1.0 Introdução
O livro de Reis apresenta-se como um dos principais livros da Bíblia . Nela
encontramos a história da primeira vez em que Israel se formou como uma nação , e depois como duas .
Durante o período narrado pelo livro de Reis encontramos muitos dos principais personagems da história de
Israel , em especial os grandes profetas como Elias , Eliseu , Isaías , Jeremias etc . .. .
O livro de Reis é belo pelo seu lado humano . Nela vemos duas pequenas nações
lutando pela sua sobrevivência num ambiente hostil . Cercados por inimigos próximos e presos entre os
grandes impérios da época as chances de independência sempre seriam pequenas . Portanto as lutas e
batalhas de figuras como Jeú , Ezequias e Josias adquiram o ar de tragédia , pois ao lemos as suas histórias
nós já sabemos que a despeito da coragem e valentia presente esses homens nunca terão sucesso .
O livro de Reis é profundo pelo seu lado religioso . Percebemos a sobrevivência
da fé Iavista em meio a situações adversas . A fé sobrevive às tentativas de sincretismo com o baalismo , ao
domínio assírio , até mesmo à queda das nações de Israel e Judá , sobrevivendo mesmo frente ao exílio
babilônico . O livro de Reis narra o milagre da intervenção de Deus para a sobrevivência da verdadeira fé .
Porém o livro de Reis tem sido desprezado pela teologia brasileira . Gostamos
das histórias de vitória , dos heroís da Bíblia mas não temos paciência para aprender das histórias de
fracasso , para atentarmos à profundidade das figuras trágicas desse livro . Existe uma grande dificuldade
de encontrar qualquer comentário específico a respeito do livro deReis , o único ao qual eu tive acesso foi
um comentário publicado pela Juerp de Antônio Neves de Mesquita . Nisso estamos seguindo uma tradição
que volta pelo menos ao missionário ariano Úfilas que ao evangelizar os povos barbáros evitou incluir o
livro de Reis na sua tradução do Antigo Testamento , temendo o efeito das muitas histórias de batalhas
sobre um povo guerreiro !
Portanto esse trabalho buscamos dar nossa contribuição muito pequena ao
estudo do livro de Reis em português focalizando em apenas um episódio desse livro : a revolta de
Ezequias contra Senaqueribe .
2.0 Análise das fontes históricas à nossa disposição
Ao realizarmos uma pesquisa histórica , torna-se necessário avaliar as fontes
históricas a nossa disposição , tanto as fontes bíblicas quanto as fontes não bíblicas .
2.1 Fontes Bíblicas
A revolta de Ezequias é narrada em três livros bíblicos : II Reis , II Crônicas e
Isaías . Portanto uma análise desses três livros como fontes históricas é necessária .
2.1.1 II Reis
O livro de II Reis faz parte da mesma obra que o livro de I Reis . A razão da
obra ser dividida vem como consequência da tradução grega , chamada de Septuaginta ( LXX) . Como no
grego foram acrescentadas vogais que não consistiam no original , foram necessários dois rolos e não
apenas um como no hebraico . Como afirma Douglas não existem evidências seguras para precisarmos
a relação entre o livro de Reis e Samuel , apesar de alguns autores considerarem ambos partes de uma
mesma obra .
2.1.1.1 Autoria
Visão Conservadora
A visão mais tradicional está contido na Mishnah ( Baba Bathra 15a ) que identifica
Jeremias como o autor do livro .Apesar da defesa feita por Ellisen e Archer, Jr tal visão é pouco provável
porque :
acesso às fontes históricas da qual a obra é composta .
Jeremias pois esse era de uma familia sacerdotal identificada com o santuário antigo de Siló , e
caracterizava-se por críticas ao culto no templo de Jerusalém .
anos nessa época .
Uma visão mais moderada é apresentada por Douglas que afirma :
"O autor desconhecido sem dúvida foi um contemporâneo de Jeremias , que viveu sob as mesmas influências e que tal qual ele , era um profeta."
Visão Liberal
A visão liberal a respeito da autoria do Livro de Reis é dividido por Sellin-Fohrer em
três principais correntes .
redigido por uma escola deuteronomista que intepretava a história de Israel conforme o conteúdo do Livro de Deuteronômio .
defendendo a continuidade da dinastia judaica em relação à instabilidade no Reino do Norte . Essa obra
teria sido unificada no Séc VII a.C com uma análise da história de Judá , desde Salomão até Manassés .
Haveria finalmente duas redações do livro , uma primeira de uma perspectiva sacerdotal logo após a
destruição de Jerusalém , e outra realizada por um discípulo de Jeremias em Masfa acrescentando as
histórias a respeito dos profetas e um julgamento da história de Israel baseado no livro de Deuteronômio .
intepretaram as suas fontes históricas conforme a sua posição teológica .
Nesse trabalho será adotado uma perspectiva conservadora moderada , que defende a
autoria por um contemporâneo de Jeremias e uma subsequente edição , possivelmente deuteronomista ,
mas que não mudou o conteúdo básico do livro .
2.1.1.2 Fontes Históricas
Uma das caracterísitcas importantes do livro de Reis é a citação das fontes históricas
utilizadas pelo autor . Em relação ao reinado de Ezequias e o cerco de Senaqueribe temos a seguinte
afirmação :
Ora, o restante dos atos de Ezequias, e todo o seu poder, e como fez a piscina e o aqueduto, e como fez vir a água para a cidade, porventura não estão escritos no livro das crônicas dos reis de Judá? (II Reis 20:20)
Portanto para o período que estamos analisando temos a utilização de pelo menos uma
fonte primária : um livro de corte contendo as ações dos diversos reis de Judá . Outra fonte primária
disponível ao autor de Reis teria sido o Livro do Profeta Isaías , apesar de não haver concordância entre
estudiosos sobre o estado da composição de Isaías na época da redação do Livro de Reis .
