Veio Ver VERÍSSIMO ?
Colaborações
Ninguém jamais ficou sabendo o que, exatamente, o Ramão
fez para a mulher, mas um dia ela começou a colecionar
caixinhas. Nunca fora de colecionar nada e, de repente, começou
a juntar caixas, caixetas, potezinhos, estojos. Em pouco tempo,
tinha uma coleção considerável. O próprio
Ramão se interessou. Dizia:
- Mostre a sua coleção de caixas, Santinha.
E a Santinha mostrava para as visitas a sua coleção
de caixas.
- Que beleza!
As caixas, caixinhas, caixetas, potes, potezinhos, estojos, baús
cobriam algumas mesas e várias estantes. Era realmente
uma beleza. Mas, estranhamente, a Santinha era a que menos se
entusiasmava com a própria coleção. Os outros
a admiravam, ela não dizia nada. Ou então fornecia
alguma informação lacônica.
- Essa é chinesa.
Ou:
- É pedra-sabão.
Ninguém mais tinha problemas sobre o que dar para a Santinha
no seu aniversário ou no Natal. Caixas. E as amigas competiam,
cada uma querendo descobrir uma caixa mais exótica para
a coleção de Santinha. Uma caixinha tão pequenininha
que só cabia uma ervilha. Um baú laqueado que, supostamente,
pertencera ao Conde D'Eu. Etc, etc. O Ramão também
contribuía. Quando saía em uma de suas viagens,
nunca deixava de trazer uma caixinha para a Santinha. Que a Santinha
aceitava, sem dizer uma palavra, e acrescentava à sua coleção.
E a coleção já cobria a casa inteira.
Quando a polícia, alertada pelos vizinhos, entrou na casa,
viu o sangue, viu a Santinha sentada numa cadeira, muda, folheando
a Amiga, mas não viu o Ramão. Só o viu quando
começou a abrir as caixinhas. Havia um pouco do Ramão
em cada caixinha. Até na que só cabia uma ervilha
tinha um ossinho. Um fêmur estava no baú do Conde.
E a Jacira ficou escandalizada quando soube que a cabeça
do Ramão foi encontrada numa caixa de chapéu antiga
que ela tinha trazido para a Santinha de Paris. Veja só,
de Paris!
Ninguém desculpou a Santinha, mas o consenso geral era
de que alguma o Ramão tinha feito.
Colaborou Alexandre Dias - Brasília