Veio Ver VERÍSSIMO ?


Fragmento...

Entrando em campo

(Publicado no Jornal ZERO HORA em 19/04/1969)

Pues vamos nós. Luís com "esse", Fernando dos Verissimo de Portugal e Cruz Alta. Admirador do Internacional em geral e do Ivo Correia Pires em particular, pró-Bráulio no time, mas aberto ao diálogo. Credenciais, muito poucas. Sei que estou entrando em campo para substituir um astro que vamos suar a camiseta tentarei corresponder futebol é assim mesmo e no fim das contas, que diabo, são onze contra onze. Um consolo você tem: a coluna não caiu na mão de um inimigo. Estou dando um gol para domingo, jantar pago no Floresta Negra.
O Sérgio preto substituiu Bráulio com vantagem, eu substituo o Sérgio branco com vontade e só espero que o futuro seja para o meu jogo como a defesa do Penharol em dia de bobeira. O Sérgio branco é senhor dos "rushes" estilísticos, taquinhos verbais, parábolas por elevação e sentenças em curva. Eu me limitarei a um vaivém funcional e pessoal, trocando idéias com pouca profundidade e menos objetividade. E se algum dia eu começar a dar balõezinhos na beira da área será por falta de assunto. Uma coisa Sérgio branco e eu temos em comum: você, leitor, nosso atento Claudiomiro - branco ou preto, colorado ou não - para as tabelinhas de todos os dias.
O desafio aí de cima é serio, estou apostando, mas se você notou um tremor nas entrelinhas, não o atribua à emoção do momento. Ele vem da constatação, que todo o colorado consciente traz há dias camuflada, na sua confiança de que existe uma assustadora diferença entre o Grêmio que acabou com o míto húngaro e os 11 orientales patetas que nos alegraram o domingo. Moral por moral, estamos empate.
Se é verdade que o estádio e a festa são nossos, não é menos verdade que estragar a nossa festa vale quase um estádio novo para eles. E de par com a constatação de que, em síntese, não vai ser mole não, vem outro temor oculto, que eu ouso trazer à tona para o nosso horror e ponderação. Chega mais perto e vê se não é de dar frio na pleura: nós vamos de peito aberto, num deslavado e suicida quatro-dois-quatro, contra um time cautelosamente defensivo, como todos do Sérgio deles.
Certo, certo, faz-se a sanfona, Pontes vale por dois, todos sobem e todos descem, etc, etc. Mas eu ainda tremo e garanto que o Sérgio branco também está tremendo. Nossa esperança é que o Sérgio preto nos devolva a calma, se possível, no primeiro minuto.

LFV

nota do editor: Esta é a primeira crônica de LFV publicada em jornal. O texto foi reproduzido na edição de 1984 do Almanaque do Tchê. Os trechos a seguir também constam dessa publicação:
"1969. No dia 19 de abril estréia na imprensa aquele que, pouco tempo depois, seria um de seus maiores cronistas. Substituindo Sérgio Jockymann na Zero Hora, Luís Fernando Verissimo escreveu a crônica aí em baixo. O assunto é o Gre-Nal da inauguração do estádio Beira-Rio que, por sinal, acabou em pancadaria e vencido pelo Grêmio. A reprodução da matéria é digna deste Almanaque"
Fim da crônica. Algumas explicações:

Sérgio preto: jogador do Inter também conhecido como Sérgio Galocha. Há alguns anos, infelizmente, teve que amputar o pé em razão de diabetes.
Sérgio branco: Sérgio Jockymann, a quem Verissimo estava substituindo.
Pró-Bráulio no time: o técnico Daltro Menezes teimava em não deixar o meio-de-campo Bráulio como titular, contrariando o desejo da torcida.
Em tempo: que eu lembre, o Grêmio não venceu esse jogo, ao contrário do que diz a editoria do Tchê. O jogo estava zero a zero quando começou a pancadaria que resultou na expulsão de quase todos (acho que só se salvaram Dorinho e Joãozinho Severiano).

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