2.1.1.3 Valor Histórico
Visão Conservadora
Aceitando a inspiração e a autoridade do texto bíblico , historiadores conservadores
aceitam o Livro de Reis como uma fonte histórica fidedigna desse período . Isso não significa uma
aceitação ingênua do livro pois esses autores reconhecem que a historigrafia primitiva era de uma natureza
diferente da nossa e não exigia o mesmo rigor que é exigido modernamente . Todavia esses autores aceitam
os fatos e eventos narrados no livro como sendo verdadeiros .
Visão Liberal
A visão liberal é registrada por Sellin-Fohrer que afirma
"O valor histórico dos livros dos Reis se acha determinado pelo fato de que os seus redatores utilizaram-se de fontes históricas fidedignas , como também de tradições proféticas que têm um pano de fundo pelo menos parcialmente histórico . Embora com isto tenham sido conservadas preciosas notícias … uma parte ainda maior da revisão deuteronomista da história foi sacrificada e se perdeu de modo irrecuperável , juntamente com as antigas fontes históricas."
Em outras palavras o livro é fidedigno na medida em que apresenta as suas fontes de
maneira irretocada , quando entra uma suposta edição deuteronomista isso deve ser desprezado como fazem
autores como Donner . Todavia tal visão apresenta as seguintes limitações :
necessariamente acarretar num enfraquecimento do valor histórico de uma obra , especialmente se
observamos que sempre há uma perspectiva teológica nas obras dos próprios autores liberais .
(ii) Não existe evidência externa ao texto para a existência de uma escola deuteronomista para editar
o texto de II Reis e as evidências internas são contestadas por vários autores e mesmo aqueles que
concordam com a tese de uma edição deuteronomista não concordam sobre quais textos deveriam ser
rejeitados como consequência dessa edição .
Portanto nesse trabalho iremos aceitar a fidedignidade histórica do Livro de Reis mesmo
aceitando que ele , pela sua natureza antiga , não atende a todas as exigências da historiografia moderna .
2.1.2 O Livro de Crônicas
O livro de Crônicas é posterior ao exílio e para o período que estamos
investigando utilizou o Livro de Reis , e outras fontes . Como a narrativa da revolta de Ezequias no
capítulo 32 encontra-se numa forma resumida em relação ao livro de Reis a sua utilidade para nós como
fonte histórica para o episódio desse trabalho encontra-se reduzida . Naturalmente isso não afeta de
qualquer modo a inspiração desse livro .
2.1.3 O Livro de Isaías 36-37
Nessa seção do livro profético temos uma narrativa a respeito da revolta de
Ezequias . O valor dessa narrativa como fonte histórica está ligado à questão de sua autoria :
(i) Ellisen afirma que essas passagens forma escritas por Isaías , portanto constituíem uma fonte histórica
mais antiga que o livro de Reis e de valor imensurável .
(ii) Auneau defende que essas passagens foram compostas pelos discípulos de Isaías para tornar a obra de
seu mestre mais compreensível . Dessa forma essas passagens continuam sendo uma fonte mais antiga do
que o livro de Reis , e provavelmente tenham sido utilizadas pelo escritor dessa obra .
(iii) Smith defende que essas passagens são um apêndice histórico , mais novas do que o livro de Reis e
basicamente influenciadas por ele .
De qualquer modo esse trecho não pode ser descartado em qualquer analise do
episódio ocorrido .
Existem também profecias no Livro de Isaías que referem a esse período , esses
serão analisadas ao consideramos o papel de Isaías nesse episódio .
2.2 Fontes Extra-Bíblicas
Em relação às fontes extra-bíblicas as nossas principais fontes são :
Durante esse trabalho iremos , aonde necessário integrar e comparar esse
material com a narrativa bíblica .
3.0 O Império Assírio
O principal império do período que estamos estudando , o império Assírio é
muitas vezes um ilustre desconhecido pelos estudantes do Velho Testamento .
3.1 Localização
O nome Assíria no hebraico é ashsur e referia-se originalmente à cidade de
Assur , a mais antiga das cidades Assírias localizada na margem direita do rio Tigre . Posteriormente esse
termo veio a ser aplicado em relação ao distrito que cercava a cidade de Assur e a população que morava
nela . A despeito de não ter nenhuma proteção natural e estar localizadas entre as regiãos da Babilônia , do
Elão , da Média e de Urarutu a Assíria conseguiu durante um longo período manter a hegemonia na região .
3.2 História Antiga
As origens da Assíria são obscuras e nesse trabalho poderemos dar apenas algumas pinceladas :
2350 Provavelmente nesse período a Assíria estaria sobre o domínio acádico de Sargão de Acad.
2050-1950 A Assíria estava sobre o domínio dos reis de Ur .
1950-1830 Domínio dos reis de Isin e Larsa .
1830-1749 Período de independência
1749-1717 Domínio dos invasores amorreus liderados por Shamshi-Adad I
1717- ???? Amorreus derrotados por Hamurabi da Babilônia , a Assíria torna-se parte do império
Babilônico .
Século XVI Após conquistar a sua independência da Babilônia a Assíria é conquistado pelo império
Mittani . Depois do império Mittani cair sobre os heteus a Assíria conquista sua independência sobre a
direção de Eriba-Adad .
1363-1328 Reinado de Assur-Ubalit que fez da Babilônia um reino vassalo .
1305-1274 Adad-Nirari torna o império Assírio uma realidade conquistando , além da Babilônia ,
Harran e Carquemis .
1273-1244 Sobre Salmanasar I a Assíria expande e domina Urartu.
assassinado pelos seu filho Assurdinapli que não consegue manter a força da Assíria que torna-se um reino
vassalo da Babilônia .
Séculos XIII-XII Período obscuro em que todas as grandes potências sofrem com as invasões dos povos do
mar vindos do Mar Egeu e dos Balcãs .
3.3 Período Recente até a época de Ezequias
A Assíria foi a primeira das grandes potências a se re-erguer após a devastação
promovida pelos povos do mar .Sob Tiglate Pilaser I (1117-1077) a Assíria conseguiu conquistar
a Mesopotamia Superior , a Babilônia e alcançar as cidades da costa mediterrânea ,recebendo tributos de
Sidom , Biblos e Arvade . Todavia Pileser teve que enfrentar grandes combates contra os arameus e nos
reinados dos seus sucessores sugiram estados autônomos nos territórios dominados , inclusive na Babilônia.
