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O artista inexplicável e suas paixões

Muitos tentaram. Nenhum conseguiu. Explicar Pablo Ruiz Picasso não é tarefa fácil. Críticos que ganham a vida rotulando artistas – surrealista, classista, abstracionista, exibicionista e até mesmo contorcionista – já tentaram rotular Picasso, sem sucesso. Ele permaneceu um enigma.

O mundo realmente conheceu o trabalho de Picasso em um momento trágico da história espanhola. Foi em meio ao bombardeio da cidade basca de Guernica que ele pintou o mural homônimo à cidade, em 1937. Foi assim que ele emergiu como um poderoso e influente pintor de protesto social. Mas foi só Guernica. Até o momento em que a França entrou na guerra, não se ouviram mais ecos na pintura de Picasso, do furioso protesto que produziu Guernica.

Veio o desastre militar da França e sua humilhante ocupação pelos alemães. Circularam histórias desagradáveis sobre Picasso; que estaria vivendo bem, na Paris ocupada e que jogava bola com a Gestapo, que em troca permitia que ele pintasse sem ser molestado. Houve rumores que estaria vendendo os quadros de seus alunos aos nazistas, e só os estaria assinando. Espalhou-se pela Europa, que nesse período, ele estaria morto.

A verdade é que Pablo Picasso foi uma figura cercada de mistério e obscuridade.

Picasso teve problemas com os alemães. Foram tempos difíceis para ele. Picasso fora proibido de expor sua obra, uma vez que a Gestapo apareceu e o acusou de ser, na verdade, um homem chamado Leipizig. Ele simplesmente insitiu. "Sou Picasso, isso é tudo". Os alemães não o incomodaram depois disso, mas ficaram de olho nele o tempo todo. Nesse meio tempo, Picasso manteve um contato bem próximo com o movimento clandestino na Resistência.

Sobre o mural Guernica, Picasso dizia: "Só o mural Guernica é simbólico. Mas no caso do mural, isso é alegórico. Essa é a razão pela qual usei o cavalo, o touro e assim por diante. O mural serviu como uma expressão definitiva e a solução de um problema, e é por isso que eu usei o simbolismo". Ele disse isso, defendendo-se de acusações que afirmavam que tudo em sua obra era fruto de um simbolismo exagerado e possuía uma conotação política, e um fundinho de protesto. Ele dizia: "Algumas pessoas chamaram meu trabalho de surrealista. Nunca estive fora da realidade. Sempre estive na essência da realidade (literalmente, o real da liberdade). Se alguém quisesse expressar a Guerra, iria fazê-lo de maneira mais elegante e literário para se sobressair, porque seria mais estético. Mas para mim, se eu quisesse representar a Guerra, eu usaria uma metralhadora".

Picasso, defendia-se dos críticos que o acusavam de pintar de maneira a dificultar a compreensão de sua obra, dizendo: "Esse é o resultado do meu pensamento. Não posso usar uma expressão comum só para sentir a satisfação de ser entendido. Não quero descer a um nível mais baixo. Sou um pintor, e não consigo me explicar com palavras. Não sei explicar porque fiz isso desse ou daquele modo. Simplesmente faço".

Um consenso é que a vida e a obra de Picasso confundem-se com a história da arte do século XX. É impossível entender a pintura moderna sem Picasso, mas é também impossível entender Picasso sem ela.

O amante

Quem vê as obras de Pablo Picasso, não imagina que todo o lirismo artístico tem toques de uma vida cercada por paixões ardentes e vulcânicas. Picasso foi um incorrigível apaixonado. Sua vida foi governada por encontros e desencontros, além das traições e de um profundo gosto pela vida boêmia. Ao longo de sua vida, evidenciaram-se muitas mulheres e o seu dia-a-dia era caracterizado pela pulsão sexual que o levou a ser um assíduo freqüentador de bordéis. Aliás, Picasso se identificava com o Minotauro que para ele, traduzia a sexualidade selvagem. Agora se segue, um breve relato sobre a incandescente vida sexual desse gênio da arte.

A AMANTE RESIDENTE – Paris foi uma cidade à altura das suas pulsões sexuais. Vivia nas ruas, nos cafés, no Louvre e nos bordéis. Foi assim que Picasso conheceu Madeleine, a sua primeira companheira sentimental, filha de um dono de cabaret de Montmartre. Mas, no meio de uma de uma tempestade de verão, ele conheceu Fernande Olivier, que vem a ser sua ‘amante residente’. Os dois, vieram a ser uma combinação paradigmática de loucura e boemia.

FILHA DO CORONEL DA ARMADA – Picasso, após as aventuras parisienses e um romance vivido com Eva (que faleceu de tuberculose), encontrava-se em Roma a criar as roupas e os cenários do Balet Parade, quando se apaixona por uma das bailarinas russas, Olga Kokhlova, a filha de um coronel da armada imperial. Arianna Huffington, autora de um livro biográfico sobre Picasso, afirma que para ele "que havia experimentado prostitutas, modelos bissexuais, boêmias extravagantes e jovens da Martinica, Olga era tão convencional a ponto de se mostrar positivamente exótica". Foi com Olga que Picasso teve seu primeiro filho, que é batizado com o nome do pai, Pablo. Olga é temperamental, e Picasso um bom vivant, assim, começa a traí-la descaradamente com Marie Thérèse Walter, uma jovem loira de 17 anos. A maneira como ele se dirigiu à jovem, foi no mínimo destemido. Ele a viu em frente as Galerias Lafayette e lhe disse: "Sou Picasso. Você e eu vamos fazer grandes coisas juntos". Ela foi a musa para 41 quadros do pintor. Dessa relação nasceu Marie de la Concepcion.

A RELAÇÃO VULCÂNICA – Picasso manteve um caso com Dora Maar, quando ainda estava com Marie Thérèse. Foi uma relação de uma cumplicidade intelectual impressionante, já que Dora, também era pintora, além de ser fotógrafa e modelo. Picasso começou a humilhar Marie com mentiras. Dora e Marie chegaram a se ‘degladiar’ pelo amor de Picasso. E ele assim definiu essa disputa como "o momento mais prazeroso de sua vida". Dora Maar, é a diva do mural Guernica. No dia da libertação de Paris ela sofreu com a ‘loucura’ do pintor, que lhe bateu e justificou que "Dora fica mais bonita quando chora".

A JUVENTUDE DE VOLTA – Entretanto, Picasso começa a se encantar por Françoise Gilot, uma mulher que imana juventude, nos altos dos seus 21 anos. Gilot era elegante e rebelde, e a relação dos dois foi um jogo de gato e rato. Gilot foi a mãe de Claude (1947) e Paloma (1949). Sobre ela, Picasso dizia que "era a única mulher que havia encontrado com uma janela sobre o absoluto".

DE VOLTA A SERENIDADE – Abandonado por Françoise, o pintor casa-se com Jacqueline Roque, uma mulher catalã, que o amou, como nenhuma outra. Ela foi sua modelo preferida. Ele não parava de retratá-la em seus quadros, nua ou vestida. Ela deu ao pintor uma serenidade impressionante que transcendia em suas obras. Serenidade essa, quebrada apenas pelo caráter controverso do pintor, que se recusa a ver os filhos que o procuravam.

Picasso morreu em 8 de abril de 1973, em sua Vila em Mougins, França. Ele deixou um legado de 1880 pinturas, 1335 esculturas, 7089 desenhos, 200 cadernos com mais de 5 mil desenhos, 880 cerâmicas e 20 mil provas de gravura.

Giovana de Paula