KL Jay planeja ser‘empresário digno’
 

 


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Fúria dos Racionais vai à Europa

Grupo de rap, com Mano Brown (foto) à frente, deve visitar França e Alemanha este ano; em rara entrevista, KL Jay (detalhe) ataca MPB,Gugu, Faustão...

RICARDO DITCHUN
Da Redação 

Seis meses após ser lançado, o quarto álbum dos Racionais MC’s, Sobrevivendo no Inferno, já ultrapassou a marca das 200 mil cópias vendidas. Na verdade, são 220 mil, e outras 180 mil estão sendo produzidas para atender à crescente demanda de um séquito de ouvintes formado por todas as camadas sociais: de moradores da periferia aos mauricinhos e patricinhas que têm muito pouco (ou nada) do que se queixar.

A agenda de Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue e KL Jay, aliás, também vai de vento em popa. Além dos shows paulistas (dia 16 eles se apresentam em São Caetano, em local a confirmar), os Racionais embarcam em agosto para a Alemanha – antes, talvez em junho, devem ir à França (nada a ver com a Copa), segundo maior mercado do cenário rap mundial, depois dos Estados Unidos.  

O significado da vendagem de Sobrevivendo no Inferno, sem contar as indiscutíveis qualidades do álbum, também pode ser medido por meio de uma comparação que é, do ponto de vista de acesso à mídia, no mínimo injusta. Um álbum novo de Roberto Carlos costuma chegar ao mercado com 1 milhão de cópias vendidas previamente para os lojistas.  

Depois do especial de fim de ano na TV Globo, das campanhas publicitárias e da saturação nas rádios, esse volume de discos ainda leva seis meses para ser consumido. Se for bem no mercado, o rei venderá mais 500 mil ou 600 mil cópias em outros seis meses. O notável é que, fora dos jornais, os Racionais não dispõem de espaço na mídia, não investem em publicidade e seus álbuns chegam ao mercado por meio de gravadora e distribuidora independentes.

CONVERSA RARA – KL Jay, DJ dos Racionais, falou ao Diário na última quinta-feira, abrindo uma rara exceção – ultimamente, os quatro integrantes do grupo têm se afastado cada vez mais dos jornais, por opção própria. Logo no começo de uma longa conversa com a reportagem, o músico já deu sua explicação para o sucesso do grupo.  

Para ele, vem do casamento que originou a própria palavra rap: rhythm and poetry (ritmo e poesia). “O som é contagiante e as letras falam da realidade da periferia. Para o branco rico, o que empolga é o som. Para o preto pobre, vale o som e a letra. O fato de as classes média e alta gostarem de rap é uma coisa incontrolável, mas os Racionais continuam cantando para a periferia”, afirma.  Seja lá como for, e a continuar na ascendente, o grupo terá de conviver com uma das conseqüências que chega com o sucesso: mais dinheiro. “O dinheiro é o resultado do seu trampo, e isso não vai mudar em nada os manos da área. Falo por mim, mas tenho certeza de que também falo pelos manos: os Racionais não vão entrar na onda capitalista. O dinheiro traz coisas boas, mas vamos na contramão do capitalismo, sim”, garante.  

Contramão, no caso, também significa não se render aos apelos da mídia: “Já fomos convidados para ir à Globo, lá no Faustão. O que é que nós vamos fazer lá? O cara trabalha para uma televisão que mostra novelas burras e que apoiou a ditadura militar. Não posso compactuar com isso. Não posso trair os manos que esperam uma atitude decente. F...-se o Faustão e f...-se o Gugu com seu programa de m...”, atira.

COMPROMISSO – Por enquanto, em relação à televisão, os Racionais admitem aparecer em clipes da MTV e, se forem convidados, na TV Cultura. “São as coisas decentes da TV. A MTV tem compromissos. Fala de Aids e drogas. A Cultura também é decente, mas ainda não fomos chamados”, conta KL Jay.  Lembrando Faustão e Gugu (Globo e SBT), ele também opina sobre os pagodeiros e os papas da MPB que povoam as emissoras: “No começo, os manos se identificam com o pagode, mas depois as gravadoras obrigam os caras a mudar. Aí eles têm de fazer o que elas (as gravadoras) mandam: usar calças justas e cantar letras de m... e inofensivas”. Apesar das críticas, o DJ confessa gostar “dos sambistas ainda autênticos”: grupo Sensação, Fundo de Quintal e Zeca Pagodinho. Sobre a MPB, KL Jay dispara: “Nunca ouvi nada de popular. É música para a elite, coisa de universitário. O rap é popular. Pra que enrolar, se podemos dizer pros manos: se cheirar vai se f..., se matar vai se f...?”, questiona.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

KL Jay planeja ser‘empresário digno’

Da Redação   

Apesar do sucesso dos Racionais MC’s, KL Jay, DJ do grupo, faz outros planos para o futuro. “Falo por mim, mas tenho certeza de que os outros manos também pensam nisso. Os Racionais não vão durar para sempre”. Para começar, Jay lança no final de maio, pelo selo Raízes Discos, o primeiro álbum do grupo Possementezulu. A gravadora é dirigida por ele – um sonho já em andamento. Mas existem outros: “Quero abrir uma borracharia e um lava-rápido, para gerar empregos e pagar salários dignos”.  

Sobre o fato de Mano Brown estar usando uma cadeira de rodas, KL Jay desmente os boatos de que o rapper teria sido atingido por um tiro: “Ele estava jogando bola. Caiu e engessou a perna, porque machucou a rótula”. (RD)

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