Foi com Adadnarari II ( 912-891) que aquilo que os historiadores chamam do império
néo-assírio teve o seu início e com o seu sucessores Tuculti-Ninurta II (891-884) e Assurnasipal II ( 884-
858) a hegemonia assíria na região da Mesopotamia foi assegurada . Sob Salmaneser III ( 858-824) o
império Assírio penetrou , mesmo sem ser de forma permanente , na região da Síria Central sendo que até
mesmo o rei de Israel , Jéu , viu-se obrigado a pagar tributo a Salmaneser III .
Após um període de instabilidade foi sobre Tiglate Pileser III ( 745-727) que o império
Assírio penetra na região da Palestina , sendo que até mesmo Judá , sob Acaz , torna-se um estado vassalo .
Sob Salmaneser V ( 727-722) , Sargom II ( 722-705) e Senequeribe ( 705-681) todo o Oriente Próximo foi
unido sob o império Assírio . Salmaneser V e Sargom II foram responsáveis pela queda do Reino de Israel
e Senequeribe pelo ataque a Judá e a Jerusalem .
3.4 O Relacionamento do Império Assírio com os povos subjugados
Os assírios eram notórios pela crueldade com que tratavam os exércitos e povos
inimigos . Segundo Herbert Donner :
"As unidades de tropas assírias foram , durante séculos , o pavor dos povos do Oriente Antigo"
Essa visão é confirmada por Ellisen que em relação aos habitantes de Níneve
afirma :
"Viviam de saques e orgulhavam-se dos montes de cabeças humanas que traziam de violentas pilhagens de
outras cidades."
O tratamento dos povos subjugados pelo império Assírio , após Tiglate-Pileser
III , passava por três estágios :
e a eliminação da dinastia infiel e a instalação de uma dinastia pró-assíria . Poderia também
ocorrer reduções drásticas do território .
rebelde , o fim da autonomia política do estado , a deportação da elite nativa e a instalação de um
administrador nativo com um corpo necessário de funcionários . Também era praticado o
assentamento de povos estrangeiros na região .
3.5 Religião e Cultura
O deus nacional chamava-se Assur tendo o seu templo principal na cidade do
mesmo nome . O rei era considerado o regente de Assur e relatava as suas atividades a este . A religião
assíria era fortemente influenciada pela religião babilônica sendo que cada cidade teria uma divindade que
seria responsável pelos seus interesses .
Culturamente os assírios sempre se consideraram inferiores aos babilônios e por
esse motivo moldaram a sua cultura tendo como base a cultura babilônica . Isso refletia-se nas duas
linguagens usadas nos documentos encontrados desse período : a linguagem assíria semítica e o idioma
babilônico , sendo que as diferenças entre as duas eram principalmente dialéticas .
4.0 História do Reino de Judá antes do Reinado de Ezequias
Após o fracasso do benjamita Saul a monarquia unida teve os reinados
prósperos de Davi e Salomão , que aproveitaram o enfraquecimento dos grandes impérios da época para
extender as fronteiras do reino de Israel . Todavia no fim do reinado de Davi e no reinado de Salomão a
estrutura política do reinado passou cada vez mais a ser uma opressão do sul , Judá , sobre as tribos do
Norte . Com a morte de Salomão ocorre a divisão do reino unido , as tribos do Norte proclamam Jeroboão
rei , enquanto Judá e Benjamin continuam fiel ao filho de Salomão , Roboão .
Politicamente o reinado de Roboão ( 931-913)foi um desastre . Além de perder
as tribos do Norte ele também perdeu o poder sobre os reinos vassalos de Amon , Moabe e Edom . Judá
sofreu uma invasão do Faraó Shishak que invadiu Jerusalém levando o ouro do templo além de destruir o
porto importante de Ezion-Geber . Moralmente o declino foi o mesmo com a adoração de deuses
estrangeiros crescendo , incluindo a prostituição cultual do culto a Astarte .
O neto de Roboão , Asa (911-870) buscou reconstruir o reino de Judá . Ele
reprimiu todas as formas de idolatria , negando a sua mãe Maaca o status de rainha mãe por sua idolatria .
Sabiamente conseguiu evitar uma invasão de uma aliança entre a Síria e Israel subornando o rei de Síria
para mudar de lado .
Essa reconstrução foi continuada pelo filho de Asa , Jeosafá (870-848) que
perseguiu uma política de aproximação com a dinastia omrita do norte . Portanto quando Jeú praticou o seu
golpe no reino do Norte ele assassionou o rei Judaíta da época : Ahazias cuja mãe , Atalia ,
assumiu o poder e governou cruelmente tentando instalar o culto a Baal . Atalia foi derrubado num golpe
liderado pelo sacerdote Joiada que instalou o menino Joás como rei .
Tanto Joás quanto o seu filho Amazias morreram assassinados por militares
após derrotas em guerras para a Síria e para Israel respectivamente .
Maior estabilidade foi atingido nos eficientes reinos de Uzzias (781-742) e Jotão
(742-735) que re-estabeleceram a economia de Judá e as suas fronteiras conquistando Edom e cidades da
Filístia . Nisso eles foram favorecidos pelas invasões da Assíria na região da Síria que enfraqueceram um
tradicional inimigo do povo de Israel .
Todavia a situação mudou no reinado de Acaz (735-716), pai de Ezequias . No
início do seu reinado ele enfrentou uma aliança do rei de Israel , Peca com o rei de Damasco , Rezin , que
queriam derrubar-lo do poder para colocar outro rei em Judá que apoiaria uma aliança anti-assíria . O
conselho do profeta Isaías foi bem claro como indica Isaías 7:1-7
Sucedeu, pois, nos dias de Acaz, filho de Jotão, filho de Uzias, rei de Judá, que Rezim, rei da Síria, e Peca, filho de Remalias, rei de Israel, subiram a Jerusalém, para pelejarem contra ela, mas não a puderam conquistar. Quando deram aviso à casa de Davi, dizendo: A Síria fez aliança com Efraim; ficou agitado o coração de Acaz, e o coração do seu povo, como se agitam as árvores do bosque à força do vento.
