Flávio Ramos, Francisca Texeira de Oliveira – Dona Chiquitota para a família – aproximou-se e perguntou curiosa: "Qual é o nome do clube que vocês fundaram?". A resposta de Flávio foi imediata: "Eletro Club". Diante de um nome tão sem imaginação, Dona Chiquitota não se conteve e resolveu intervir. "Morando onde moram, o clube de vocês só pode chamar Botafogo". Nos dois anos seguintes, apesar de ser alvinegro, o Botafogo jogaria apenas com camisa de malha branca e só em maio de 1906 é que as listradas em preto e branco, encomendadas a Benetfink & Company, de Londres, chegariam para a disputa do primeiro Campeonato Carioca. As dificuldades não tardariam. O precário campinho da Rua Conde de Irajá já não servia, não atendia mais às necessidades do clube e era preciso encontrar outro, e o Botafogo acabou mudando para a Rua Humaitá , 52. Em 1912, depois de voltar ao mesmo terreno na Rua Conde de Irajá e de peregrinar por outros locais, o Botafogo já com apelido de "O Glorioso" pelo título conquistado em 1910, via-se novamente sem sede e sem campo. No entanto, um comentário ouvido nas Laranjeiras de que o clube morrera, motivou um grupo de botafoguenses a encontrar um novo campo para o time da Estrela Solitária. Acabaram por descobrir um terreno na Rua Gal, que pertencia ao Ministério da Justiça. O estádio de General Severiano foi inaugurado no dia 28 de agosto de 1938, com o jogo de estréia contra o Fluminense de Batatais que contava com Moisés e Guimarães; Santamaria, Brandt e Orozimbo; Bioró, Romeu, Sandro, Tim e Hércules em sua equipe. O Botafogo Football Club – era formado por Aimoré Moreira, Bibi, e Nariz; Zezé Moreira, Martim e Canali; Téo, Pascoal, Carvalho Leite, Perácio e Patesko. Ao final, com dois de Patesko e um de Perácio, o Botafogo venceu por 3 a 2.

A Fusão

O Botafogo Futebol Clube, nascido no Largo dos Leões iria fundir-se ao Club de Regatas Botafogo – surgido em 1º de julho de 1894, no Mourisco – no dia 8 de dezembro de 1942. Dessa união, nasceria o Botafogo de Futebol e Regatas de hoje. Das regatas, além da tradição do remo, o Botafogo herdou a estrela solitária, que passou a fazer, parte de seu escudo. Desde o início, o clube sempre esteve diante do Corcovado ou sob os braços do Cristo Redentor, que parece ter abençoado gerações de craques. A partir do dia 12 de agosto de 1977, o futebol do Botafogo mudou-se para Marechal Hermes e, posteriormente, o clube passou a utilizar o Estádio Caio Martins para treinos e jogos de sua equipe. Mas o clube está de volta a sua antiga casa, novamente, sobre os braços do Cristo Redentor, onde também a equipe profissional de futebol realiza seus treinamentos e utiliza as modernas instalações de sua concentração, nas dependências do Parque Esportivo de General Severiano.