Como uma concha esconde sua preciosidade, a pérola, a cidade de
Campinas esconde um tesouro, sua Catedral.
A igreja, de quase 200 anos, esconde mistérios e segredos que a
população nem sequer imagina. Mas com o trabalho de restauro do prédio, muitos desses
segredos vêm sendo descobertos.
O projeto de restauração está sendo coordenado pelo professor
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC- Campinas, Samuel Kruchin.
De acordo com o arquiteto, o projeto para a restauração está
quase concluído, e vai ser enviado ao Ministério da Cultura e aguardará aprovação
para poder iniciar a busca de financiamento, com base na lei Raounet, a lei de incentivo
para a restauração e conservação de Patrimônio Cultural. A obra custará cerca de R$
2 milhões.
Alunos do curso de Especialização em Patrimônio Arquitetônico
da PUC- Campinas participam do projeto.
"Há necessidade de um trabalho urgente no forro, que nunca
foi reformado nesses quase 200 anos", afirma Kruchin. Segundo ele, o trabalho a ser
feito não é só de restauração. "Estamos procurando compreender a história do
edifício para recuperar sua expressividade e sua alma", diz.
Uma das partes mais delicadas nesse trabalho é a conservação
das paredes da Catedral. O prédio é todo construído em taipa de pilão, uma espécie de
barro socado. Ele é o edifício mais alto já construído com esse material. "Por
serem feitas em taipa de pilão, estamos tendo um cuidado todo especial na parte
hidráulica do prédio, por que a água é o maior inimigo da taipa", afirma Ricardo
Leite, um dos arquitetos responsáveis pela obra.
A restauração da Catedral vai ser feita em duas fases. Na
primeira, serão atendidas as áreas emergenciais, que são o telhado e o forro. E na
segunda fase, serão restaurados pisos, castilharias e altares.
Para o Cônego Álvaro Ambiel, há muito tempo a Catedral
precisava de um trabalho sério para sua conservação. "Já não é de hoje que o
prédio da igreja vem apresentando problemas. Estamos evitando riscos, como na colocação
de tela de nylon sob o teto, para que não caiam tábuas na população, e estamos apenas
aguardando o sinal verde do Ministério da Cultura para buscarmos o recurso para a
obra", diz o Cônego Ambiel.
De acordo com o arquiteto Ricardo Leite, os fiéis não correm
perigo algum. "A colocação de telas de segurança é só uma medida preventiva.
Além do mais, as tábuas estão tão podres que caem como papel, leves e
flutuantes", diz.
Um dos lados mais intrigantes da construção da igreja é o
alinhamento da sua torre com a da igreja da Vila Industrial e da Estação Ferroviária da
Fepasa. "O alinhamento é milimétrico. Só não dizer se é coincidência ou se
estava previsto no projeto das três construções", afirma Ricardo Leite.
A igreja também possui um dos cinco órgãos franceses A.
Carvaille Call restantes no mundo, sendo este o único no Brasil. Ele mantém a afinação
original, dentro do estilo do Romantismo. No prédio da igreja funcionam dois museus da
Arquidiocese de Campinas. Um está aberto a visitação pública e o outro está fechado
para a restauração.
Quando começaram os primeiros movimentos para a construção da
Catedral em Campinas ainda Vila de São Carlos em 1807, o projeto
representava para os moradores o futuro desenvolvimento.
Documentos relatam que a vontade de prosperidade eram grandes
demais para as acanhadas paredes da antiga igreja.
Nenhum arquiteto da época possuía habilitação para levar
adiante o projeto, nem os recursos da minguada população 16.890 moradores, sendo
11060 escravos eram suficientes.
As primeiras taipas foram benzidas pelo então vigário Joaquim
José Gomes. O local para a construção da Catedral era um deserto cheio de mato. Aos
poucos iam se delineando os contornos em redor da obra, abrindo-se ruas vicinais,
destruindo-se algumas elevações ao lado da matriz.
Para a elevação das taipas era preciso grande movimento de
terras que eram retiradas de suas proximidades, ou até de lugares mais afastados da
igreja, cavando-se fundas valas que seriam futuros grotões e sumidouros que tanta dor de
cabeça e tombos - deu a população que se aventurava noite a dentro pelas ruas da
vila. Iluminação precária, metros e metros de buracos de onde foram retiradas terras.
Era complicada a situação da população da Vila de São Carlos.
Em 14 de junho de 1845 foi colocada a primeira telha da igreja.
Uma das mais altas expressividades do barroco. Trabalharam na construção dessa obra de
arte artistas renomados como Vitoriano dos Anjos, o artista que fez o altar-mor, e também
o mestre Bernardino de Sena, que chegou à Vila em 1864 e foi o responsável pela capela
do Sacramento e outras duas capelas, e também pelos dois altares dos cantos, além dos
quatros laterais e da balaustrada do corpo principal. Tudo mais que se acha entalhado em
madeira saiu de sua goira e do seu macete.