Então disse o Senhor a Isaías: saí agora, tu e teu filho Sear-Jasube, ao encontro de Acaz, ao fim do aqueduto da piscina superior, na estrada do campo do lavandeiro, e dize-lhe: Acautela-te e aquieta-te; não temas, nem te desfaleça o coração por causa destes dois pedaços de tições fumegantes; por causa do ardor da ira de Rezim e da Síria, e do filho de Remalias. Porquanto a Síria maquinou o mal contra ti, com Efraim e com o filho de Remalias, dizendo: Subamos contra Judá, e amedrontemo-lo, e demos sobre ele, tomando-o para nós, e façamos reinar no meio dele o filho de Tabeel. Assim diz o Senhor Deus: Isto não subsistirá, nem tampouco acontecerá.
Infelizmente Acaz rejeitou esse conselho e pediu ajuda ao rei assírio Tiglate-Pileser III .Dessa maneira Judá
foi colocado no primeiro estágio de vassalagem , expresso no fato de um altar assírio ser colocado no
templo .
Durante o reinado de Acaz a idolatria proliferou no reino de Judá , sendo que o próprio
rei é acusado pelo historiador de Reis de ter queimado o seu próprio filho como sacrifício a Moloque .
Todavia um ponto positivo de Acaz foi que ele não rebelou contra a Assíria , pois tal atitude levou à
destruição do reino de Israel em 721 .
5.0 O Reinado de Ezequias até a revolta contra o império Assírio
Segundo o historiador de Reis , Ezequias:
fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera Davi, seu pai.
Durante o seu governo Ezequias promoveu uma política religiosa e nacionalista . Buscou re-estabelecer o
Iavismo como única religião em Judá e gradativamente tornar o país independente da Assíria . Tal política
culminou na desastrosa rebelião , condenada pelo profeta Isaías , contra Senaqueribe em 705 . As razões
que permitiram a Ezequias promover essa reforma foram as seguintes :
muito para o sentimento de reforma .
certeza ficaram desgostosos com a idolatria existente na nação . Fortalecidos pela mensagem
profética de que o reino do Norte teria sido destruído pela sua infidelidade a Iavé , tais grupos
apontariam a idolatria em Judá como causa de sua subjugação à Assíria .
Salmos 2 , que afirmava que Deus havia escolhido a dinastia de Davi para reinar eternamente em
Sião e que tal dinastia seria capaz de derrotar todos os seus inimigos .
salvar o povo de Israel.
enfrentar rebeliões na Babilônia , que conseguiu sua independência sobre Merodac-baladan por 12
anos , Carquemis , Uruartu e entre os príncipes medas . A ausência militar durante esse período
surgia como uma tentação para movimentos de independência .
fortalecimento do Egito esse país surgia como um aliado potencial para estados vassalos desejosos de independência .
6.0 Características da Reforma de Ezequias
6.1 Reforma Religiosa
Segundo o historiador de Reis , na sua reforma Ezequias :
Tirou os altos, quebrou as colunas, e deitou abaixo a Asera; e despedaçou a serpente de bronze que Moisés fizera (porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso), e chamou-lhe Neüstã.
Segundo os seguidores de Julius Wellhausen nós não devíamos dar muita
credibilidade à veracidade dessa reforma . Segundo Donner :
"É plausível suspeitar que os deuteronomistas tenham medido Ezequias por Josias e o transformado numa espécie de ‘pré reformador’"
Portanto para Donner muitos dos elementos da reforma de Josias foram
erroneamente atribuídos a Ezequias pelos redatores deuteronomistas do livro de Reis . Para Donner apenas
a tradição a respeito da serpente é genuína . Todavia tal posição tem as seguintes fraquezas
suas fontes escritas , dois fatores extremamente difíceis de serem comprovados .
numa época em que política e religião caminhavam juntos .
das duras críticas do profeta à política nacionalista do rei .
Portanto aceitando a genuidade da reforma de Ezequias percebemos que ela teve
três aspectos :
(i)Destruição dos altos . Esses eram os altares locais em que Iavé era adorado . Autores explicam a decisão
de Ezequias pelo aspecto religioso ou político . Para Douglas haviam dois tipos de altos , os altares
idólatras em que um culto sincrístico era praticado e os locais de adoração exclusiva a Iavé ,a decisão de
Ezequias estava baseado no fato de o Templo ser o único local legítimo de sacrifício . Beswick &
Chapman aceitam essa tese mas defendem que a dinastia davídica tinha outros interesses em centralisar o
culto em Jerusalém : deter o controle sobre os recursos econômicos envolvidos no culto em Jerusalém .
(ii)Destruição das colunas . Esses eram monumentos dedicados pelos cananeus às diversas deidades em
especial a Baal .
(iii)Deitou abaixo a Asera . Outras tradições referem ao "poste-idolo." Esse teria sido uma imagem de
madeira , representando a Deusa Asera , consorte de Baal , e que estava sendo venerado pelos judaítas .
(iv)Destruição da serpente de bronze que era venerada . Segundo o trecho bíblico e apoiado por estudiosos
conservadores ( e.g Mesquita) essa seria a serpente de bronze criada por Moisés e que havia sido
transformada em objeto de veneração . Tanto Douglas e o Comentário Bíblico Broadman enfatizam que
ocorre no trecho de Reis um trocadilho entre a palavra nahash ( serpente) e a palavra nehosheth (bronze) .
