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Nos tempos áureos da aristocracia

O Clube Campineiro, uma das mais antigas agremiações recreativas desta cidade, foi fundado em 2 de novembro de 1891, justamente quando Campinas passava pela terrível epidemia de febre amarela, fazendo milhares de vítimas. Em 1891, o Clube Campineiro de Corridas mantinha sua sede urbana no antigo solar do Visconde de Indaiatuba. Porém, com as dificuldades de sua manutenção, seus dirigentes decidiram separar a sede urbana da sede esportiva (prado Bonfim), surgindo, então, o Jockey Clube de Campinas (antigo Clube de Corridas) e o Clube campineiro ( com sede no próprio solar do Visconde de Indaiatuba).

Desvinculado do Clube Campineiro de Corridas, que na época passou a se chamar Jóquei Clube de Campinas, o Clube Campineiro se instalou no sobrado à rua Barão de Jaguara, esquina com General Osório e que havia pertencido ao Visconde de Indaiatuba.

Foi o edifício mais luxuoso e confortável da cidade, só comparável aos grandes clubes congêneres da capital do Estado. Durante anos, em seus elegantes salões, realizaram-se belas festas literárias e musicais e por ali passaram ilustres artistas de renome internacional como o pianista Bauer, o violoncelista Cassal, os violinistas Moreira de Sá, Diaz Albertini e Guiomar Novaes e os conferencistas literários e científicos como Brasílio machado, Júlia Lopes, conde Afonso Celso, Raul soares de Moura, Hypólito da Silva, entre outros.

Para a construção da nova sede, a diretoria adquiriu em julho de 1912, um terreno do Sr. J. Gerin, por 50 contos de réis. O início da construção do novo edifício se deu no ano de 1914, mas por problemas econômicos as obras foram interrompidas por um bom tempo. Para concluir a obra, contrataram em novembro de 1923, o engenheiro Augusto Lefréve, pela quantia de 320:000$ e somente em 31 de dezembro de 1925, foi inaugurado o edifício do Clube Campineiro.

Badaladas festas, carnavais, declamações, recitais de piano, violino e canto fizeram parte das programações do Clube Campineiro que, além de receber a ‘alta sociedade campineira’, contou com a presença de personalidades como Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Santos Dumont, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda.

Em 1958, o Clube Campineiro passava por uma situação bastante crítica, sendo proposta pela sua diretoria, que houvesse uma nova fusão desta entidade com o Jockey Clube, possibilitando a Campinas ter algo magnífico no setor social (estes dois clubes tinham se separado em 1891).

Com esta união surge o Jockey Clube campineiro, com sua sede central na Praça Antonio Pompeu, época em que o prédio passara por reformas para a instalarem, no térreo, a casa de apostas, continuando a funcionar no 1.º andar o salão de festas e um restaurante de alto nível. No 2.º andar, estavam instaladas todas as atividades do antigo Clube Campineiro como a pinacoteca, biblioteca, salão de carteado, hemeroteca, barbearia, bar inglês, jogos de bilhar, "snoocker" e xadrez, além das salas de estar e shows. Até bem pouco tempo atrás, as mulheres eram proibidas de participarem de qualquer atividade no Clube.

A arquitetura do Jockey

O monumental edifício do Jockey Clube Campineiro segue o estilo eclético com muitas características ‘art-noveau’, também marcado com elementos neo-renascentistas, bem ao gosto da década de 20 no Brasil. O prédio possuiu dois andares mais o térreo e dependências muito amplas, sem contar o rico mobiliário em estilo europeu, destacando-se algumas peças valiosas como os quadros dos pintores Oscar Pereira da Silva, de 1918 (Homem picando fumo) e de Antonio Parrero, (Moça sobre pedras), de 1894, espelhos da ex-Thecoslováquia, um piano de caldas alemão e lustres de cristal. No térreo, o destaque é o elevador belga todo em ferro e dourado e funciona desde que o prédio foi inaugurado. Foi o primeiro elevador estilo ‘gaiola’ instalado em Campinas. Na sua entrada existe uma marquise com ferro e vidro, sendo um dos últimos remanescentes em Campinas, restando como exemplos, o ‘Éden Bar’ e o sobrado n.º 1351/1357, ambos à rua Barão de Jaguara no centro da cidade de Campinas. Hoje, sem a casa de apostas e sem o glamour do passado, o Jockey entra para a história de Campinas.

Atualmente, o térreo conta com uma pizzaria e um cartório ao lado. No 1.º andar está parte dos serviços públicos voltados ao trabalhador e o salão de festas, que atualmente está desativado a espera de restauração e no 2.º andar o Clube Campineiro onde todas as tardes reúnem-se a velha guarda para lembrar os tempos áureos da aristocracia campineira, um local bastante reservado àqueles que ainda prezam a cultura. O prédio foi tombado pelo Condepacc em 23 de maio de 1995que prometeu uma restauração. Não cumpriu. Ficou de abrigar um espaço alternativo para artistas da cidade, isso não ocorreu. Hoje, existem cerca de 1216 associados no Jockey e somente 25 freqüentadores assíduos. As transformações associadas à mudança do perfil da própria sociedade acabou com a efervescência do Jockey.

Patrícia Santos