CARTA DA AMÉRICA | ||||||||||||
PERGUNTA INOCENTE | ||||||||||||
Laura H. Ponte, filha do micaelense, Manuel L. Ponte, e de Katherine M. Ponte, durante a recepção ao ex-Presidente dos Estados Unidos, George H.W. Bush. | ||||||||||||
Hoje, por uma razão qualquer, a garotada da Escola Primária de Nossa Senhora de Lourdes, em Clayton. Missouri, não teve aulas. Não sei se o mesmo aconteceu noutras escolas primárias da Diocese de Saint Louis. Sei no entanto que minhas duas netas, Whitney e Addison Corcoran, alunas daquela escola, ficaram em casa. O que, naturalmente, motivou à mãe, minha filha Laura, a armar uma festa para quinze crianças do Jardim Infantil, e para quinze da Terceira Classe, as quais são frequentadas pelas duas meninas. Com isso não quero insinuar que Laura seja dona de casa cuja única missão é preparar as filhas para a escola e esperar até que elas regressem. Laura é igualmente Directora de uma importante divisão na Washington University de St. Louis. Para quem a melhor queira conhecê-la pode de facto ver a minha página pessoal (http://www.GeoCities.com/azorean/Index.html), onde figura uma foto de minha filha acompanhando George H. W. Bush, pai do presente presidente norteamericano quando o ex-presidente conduziu uma das mais importantes palestras anuais naquela universidade. Além de organizadora do evento, Laura foi igualmente parte da comitiva que recebeu e acompanhou o ex-presidente. O que não foi nada raro para ela. Dois anos antes foi Laura quem acompanhou o presente Secretário de Estado, Colin Powell, quando aquele ex-general foi convidado como conferencista principal no mesmo evento. É dizer, Laura é mulher ocupadíssima. No entanto, Laura deve possuir algo, não de mim, mas sim, de muita outra gente entre seus antecessores. Primeiro, naturalmente, está a mãe, Katherine, a qual, assim dizia minha mãe, tem mais vida que um gato. Por outra parte, tem a avó materna, Mary Cecília Murray Mulvey, a qual se aproveitava de qualquer ocasião para fazer uma festa. No entanto, deve igualmente ter algo do lado Ponte. Meu tio Jacinto da Ponte Rezendes, irmão de meu pai, ainda me lembro, participava em qualquer festa lá em São Miguel, logo que ela não o separasse do Santa Clara num Domingo à tarde. "Ah, Jacinte," assim dizia minha mãe do cunhado, "o corisco é com'ó o pão de trigue. Vá pra tod'á festa." E para a toda a festa ia, talvez mais frequentemente que o pão de trigo. Devemos igualmente dizer que Laura e Pedro Miguel da Ponte Resendes (Pauleta) são primos. É dizer, deve haver alguma energia na família.... Vem esta, no entanto, não para falar de duas de minhas netas, ou de minha filha, ou de minha mãe, ou de meu tio Jacinto, ou de Pauleta mas, sim, de mim. Como qualquer pode já haver averiguado, ainda não mencionei que sou o que se possa chamar de "animal caseiro". Apesar de na minha carreira profissional haver viajado por sessenta e cinco países, muitos em repetidas ocasiões, prefiro estar em casa que em qualquer outra parte. Porque onde estou tenho tudo o que quero - principalmente meus animais. Até esta tarde, por exemplo, já fui visitado por pelo menos duas dúzias de esquilos, quatro corvos, e alguns gaios. Ao despertar senti um pica-pau tentando armar casa, ou a derrubar uma das árvores de meu jardim. Verdade que meu cão, Murphy, morreu há anos. No entanto, ainda tenho suas cinzas numa caixinha que guardo na garagem de meus carros. Por outra parte tenho igualmente na mesma garagem dois sacos de comida de cão (Cada com10 kgs.) as quais compro cada duas semanas - não para o Murphy, naturalmente, mas, sim, para os corvos e os esquilos. Um destes, acreditem, ou não, é rabão e é sempre o primeiro que se apresenta logo que eu abra a porta da garagem. "Comida de cão para os pássaros," me perguntou meu neto, Donald, quando ainda tinha só quatro anos. De tal momento por diante Donald considera como rito sempre que passe por minha casa jogar uma ou duas mãos cheias daquela comida por cima de meu gramado para que assim possa observar o procedimento daqueles meus dependentes. Não porque Donald não tenha fauna no jardim de sua casa, no qual se encontra um pequeno lago em cujas márgens vivem mais de uma dezena de magníficos gansos migratórios (Dada a posição geográfica de Missouri os gansos fazem do jardim da casa residência permanente, verão ou inverno, apesar de que, de quando em quando, algum sirva de merenda para alguma raposa que passe de noite. A ironia é que, apesar do que acabo de descrever, não vivo numa zona rural, mas, sim, num centro metropolitano onde residem mais de 2.500.000 humanos. A segunda ironia é que, como o mundo sabe, vivo no mesmo país que hoje se encontra em guerra e que recentemente viu seu espaço invadido desastrosamente por gente que havia admitido dentro de suas fronteiras - alguns dos quais, aliás, vivendo talvez da assistência pública. A terceira ironia é que, apesar dos danos causados em Nova Iorque e em Washington por aqueles invasores, pouco mudou apesar dos problemas que a invasão causou. Verdade que hoje talvez haja um pouco mais de segurança nos aeroportos, ou que as companhias aéreas se encontrem mais dispostas a pagar salários decentes a quem guarda os pontos de entrada nas terminais para que, assim, aquele serviço de segurança seja feito por gente permanente ganhando o suficiente para que se possa manter, nem só a si, como igualmente a suas famílias. A quarta ironia é que, a passos do local onde preparo esta crónica, as arvóres de meu jardim se preparam para se separarem da folhagem que as cobriu durante a primavera e o verão. Como posso descrever o evento? Bem. Não sei. Talvez indicando que a Natureza vergonhosamente se cobre de cores como uma "strip teaser" no antigo burlesco, para que, depois, se possa desnudar. No entanto, vejo mais uma razão para não me ir de casa. Por outra parte, sei que hoje duas netas se estão divertindo com colegas da escola, sob a supervisão de Laura e de minha eposa, Katherine. Na sua ingenuidade infantil, nos jogos que inventam, nos refrescos que tomam, etc., sinto que, apesar da estupidez humana responsável pelos actos e eventos que constantemente parecem afligir o mundo, haja possivelmente esperança - talvez eventualmente um mundo onde a única pergunta seja: "Avô, já que sabemos que os corvos gostam de comida de cão, será possível que os esquilos gostem de qualquer outra?" Saint Louis, Missouri 19 de Abril de 2001 Manuel L. Ponte http://www.Geocities.com/azorean/Index.html |
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