Ë incerto se o significado do texto era que a serpente recebera o nome cultual Nehushtan ou se Ezequias
desmistificou a serpente dizendo que ela era apenas Nehushtan i.é. bronze . Como seria de esperar Donner
adota uma posição diferente , defendendo que a serpente seria uma deidade dos jebuseus , antigos
moradores da cidade de Jerusalém e que esse teria sido "sofrivelmente javeisado" . Todavia a teoria de
Donner é insatisfatória pois ela não oferece nenhuma explicação sobre como um ídolo estrangeiro seria
atribuído a Moisés e nem quais os motivos para terem ocorrido tais fatos .
(v)Segundo o Livro de Crônicas a política religiosa de Ezequias envolvia também a restauração da
celebração da páscoa , apesar de muitos liberais considerarem esse fato como tendo ocorrido somente no
reino de Josias .
Portanto podemos perceber Ezequias buscando uma religião iavista purificada ,
sem nenhuma contaminação estrangeira .
6.2 Política Nacionalista
Como parte de sua tentativa de afirmar a independência de Judá Ezequias
aproveitou a ausência do exército assírio para tentar estender o poder de Judá .
Segundo o livro de Reis , Ezequias atacou os filisteus e os derrotou , cercando
até a poderosa cidade de Gaza. Segundo o livro de Crônicas Ezequias teria tentado involver os
remanescentes das tribos do Norte na sua celebração da páscoa , mas tal oferta foi rejeitada .
7.0 A Primeira Tentação para a revolta
Em 714 a Palestina vivia ares de revolução . O Egito , sob a liderança energética
do Faraó Etíope da vigésima-quinta dinastia , Piankhi, incentivava os vassalos assírios a se rebelarem . Esse
incentivo foi atendido pelos povos filisteus . Na cidade-reino de Asdode a população tirou o rei-vassalo do
poder e colocou no seu lugar um rei , definido por Bright como um "aventureiro estrangeiro", que
recusou a pagar tributo à Assiria .Outras cidades filisteus aderiram à revolta e Judá , Moabe e Edom foram
convidados .
Aparentemente em Judá a opinião estava dividida . Provavelmente havia um
partido pró-egípcio que buscava uma revolta contra a Assíria . Nesse momento perigoso quem salva a
nação é Isaías , provavelmente o maior estadista da história de Israel . Ele denúncia a loucura de qualquer
aliança anti-assíria .Quando Ezequias recebeu mensageiros do Faraó Isaías afirmou :
Ai da terra do roçar das asas, que está além dos rios da Etiópia; que envia embaixadores por mar em navios de junco sobre as águas
Tal era o desespero de Isaías que ele até andou nu durante um período de três
anos , desde o início da revolta até a sua supressão , para enfatizar a loucura de qualquer associação de
Judá com a revolta .
Ao analisarmos a atitude de Isaías devemos levar em consideração tanto a sua
sagacidade política quanto o lado teológico. Politicamente Isaías era um grande analista , e percebeu que o
Egito não tinha condições de resistir ao poder assírio . Teologicamente Isaías interpretava o domínio
assírio como consequência do pecado do povo de Israel . Como essa dominação era da vontade de Iavé ,
Judá deveria esperar em Iavé a sua libertação , qualquer política de aliança seria na realidade uma forma de
idolatria , a rejeição de Iavé por um outro poder .
Aparentemente dessa vez a visão de Isaías prevaleceu . Quando Sargão II desceu
irado sobre os povos revoltosos Judá foi poupado . Asdode foi duramente derrotado e transformado numa
província assíria , i.é levado ao terceiro estágio de vassalagem .A ajuda egípcia nunca apareceu , de fato
quando o rei de Asdode buscou refúgio no Egito o Faraó o entregou nas mãos dos assírios .
Portanto Isaías permitiu a salvação do reino de Judá . Todavia uma das grandes
lições da história é que dificelmente os homens aprendem as lições que a história tem para dar . Dias
sombrios estavam esperando Ezequias e o seu povo .
8.0 Ezequias se revolta
Infelizmente em 705 a tentação para a revolta tornou-se grande demais para
Ezequias . Sargõm II morrera ao tentar suprimir uma revolta em Tabal e foi enterrado longe da sua terra .
Muitos julgaram oportuno esse momento para tentarem derrubarem o domínio Assírio . Na Babilônia
Merodaque-Baladã revoltou-se contra os assírios e se estabeleceu como rei com apoio Elamita em 703
durando meses no poder antes de ser derrubado por Senaqueribe . Provavelmente a passagem de 2 Reis
20:12-19 deve ser situado nesse contexto , na qual Merodaque-Baladã estaria buscando o apoio de
Ezequias numa aliança contra a Assíria . Deste modo as palavras de Isaías no versículos 17-18:
Eis que vêm dias em que será levado para a Babilônia tudo quanto houver em minha casa, bem como o que os teus pais entesouraram até o dia de hoje; não ficará coisa alguma, diz o Senhor.E até mesmo alguns de teus filhos, que procederem de ti, e que tu gerares, levarão; e eles serão eunucos no paço do rei de Babilônia.
Devem ser interpretadas como parte do alerta de Isaías contra qualquer aliança com os babilônios .
Todavia dessa vez Ezequias não resistiu e dessa vez juntou-se a uma coalizão
anti-assíria da qual participaram o rei de Tiro , várias cidades Fenícias e os reinos de Askelon e Ekron .
Novamente havia a esperança de ajuda egípcia sob o energético faraó etíope Shabaca . Novamente Isaías
clama contra a loucura de tal revolta , afirmando que ao procurar a ajuda dos egípcios o povo de Judá
estava pecando e que o Egito seria incapaz de salvar a nação de Judá :
Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, que tomam conselho, mas não de mim; e que fazem aliança, mas não pelo meu espírito, para acrescentarem pecado a pecado; que se põem a caminho para descer ao Egito, sem pedirem o meu conselho; para se fortificarem com a força de Faraó, e para confiarem na sombra do Egito!
Portanto, a força de Faraó se vos tornará em vergonha, e a confiança na sombra do Egito em confusão.
Pois embora os seus oficiais estejam em Zoã, e os seus embaixadores cheguem a Hanes, eles se envergonharão de um povo que de nada lhes servirá, nem de ajuda, nem de proveito, porém de vergonha como também de opróbrio.
