André Matheus, 01/06/94, Brasília. Parto normal (após uma cesária).
Depoimento do pai, Fernando.
Muito tempo se passou entre a intenção de prestar este depoimento e o ato de escrevê-lo. André Matheus já completou 8 anos e os detalhes do dia de seu nascimento já se vão apagando de minha memória (que nunca foi especialista em rememorar acontecimentos, tal e qual teriam acontecido). Assim sendo, como e por que tentar fazer este registro? Para tanto, recorro à emoção. E recorrer à emoção de algo bom que nos aconteceu é sempre um grande prazer. E a emoção do nascimento de André Matheus vale a pena compartilhar. Principalmente aqui, onde os(as) leitores(as) buscam relatos que possam, talvez, dar-lhes uma dimensão daquilo que está por lhes acontecer. Mas vamos aos fatos, como deles me recordo.
Quatro anos antes nascera Pedro Lucas, nosso primeiro filho, de um parto muito difícil, que acabou numa Cesárea e num diagnóstico terrível: útero bipartido, uma má formação congênita da mãe. Prognóstico: dificuldade para engravidar e pouca, pouquíssima probabilidade de um parto normal, devido ao irremediável comprometimento da dinâmica das contrações. Mas minha mulher, grávida enfim do segundo filho, não abria mão de um parto normal. Havíamos nos mudado do Rio para Brasília, onde não conhecíamos nenhum obstetra. Não deveria ser difícil encontrar um que achasse que “Natural é Parto Normal” (como bem disse o Conselho Federal de Medicina). Mas foi. Após algumas tentativas ficamos com uma médica que, afinal, disse que daria uma chance à Natureza.
Entretanto, algum tempo depois, encontramos em Brasília uma clínica para casais grávidos em que as pessoas torciam e acreditavam sempre no melhor — clínica que viria a se transformar no próprio Espaço GEN – Gestação e Nascimento! E assim conhecemos outro médico, o Dr. Frederico Luiz Felipe Coelho, discípulo do Dr. Galba, de Fortaleza, referência no Brasil e no mundo quando o assunto é Parto Normal. “Chance para Natureza? Uma não: todas”, disse-nos o Dr. Frederico. “Mas, e o útero bipartido?” Perguntei espantado. A resposta foi pronta e simples: “Eu não vi”.
Assim, Marisa entrou em Trabalho de Parto dentro do prazo. Não sei dizer se foi “na data”, antes ou depois. O que as pessoas nem sempre entendem é que a tal data provável do parto é só uma referência médica. Como se toda mulher tivesse um ciclo menstrual academicamente regular e ovulasse sempre na “hora certa”. Assim, da semana que os médicos chamam de 39a até a que eles acham que é a 42a, qualquer data é data pra um bebê estar maduro o suficiente pra se aventurar a nascer. Foi assim com André Matheus. Sem que o Dr. Frederico tenha precisado fazer muito mais do que observar e acompanhar. Lógico que isso dá trabalho, e não é pouco. O médico precisa se certificar o tempo todo (e aos pais) de que tudo está transcorrendo bem com a mãe e o bebê. Esse tempo, às vezes, é bem longo. Como as pessoas hoje parecem não se importar muito em correr os riscos de uma cirurgia quando se trata de parto, não tenho dúvidas de que é sempre mais fácil para o médico fazer uma Cesárea, principalmente quando ela é feita “na data” e essa tal data mostra-se equivocada, pois a mulher nem chega a entrar em trabalho de parto!
Com a graça de Deus, André Matheus foi dado à luz naturalmente, sem traumas desnecessários, e apesar da suposta má formação do útero da mãe. Poderíamos até duvidar do diagnóstico de 1990, pois além de André Matheus, em 1994, Marcos Thiago viria ao mundo de modo normal e bastante espontâneo, de cócoras, em 1997. Em 2001, porém, o próprio Dr. Frederico confirmaria a existência do problema, ao realizar o parto cesariano que salvaria a vida de Fernando Luís. Mas essas já são outras estórias...
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