Título: Hospital Aborteiro
(adaptação
de "Navio Negreiro" Castro Alves)
Autor: Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Era um sonho dantesco.
O sangue da mesa de cirurgia avermelha o brilho das lâmpadas.
Tinir de tesouras, fórceps e curetas.
Um homem vestido de branco, mas com a alma preta
Duela com o mais fraco que ainda não nasceu.
Rompe a bolsa que o protegia
Persegue o inocente em agonia
Que em vão foge da lâmina afiada
A mulher protegida pela anti-sepsia
Não tem o que temer com a cirurgia
Que dilacera o filho que Deus lhe deu.
Pela lei do Estado está amparada,
A clínica em que jaz é credenciada.
Famintas estão as feras do Coliseu.
Um jorro de sangue escapa-lhe do útero
E de seu ventre é destruído o fruto.
E raspa-se mais e mais...
Qual num sonho dantesco o sangue escorre
O forte triunfa, o inocente morre
E ri-se Satanás! |
Título: Mãe
Autora: Cora coralina
Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não desligues da tua força maternal.
Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
empregos fora do lar?
és superior àqueles
que procurar imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.
Mulher, não te deixes castrar.
Serás um animal somente de prazer
e às vezes nem mais isso.
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.
Tumultuada, fingindo ser o que não és.
Roendo o teu osso negro da amargura.
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