Oráculo contra a Besta do Sul. Através da terra de aflição e de angústia, de onde vem a leoa e o leão, o basilisco, a áspide e a serpente voadora, levam às costas de jumentinhos as suas riquezas, e sobre as corcovas de camelos os seus tesouros, a um povo que de nada lhes aproveitará.
Pois o Egito os ajuda em vão, e para nenhum fim; pelo que lhe tenho chamado Raabe que não se move.
Porém dessa vez os conselhos de Isaías foram dados em vão , pois Ezequias não
só participou da revolta como também tornou-se um dos principais líderes da revolta . Esse fato é
compravado pela afirmação de Senequeribe de que quando o rei Padi de Ekron recusou a participar da
revolta "Os governadores , os nobres , e os habitantes" o depuseram e o entregaram a Ezequias para o
manter prisioneiro em Jerusalém .
Desse modo Ezequias começou a se preparar para a reação assíria . Ele
fortificou as suas defesas e construiu o famoso túnel de Siloé que traziam as àguas da fonte de Gihon para
dentro das muralhas de Jerusalém . A revolta aberta foi declarada quando Ezequias reteve o tributo que
devia a Senaqueribe .
A ira de Senaqueribe não demorou para descer sobre os revoltosos .
Primeiramente ele desceu sob Tiro , cujo rei foi obrigado a fugir para Chipre , e colocou um rei que fosse
fiel a ele . Com isso os reis de Byblos , Arvade , Asdode , Moabe , Edom e Ammon apressaram-se para
entregar tributo a Senequeribe.
A veracidade dos avisos de Isaías sobre a inutilidade de apelar ao Egito foram
confirmados quando um exército egípcio foi derrotado próximo de Ekrom . A partir disso ele passou a
conquistar Ekrom e outras cidades revoltosas .
Quanto a Judá e Ezequias , Senequeribe mesmo narra :
"sitiei e conquistei 46 cidades que lhe pertenciam ...fiz sair delas e contei como despojo 200.150 pessoas
quanto a ele , encerrei-o em Jerusalém , sua cidade real como um pássaro numa gaiola …cortei do seu país as cidades pelas quais havia incursionado e as dei a Mitini , rei de Asdode , a Padi rei de Ekrom , e a Cilbel , rei de Gaza."
Tal situação é confirmada por Isaías , que afirma :
O vosso país está assolado; as vossas cidades abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença, e está devastada, como por uma pilhagem de estrangeiros. E a filha de Sião é deixada como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal, como cidade sitiada. Se o Senhor dos exércitos não nos deixara alguns sobreviventes, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra.
A situação de Ezequias estava desesperadora . Sem aliados e sem saída ele foi
aconselhado pelo próprio profeta Isaías a se entregar conforme Isaías 1:5
Por que seríeis ainda castigados, que persistis na rebeldia?
O conselho de Isaías foi seguido e Ezequias buscou ter paz com Senaqueribe
enquanto esse sitiava o forte de Laquis .Todavia os termos exigidos pelo rei Assírio foram pesados ,
segundo o texto bíblico Senaqueribe exigiu dez mil quilos de prata e mil quilos de ouro .Senaqueribe
afirma ter recebido além do tributo as concubinas de Ezequias e cantores ou cantoras . Porém como
argumentam Beswick & Chapman é bem provável que Senaqueribe estivesse exagerando .
Até agora a nossa análise tem se dedicado à area de consenso histórico , com a
exceção de detalhes pequenos , porém precisaremos adentrar num assunto mais polêmico : o que aconteceu
com a cidade de Jerusalém . E para isso precisaremos dedicar um capítulo separado .
9.0 O Destino da cidade de Jerusalém
Segundo o trecho bíblico :
Foi nesse tempo que Ezequias, rei de Judá, cortou das portas do templo do Senhor, e dos umbrais, o ouro de que ele mesmo os cobrira, e o deu ao rei da Assíria. Contudo este enviou de Laquis Tartã, Rabe-Sáris e Rabsaqué, com um grande exército, ao rei Ezequias, a Jerusalém; e subiram, e vieram a Jerusalém. E, tendo chegado, pararam ao pé do aqueduto da piscina superior, que está junto ao caminho do campo do lavandeiro.
Todavia esse exército não teve sucesso porque conforme profetizado por Isaías
Deus salvou a cidade de uma forma miraculosa pois :
Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles: e, levantando-se os assírios pela manhã cedo, eis que aqueles eram todos cadáveres.
O texto bíblico narra como então Senaqueribe voltou para Nínive e nunca mais
voltou para importunar Judá até o dia de seu assassinato na mão de dois filhos seus . Todavia a
interpretação desse texto tem sido dividido em três correntes principais .
Tal é a posição adotada por Gottwald que afirma que tal história é a consequência de um :
"esforço feito posteriormente , mas com efeito retroativo para entender o que era uma política assíria lógica de severidade e clemência combinadas para um estado vassalo palestinense …"
Porém tal visão é insustentável pelas seguintes razões
salvação miraculosa de Jerusalém . Como acontece muitas vezes nas análises feitas por liberais eles não
conseguem mostrar o mecanismo pela qual uma suposa origem de uma lenda resulta na formação dessa
lenda .
países revoltosos do primeiro estágio de vassalagem para o segundo , como aconteceu no caso do rei de
Tiro .O fato de Senaqueribe ter reduzido o território de Ezequias sugere que ele intencionava tomar essa
medida .
com a qual o profeta Jeremias teve que contender, e que ela o conceito teológico que dominava a época de
Jeremias . Lemos em Jeremias 7:4 o seu alerta :
Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor são estes.
Na época de Jeremias havia profetas afirmando que a cidade seria salva pela presença do templo na
cidade . A força de tal teologia estava no fato dela se apoiar num evento histórico do povo de Judá , a
libertação da cidade de Jerusalém na época de Ezequias e o papel de Isaías nessa história . Dizer que a
teologia toda se baseiava numa lenda sobre algo acontecido a menos de 150 anos é demonstrar um
ceticismo exagerado perante as fontes bíblicas , e completamente inadequado do ponto de vista histórico .
sido preservados por sua comunidade de discípulos . Por qual razão os discípulos teriam preservados
oráculos errôneos de Isaías ?
