Henrique e Beto estavam prontos para o ataque metal. Tinham acabado de gravar, com o guitarrista Alex Fornari, um CD demonstrativo e estavam afinadíssimos para começar a investir em shows, depois de meses de ensaio. Mas Alex traiu os companheiros e abandonou o barco, que nem havia saído do porto, para tocar na banda do entediante Paulo Ricardo com óbvio objetivos financeiros. Desencantados com o rock, e devidamente embebidos em álcool, Henrique e Beto afogaram as mágoas compondo um samba.Era madrugada, a dupla voltava de um boteco e estava dentro de um coletivo quando nasceu Bagulho no Bumba. Pouco mais de um ano depois, a música do grupo Virgulóides é a sensação das rádios do País. Freqüenta as mais distintas emissoras, das radicalmente roqueiras até as especializadas em pagode, e é primeiro lugar na Bahia, terra que costuma exportar seus hits no lugar de importá-los de outros estados. A receptividade surpreendeu a própria gravadora.
O selo Excelente Discos, distribuído pela PolyGram, prensou dez mil cópias do CD. A quantidade foi consumida em apenas em três dias. Daí as lojas ficaram sem material e a gravadora, pega de surpresa, demorou para abastecer o novamente o mercado. "Deu desespero porque a gente estava aparecendo em tudo quanto é lugar e ninguém achava disco para comprar", lembra Henrique. Ele comenta que já foram vendidas 40 mil cópias do trabalho.
Quando decidiram mudar radicalmente o estilo e investir em samba, Henrique e Beto se juntaram a Paulinho Jiraya, chegado num pagode. Henrique estressa quando alguém acusa o grupo de comercial devido às letras humoradas ou compara seu trabalho com o que fazia Mamonas Assassinas. "O Mamonas era uma banda engraçadinha. A gente faz samba-rock", enfatiza.
Segundo o vocalista, o trio demorou um ano pra conceber os arranjos das músicas incluídas no disco de estréia. "Foi um trabalho que exigiu conhecimento técnico porque a percurssão não casava. A gente teve que se desdobrar no instrumental para conciliar o tempo do rock e do samba". Mas o resultado agradou a Henrique. "Não é parecido com nada que existe no Brasil", defende.
O primeiro teste de receptividade foi feito num boteco que o trio freqüenta para jogar bilhar, em São Paulo. "A gente levou a fita lá, botou pros caras ouvirem e todo mundo gostou", lembra Henrique. Mas ele garante que não tinha nenhuma expectativa de sucesso. "É um disco muito louco. Tem samba, funk, hardcore, punk. Nossos amigos roqueiros falavam que não ia dar certo porque roqueiro não gosta de samba. Os pagodeiros falavam o contrário. Mas a gente não estava nem aí. Fizemos o que queríamos fazer", conta.
Henrique diz que continua fã de metal, mas esclarece que ouve Bezerra da Silva desde criança. "Lá em casa todo mundo gosta. Foi o Bezerra que inspirou nosso trabalho", alega.
Apesar de cotadíssimos no mercado, fazendo shows quase todos os dias, os integrantes do Virgulóides ainda não viram a cor do dinheiro. "A gente ainda está pagando as dívidas de gastos com a produção do show. Não tínhamos nada de equipamento. Nem roupa. Tivemos que fazer empréstimo até para nos vestir", diz o vocalista.