Define-se Negritude como um movimento
literário que surgiu em França, na década
de trinta,dirigido por L. Senghor, A. Césaire e L. Damas,
através do qual se combatia o
racismo, o colonialismo e se exaltavam os valores da cultura
africana.
Negritude é um termo de origem francófona. Em fase posterior, o
movimento de
negritude serviu de base à implementação das doutrinas
socialistas,
com características particulares, dos líderes africanos Leopold
Senghor (n. 1906) do Senegal, Sékou
Touré(1922-1984) da Guiné e Julius Nyerere (n. 1922) da
Tanzania.
Sem a escravização e a colonização dos povos negros da
África, a negritude,
essa realidade que tantos estudiosos abordam não chegando a um
denominador
comum, nem teria nascido.
O seu conceito reúne diversas definições nas áreas cultural,
biológica,
psicológica, política e em outras. Esta multiplicidade de
interpretações está
relacionada à evolução e à dinâmica da realidade colonial e
do mundo negro
no tempo e no espaço.
Uns consideram a negritude superada e ineficaz, pois a realidade
colonial
que a provocou não existe mais. Outros entendem como uma
extensão da
linguagem racista branca que lhe deu origem: uma mistificação
de natureza colonial,
daí a sua incapacidade de criar uma
ruptura. Em outras palavras, o conceito de
negritude assumiu a inferioridade do negro
forjada pelo branco.
Quando os primeiros europeus desembarcaram na costa africana
em meados do século XV, a organização política dos Estados
africanos,
já tinha atingido um nível de aperfeiçoamento muito alto.
A ignorância em relação à história antiga dos negros, as
diferenças culturais, os
preconceitos étnicos entre as duas raças que se confrontam pela
primeira vez, tudo
isso mais as necessidades económicas de exploração
predispuseram o espírito do
europeu a desfigurar completamente a personalidade moral do negro
e suas aptidões
intelectuais.
Negro torna-se, então, sinónimo de ser primitivo, inferior,
dotado de uma mentalidade
pré-lógica. E, como o ser humano toma sempre o cuidado de
justificar a sua conduta,
a condição social do negro dos seus pretendidos caracteres
menores.
No máximo, foram reconhecidos nele os dons artísticos ligados
à sua sensibilidade
de animal superior. Tal clima de alienação atingirá
profundamente o negro, em particular
o instruído, que tem assim a ocasião de perceber a ideia que o
mundo ocidental fazia dele
e do seu povo. Na sequência, perde a confiança em suas
possibilidades e nas da sua
raça, e assume os preconceitos criados contra ele. É nesse
contexto que nasce
a negritude.
A compreensão das circuntâncias históricas em que surgiu a
negritude, obriga, como
já foi enfatizado, a considerar rapidamente a situação
colonial nas suas características
e legitimações discursivas.
2.1.
Características
O conceito da situação colonial aparece como a noção
dinâmica, expressando uma relação de forças entre vários
actores sociais dentro da colónia, sociedade globalizada,
dividida em dois campos antagonistas e desiguais, a sociedade
colonial e a sociedade colonizada. Na situação colonial
africana, a dominação é imposta por uma minoria estrangeira,
em nome duma superioridade étnica e cultural dogmaticamente
afirmada, a uma maioria autóctone. Há confrontos entre as duas
civilizações heterogéneas: além das sobreposições
económicas e tecnológicas, de ritmo acelerado, a dominadora
infligiu a sua origem cristã a uma radicalmente oposta. O
carácter antagonista das relações existentes entre elas é
ilustrado pela função instrumental à qual é condenada a
sociedade dominada. A necessidade de manter a dominação por
várias vantagens económicas e psicossociais leva os defensores
da situação colonial a recorrerem não apenas à força bruta,
mas também a outros recursos, tais como os já mencionados de
controle.
2.2. O negro
retardado, perverso, ladrão
Com tais defeitos, não se pode confiar ao negro funções de
responsabidade ou postos de direcção. Sendo deficiente, o negro
deve ser protegido. Legitima-se o uso da polícia e de uma
justiça severa diante dum retardado, com maus instintos e
ladrão. É preciso proteger-se das perigosas tolices de um
irresponsável e defendê-lo de si mesmo. Todas as qualidades
humanas serão retiradas do negro uma por uma. Jamais se
caracteriza um deles individualmente, isto é, de maneira
diferencial. É através da educação que a herença social de
um povo é legada às gerações futuras e inscrita na história.
Privados da escola tradicional, proibida e combatida, para os
filhos negros, a única possibilidade é o aprendizado do
colonizador. Quando pode fugir do analfabetismo, o negro aprende
a língua do colonizador, porque a materna, considera inferior,
não lhe permite interferir na vida social, nos guichês da
administração, na burocracia, na magistratura, na tecnologia,
etc. Na estrutura colonial, o bilinguismo é necessário, pois
munido apenas da sua língua, o negro torna-se estrangeiro dentro
da sua própria terra.
A situação do negro reclama uma ruptura e não um compromisso.
Ela passará pela revolta, compreeendendo que a verdadeira
solução dos probleas não consiste em macaquear o branco, mas
em lutar para quebrar as barreiras sociais que o impedem de
ingressar na categoria dos homens. Assiste-se agora a uma
mudança de termos. Abandonada a assimilação, a libertação do
negro deve afectuar-se pela reconquista de si e de uma dignidade
autónoma. O esforço para alcançar o branco exigia total
auto-rejeição; negar o europeu será o prelúdio indispensável
à retomada. É preciso desembaraçar-se desta imagem acusatória
e destruidora, atacar de frente a opressão, já que é
impossível contorná-la. Aceitando-se, o negro afirma-se
cultural, moral, física e psiquicamente. Ele reivindica-se com a
paixão, a mesma que o fazia admirar e assimilar o branco. Ele
assumirá a cor negada e verá nela traços de beleza e de
feiúra como qualquer ser humano "normal". A esse
respeito, Amilcar Cabral disse que o problema de voltar às
raízes não se coloca para as massas. Elas constituem a única
entidade realmente capaz de criar e preservar a cultura, de fazer
a história. É preciso então, dentro da África, fazer uma
distinção entre a situação dos grupos que se preservaram
daqueles que, em maior ou menor grau, alienaram-se. Nesse
sentido, o movimento da negritude, enquanto volta às origens,
não se interessa directamente pelo povo. Acredita-se ter
explicado e mostrado suficientemente as condições, as
circunstâncias e os factores históricos nos quais nascem a
negritude e seu predecessor, o pan-africanismo, ambas expressões
pertinentes da volta às origens, fundamentadas principalmente no
posturado da identidade cultural de todos os africanos negros.
Curiosamente, foram concebidos em espaços fora da África negra.
3.1.
Objectivos da Negritude
O exame da produção discursiva dos escritores da negritude
permite levantar três objectivos principais: buscar o desafia
cultural do mundo negro; protestar contra a ordem colonial; lutar
pela emancipação dos seus povos oprimidos e lançar o apelo de
uma revisão das relações entre os povos para que se chegasse a
uma civiliuzação não universal como a extensão de uma
regional imposta pela força-mas uma civilização do universal,
encontro de todas as outras, concretas e particulares.