(ii) O ataque a Jerusalém ocorreu como um ato traiçoeiro de Senaqueribe .
Essa é a teoria preferida por comentaristas conservadores . Nessa visão segue-se o relato
bíblico na sua sequência mais lógica . Depois de ter recebido tributo de Ezequias Senaqueribe decide
destruir a monarquia davida , e provavelmente o reino de Judá . Manda o seu exército sob o comando de
três oficiais : Laquis Tartã , Rabe-Sáris e Rabsaqué,sendo que esse último se destaca pelo seu discurso à
porta da cidade de Jerusalém , buscando convencer o povo a abandonar o Rei Ezequias e se entregar ao rei
da Assíria , pois o Deus de Judá seria incapaz de salvar a sua cidade .
Nesse momento de desespero Ezequias apela desasperadamente a Isaías , que
supreendentemente , considerando a sua atitude anterior , afirma que esse não precisa temer os Assírios
porque Deus mesmo protegeria a cidade , o que aconteceu com a intervenção miraculosa do anjo do
Senhor.
(iii) O ataque de Senaqueribe a Jerusalém ocorreu , separada da campanha na qual Ezequias pagara tributo.
Algums estudiosos como Albright e Bright , convencidos da veracidade do livramento
de Jerusalém não acreditam que esse possa ter acontecido na mesma campanha que resultou no pagamento
de tributo . Entre as razões usadas para defender essa tese estão as seguintes :
anos de idade em 701 .
Senaqueribe
receber ajuda egípcia sendo que já no início de sua campanha de 701 Senaqueribe havia derrotado os
egípcios .
-Guardou-se uma profecia de Isaías afirmando que Senaqueribe não chegaria à cidade de Jerusalém e nem a
atacaria . Todavia nos seus anais Senaqueribe afirma ter sitiado Jerusalém em 701 e obrigado Ezequias a
se render .
apenas em 681 .
de sua obra , quando ele considera que a Assíria já ultrapassou os limites dados por Deus , na sua crueldade
e violência e portanto seria condenado por Deus .
Na reconstrução feita por Bright Senaqueribe teria voltado a sua terra após
receber o tributo de Ezequias e reduzir o seu território . Todavia em 691 após uma derrota de Senaqueribe
frente a uma aliança anti-assíria liderada pelos babilônios e elamitas e com o surgimento do energético
Tiraca no Egito Ezequias teria revoltado se novamente buscando recuperar o território perdido .
Porém em 689 Senaqueribe derrotou os seus inimigos e em 688 começou uma
marcha vitoriosa sobre Judá . Por enfrentar a ameaça de um exército liderado por Tiraca ele manda
Rabsaqué para tentar intimidar Ezequias a se render o mais rápido possível . Porém Ezequias , apoiado pelo
ancião Isaías , prefere morrer defendendo Jerusalém , do que entregar a nação ao terceiro estágio de
vassalagem. Senaqueribe teria derrotado Tiraca mas misteriosamente voltado a sua terra sem atacar
Jerusalém .
Jerusalém estava segura mas Judá não estava livre . O fato de Senaqueribe não
marchar novamente sobre a nação é explicada pela morte de Ezequias no ano seguinte e o fato de seu filho
Manassés desistir de qualquer rebelião e permanecer como um vassalo fiel da Assíria .
Devemos considerar tal teoria como um meio genial para tentar superar as
dificuldades do texto bíblico .Ela tem atraído o apoio até mesmo de autores conservadores como Samuel
Shultz.Porém , na ausência de qualquer comprovação histórica mais forte ela nunca
deixará de ser apenas uma teoria , defendida por uma minoria reputável de estudiosos .
10.0 O Livramento Miraculoso da Cidade de Jerusalém
Alguns argumentam contra o livramento miraculoso de Jerusalém alegando não
haver nenhum registro nos anais assírios a respeito disso . Em resposta deve ser dito que os anais assírios
eram anais oficiais , e os reis assírios , como são a maioria dos políticos , eram reticentes em falar das suas
derrotas .
Dentro da tradiçào bíblica duas são as explicações para o livramento de
Jerusalém . Em II Reis 19:7 lemos o profeta Isaías afirmar :
Eis que meterei nele um espírito, e ele ouvirá uma nova, e voltará para a sua terra; e à espada o farei cair na sua terra.
Nesse caso Senaqueribe voltou para conter uma revolta em outra parte do seu
território . Porém II Reis 19:35 afirma que :
Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles: e, levantando-se os assírios pela manhã cedo, eis que aqueles eram todos cadáveres.
Portanto Jerusalém teria sido livrado por uma interferência miraculosa do anjo
do Senhor levando a morte de 185,000 soldados assírios .
Naturalmente não existe contradição entre as duas tradições , e provavelmente
Senaqueribe tenha voltado a sua terra devido a morte de seus soldados e ameaças mais sérias do que
Ezequias em outras partes .
Alguns tem tentado explicar a morte dos soldados de Senaqueribe alegando que
eles teriam sido contaminados por algum tipo de peste durante o cerco de Laquis , possivelmente pela
presença de ratos . Porém não temos como comprovar tais idéias e a narrativa bíblica é contundente em
afirmar que a salvação do povo veio por interferência direta de Deus .
