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PELA PÁTRIA, ESTA MISSA DE FINADOS

Crónicas da Guerra de África

Romance
Manuel Marques José

Nova Arrancada, Lisboa, 1999

 

    O enredo desenvolve-se em dois planos, um, o da Guerra de África, um pequeno destacamento do Exército Português algures a sul de Gago Coutinho, Angola; outro, a aldeia abandonada do alferes Bebiano, personagem principal da obra.

    A guerra que Portugal travou contra potências estrangeiras poderosíssimas que cobiçavam parcelas da nossa nação e cuja ofensiva se consubstanciava nos designados «movimentos de libertação» é aqui retrada com máxima perfeição e maestria, com uma exactidão por vezes brutal e ao mesmo tempo bela. Aliás, como todo o livro, belíssimo, por vezes, com páginas do melhor que se pode ter em literatura, e outras, de uma brutalidade que diríamos demasiada, não fosse essa a forma porventura melhor de traçar factos duríssimos, de desmistificar realidades miseráveis.

    A obra começa com o alferes Bebiano a entrar no cemitério da sua aldeia, a persignar-se diante do seu túmulo. Depois, são as memórias da guerra, as memórias da sua aldeia que já não existe, massacrada na urgência do chamado «progresso».

    Poderemos, metaforicamente, entender a sua aldeia como Portugal. Portugal abandonado, traído, vendido, morto; e portugueses e portugueses, de todas as raças, nos mais diversos cantos do mundo, também abandonados, traídos, vendidos, mortos aos milhões - e daí uma missa de finados, pela Pátria!

    E a obra acaba no mesmo cemitério, enquanto, entre as ruínas da igreja, o padre Henrique celebra uma missa de finados e o narrador se pergunta se deve guardar todos os sonhos que se foram alinhando ao longo do livro.

    Uma obra pois recomendável e não resistimos a transcrever a contracapa:

    «Naqueles dias, naqueles lugares de Angola, era a guerra. Pela Pátria. Um quotidiano de sacrifícios, de pequenas alegrias, de recordações que se erguiam a cada momento. E de morte.

    Neste livro, conta-se a história de um pequeno destacamento militar, algures a sul de Gago Coutinho. Aqui se fala do capitão Ramos, oficial de carreira; do alferes Bebiano, licenciado em Filosofia; do sargento Pinto, em segunda comissão de serviço; do furriel Marques, que trazia sempre consigo o pai e a mãe cegos, a pedirem esmola numa rua de Alcântara; do soldado Américo António, das serras da Lousã, que nunca tinha visto o mar atá ao dia em que embarcou no Niassa; do soldado Abreu que se perdia em longos diálogos com o seu menino que mal falava ainda, lá longe, na Metrópole; do agente Moura da PIDE; de elementos do MPLA aprisionados que forneceram informações para a destruição de uma base na Zâmbia.

    No regresso, o alferes Bebiano encontra a sua aldeia abandonada e, em vão, procura os que deixara, por entre as brumas de dias massacrados de amargura, o cemitério cheio de ervas daninhas, a igreja em ruínas onde, feericamente, o padre Henrique celebra uma missa de finados, a casa do tio António destruída e as estantes sem livros, a sua casa.

    Este é um livro de memórias e de sonhos, de angústias, por vezes violento.»

    A crítica tem sido bastante favorável.

                    a) Joaquim Dias Teixeira

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