11.0 Consequências da Revolta de Ezequias
Foram as seguintes as consequências da revolta de Ezequias :
Segundo Donner Ezequias foi reduzido a ser rei sobre a cidade-estado de Jerusalém enquanto que o resto
do território foi dado aos seus inimigos . Todavia nem Senaqueribe é tão radical nos seus comentários
afirmando que ele tirou de Ezequias as cidades que ele havia "incursionado" , sem fazer menção de reduzir
o território de Ezequias a Jerusalém e adjacências .
de Ezequias que segundo II Crônicas 33:10-13 foi deportado durante algum tempo à Babilônia . Douglas
sugere que isso pode ser consequência de sua adesão a uma revolta liderada por Shamasi-shum-ukin,vice-rei da Babilônia . Todavia no texto não existe nenhuma menção explícita a revolta , e o fato de
Manassés ter voltado a ser rei novamente de Judá sugere que a invasão assíria tenha ocorrida por outra
razão . De qualquer modo em termos gerais até a queda do império assírio os reis de Judá evitaram seguir o
exemplo de Ezequias .
principal é o profeta de Isaías . Seria necessário outra monografia para analisar profundamente o papel de
Isaías nesse processo mas ele transparece como estadista mais sábio do que Ezequias . Ele mostra uma
sintonia com a vontade de Deus que não foi compreendido pelos seus contemporâneos e tão pouco é
compreendido por historiadores mais céticos . As suas profecias a respeito da preservação de Jerusalém
autentificaram a sua mensagem para a posterioridade .
Senhor.De fato Isaías não afirma que Deus salvará a cidade por causa do templo mas por :
por amor de mim e por amor do meu servo Davi.
Porém o templo era visto como símbolo da presença de Deus na cidade e portanto podemos
visualizar como na mentalidade do povo o templo passou a representar o fato de que a cidade de
Jerusalém jamais poderia ser conquistada pelos seus inimigos . Ë contra essa teologia que Jeremias teria
que contender , numa grande ironia , um profeta é buscado a lutar contra uma distorção da teologia de outro
profeta . Outro contemporâneo de Jeremias , Ezequiel , explica a queda de Jerusalém afirmando que a
glória de Deus deixará a cidade devido a imoralidade e a idolatria dos seus moradores .
12.0 Conclusão
Para concluir essa monografia , gostaríamos de indicar três lições que
podem ser tirados do episódio da revolta de Ezequias .
Mesmo havendo um profundo respeito entre Isaías e Ezequias vemos
Um forte conflito entre os dois . Ezequias crê ser necessário revoltar-se contra a Assíria , provavelmente
acreditando que Deus o ajudará .Isaías intepreta a mesma situação como uma loucura , um atentado contra
a soberania de Deus . Ezequias por ser rei impôs a sua visão , mas viu-se na última hora completamente
dependente das palavras de Isaías a respeito do destino da cidade de Jerusalém .
Muitas vezes como cristãos nos vemos tentatados a adequar a nossa
mensagem para atender a vontade dos ricos , comprometer a nossa mensagem com os poderosos . A
Teologia da Prosperidade surge como uma maneira de justificar os privilégios de alguns nas igrejas
enquanto outros passam dificuldades , uma forma de aliviar a consciência de evangélicos que não tem sido
cristãos em sua ética .
Nós porém devemos manter a nossa fidelidade à palavra de Deus .
Devemos preservar a soberania de Deus na nossa forma de interpretar tanto a palavra quanto a realidade .
Nesse episódio Isaías supreende pelas suas posições . Quando
esperamos que ele apoie um rei fiel a Deus contra o poder pagão da Assíra ele denuncia qualquer revolta
como rebeldia perante a vontade de Deus . Quando esperamos que Isaías abandone Ezequias por
continuamente ter ignorado as suas palavras , Isaías afirma que Deus protegerá Jerusalém dos assírios .
Percebemos que Isaías não tinha uma mensagem padrão para cada situação , mas estava atento para a
vontade de Deus em cada situação .
Da mesma maneira nós não devemos manter uma mensagem padrão ,
mas devemos , guardando a fidelidade à palavra de Deus , oramos e estarmos atento à vontade de Deus em
aplicar a sua mensagem da maneira apropriada em cada situação .
Não há porque duvidarmos da genuidade da fé de Ezequias em Deus ,
conforme expressa na sua reforma religiosa . Porém em uma àrea de sua vida ele não quis submeter-se à
palavra de Deus transmitida pelo seu profeta Isaías : a sua política internacional , e desse modo foi levado à
beira da ruína .
Do mesmo modo muitas vezes enfrentamos dificuldades nas nossas
vidas pois não submetemos cada àrea da nossa vida a Deus . Que desse trabalho possamos tirar a lição de
colocarmos as nossas vidas integralmente nas mãos de Deus .
13.0 Bibliografia
AUNEAU, J. Os profetas e os livros proféticos Edições Paulinas , 1992.
DONNER , Herbert História de Israel e dos povos vizinhos Volume II Editoras Sinodal e Vozes , 1997.
UNGER , Merril Arqueologia do Antigo Testamento Imprensa Batista Regular , 1989 .
HOFF , Paul Os Livros Históricos Editora Vida , 1996 .
ELLISEN , Stanley A . Conheça Melhor o Antigo Testamento Editora Vida , 1991
VV.AA Israel e Judá Textos do Antigo Oriente Médio Edições Paulinas , 1985
DOUGLAS , J.D. O Novo Dicionário da Bíblia Edição em 1 Volume Editora Vida Nova , 1996
BESWICK , Francis & CHAPMAN , Judith Religious Studies : Old Testament Rapid Results College , 1994 .
MACKENZIE , John O Novo Dicionário da Bíblia Edições Paulinas .
MESQUITA , Antônio Neves de Estudo nos Livros dos Reis . JUERP , 1983 .
DOWLEY , Tim Atlas Vida Nova da Bíblia e da História do Cristianismo Editora Vida Nova , 1997.
GOTTWALD , Norman K Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica Edições Paulinas , 1988.
SELLIN , E & FOHRER , G Introdução ao Antigo Testamento Volume 1 Edições Paulinas , 1977.
SCHULTZ, Samuel A História de Israel no Antigo Testamento Editora Vida Nova 1977
ARCHER JR, Gleason Mereçe Confiança o Antigo Testamento ?4 ed Editora Vida Nova 1986
ALLER , Clifton J Comentário Bíblico Broadman Volume 3 JUERP , 1986.
SMITH , George The Book of the Prophet Isaiah Volume 2 Hodder & Stoughton , 1969